07/05/2008

Poluição Atmosférica e Saúde Pública

Já se falou neste blog sobre o impacto da poluição atmosférica na saúde pública.

Concretamente em relação aos efeitos da poluição atmosférica na saúde e desenvolvimento das crianças, o que é que a Organização Mundial de Saúde (OMS) dá por provado?

Traduzi e adaptei (meus sublinhados) o resumo de um relatório da HEN – Health Evidence Network, uma rede da OMS.

O objectivo não é alarmar. Trata-se apenas de saber com o que contamos, e de poder pesar em toda a sua amplitude os custos do tráfego automóvel.


«O problema

O actual nível de poluição atmosférica na Europa afecta adversamente a saúde das crianças. Nas últimas décadas, estudos conduzidos em todo o mundo têm vindo a aumentar significativamente o conhecimento e a compreensão destes efeitos. (…)

A análise das provas acumuladas considera os efeitos da poluição atmosférica numa série de áreas, nomeadamente na saúde e desenvolvimento das crianças durante o período pré-natal, no desenvolvimento do sistema respiratório e da função pulmonar (…) e na incidência de cancro na infância, sintetizando, também, o actual conhecimento sobre as ligações entre a poluição atmosférica e os efeitos ao nível do desenvolvimento neurológico e do comportamento. (…)

O que está descoberto e assente

Vários períodos de vulnerabilidade caracterizam as crianças.

Os períodos intra-uterino, perinatal e primeira infância, durante os quais os pulmões se estão a desenvolver e a maturar, são tempos de grande vulnerabilidade, em que os pulmões podem ser danificados pelos poluentes atmosféricos.

A exposição a esses poluentes durante estes períodos reduz a capacidade funcional máxima atingível na idade adulta e pode levar, nessa idade, a uma maior susceptibilidade a infecções e aos efeitos de poluentes como o fumo do tabaco e outros que sejam característicos da ocupação profissional.

Crianças com doenças pulmonares crónicas, particularmente a asma e a fibrose cística, são especialmente vulneráveis. Essas crianças correm maior risco do que as crianças saudáveis de sofrer os efeitos adversos da poluição atmosférica.

Também as crianças sujeitas a maiores exposições em espaços interiores – por exemplo, ao fumo do tabaco ou de equipamentos de cozinha ou aquecimento com manutenção defeituosa – correm maior risco de ser afectadas pelos poluentes nos espaços exteriores.

Efeitos para os quais existem provas suficientes para inferir causalidade

Existem agora provas fundamentais sobre os efeitos adversos da poluição atmosférica na gravidez e na saúde infantil. As provas demonstram que a poluição atmosférica, em concentrações típicas de muitas cidades europeias, aumenta o risco de morte por causas respiratórias no período pós-neonatal.

As provas também demonstram uma relação entre exposição a poluentes atmosféricos e efeitos no desenvolvimento da função pulmonar. Estão associados à exposição à poluição atmosférica défices reversíveis na função pulmonar, taxas de crescimento pulmonar cronicamente reduzidas e níveis reduzidos de função pulmonar.

As provas demonstram relações mais claras com as partículas e os gases relacionados com o tráfego automóvel do que com outros poluentes.

Com base no conhecimento actual, os poluentes atmosféricos parecem interagir com outros factores ambientais, como os alergénicos, os vírus e a dieta, que influenciam o impacto global dos poluentes atmosféricos na saúde das crianças.

O relatório conclui que existe uma relação causal entre a exposição aos poluentes atmosféricos e o agravamento da asma. As provas são também suficientes para assumir uma relação causal entre a exposição a partículas e um acréscimo da prevalência e incidência de tosse e bronquite.

Em particular, contaminantes ambientais como certos metais pesados e poluentes orgânicos persistentes mostram significativos efeitos adversos no desenvolvimento do sistema nervoso e do comportamento nas crianças. Também existem suficientes provas de uma relação causal entre a exposição ao chumbo e défices neurocomportamentais nas crianças, em termos de limitação cognitiva.

Efeitos para os quais os resultados sugerem causalidade

Estudos sobre o peso à nascença, partos prematuros e atraso no desenvolvimento intra-uterino também sugerem uma ligação à poluição atmosférica, mas estes estudos ainda não são suficientes para tirar conclusões firmes sobre a causalidade das associações observadas.

Embora se tenham encontrado poucas provas de uma ligação causal entre a prevalência e incidência de asma e a poluição atmosférica em geral, estudos recentes sugerem que os poluentes podem acentuar a sensibilidade alérgica naqueles geralmente em risco, conferindo plausibilidade ao papel dos efeitos potencialmente danosos dos poluentes atmosféricos na causa de doenças pulmonares pediátricas, incluindo a asma. Os mecanismos sugeridos para esses efeitos precisam de ser mais estudados.

Um conjunto significativo de provas suporta o entendimento de que muita da morbilidade e mortalidade relacionada com a poluição atmosférica nas crianças ocorre através das interacções com infecções respiratórias bastante comuns entre as crianças.

As provas também sugerem uma relação causal entre a exposição à poluição atmosférica ambiente e uma maior incidência de sintomas respiratórios superiores e inferiores – sendo que muitos deles também são indicativos de infecções.

Existem também provas que sugerem uma ligação causal entre efeitos adversos ao nível da saúde e a exposição a mercúrio e dioxinas (entre outros) nos níveis actuais de exposição.

Uma exposição mais reduzida à poluição atmosférica parece melhorar a saúde das crianças. Para já, contudo, houve relativamente poucos estudos a analisar os efeitos de uma poluição atmosférica reduzida. Não obstante, estudos existentes demonstram que uma menor exposição a poluentes atmosféricos pode levar a uma redução nas admissões hospitalares devidas a queixas respiratórias, uma prevalência mais baixa de bronquite e infecções respiratórias, e a uma melhoria nas taxas de crescimento da função pulmonar.

Efeitos para os quais as provas são insuficientes

As provas epidemiológicas acumuladas são insuficientes para inferir uma ligação causal entre o cancro na infância e os níveis de poluição atmosférica tipicamente encontrados na Europa. Contudo, o número de estudos disponíveis é limitado, e os seus resultados são apenas parcialmente consistentes.

Considerações ao nível das políticas

É recomendada uma redução da exposição das crianças aos poluentes atmosféricos, especialmente aos que são emitidos pelos tubos de escape dos veículos a motor. Uma redução nessas emissões beneficiaria substancialmente a saúde respiratória das crianças.

É necessária mais pesquisa no campo da qualidade do ar para clarificar o efeito de poluentes atmosféricos específicos na saúde das crianças, bem como na interacção entre estes poluentes e outros insultos ambientais.»

4 comentários:

Anónimo disse...

Interessante e bem traduzido estudo que alerta de uma forma objectiva para os perigos decorrentes das consequências do uso do automóvel nas crianças.

Curiosamente, no entanto, não fala de outro impacto negativo muito pernicioso sobre a saúde pública produzido pelos automóveis: a redução da mobilidade física por progressiva atrofia de todos os grupos musculares do corpo humano, com especial incidência nos das pernas. Ou, dito de forma simples, desde tenra idade as crianças não andam a pé, nem sequer em deslocações curtas.

Anónimo disse...

como vai ser c os miudos d Chelas e Olivais qdo a nova ponte lá descarregar 66.000 carros/dia, de manha a entrar e à tarde a sair? e como vai ser qdo o Barreiro engordar c + gente e o numero de carros tambem?

Anónimo disse...

Santo Amaro,Bahia, Brasil, minha cidade, considerada a mais poluída do mundo por metais pesados.
Muitas pessoas expostas ao chumbo, cádmio, cobre e zinco, com sérias repercussões na saúde. Além de palavras, são necessárias ações coordenadas para remediar casos como este.

Anónimo disse...

tem tipo poluição e saude publica?mais sem ser poluição atmosferica