Sem dúvida, todos aqueles que tiveram o privilégio de visitar Roma, e de descobrir a sua monumentalidade conseguida através dos séculos, numa fantástica sucessão urbana acumulativa de grandes gestos arquitectónicos e escultóricos ... não terão esquecido o impressionante, arrebatador e profundamente emotivo momento da descoberta do Pantheon, repentinamente revelado, na pequena Piazza della Rotonda ... e da imagem da sua perfeita cúpola, cósmicamente, aberta ao firmamento ...
No entanto, muitos não se apercebem que esta fantástica sucessão acumulativa da Antiguidade, da Renascença, do Barroco, do Neoclassicismo, e respectiva erudição estonteante é, permanente acentuada, confirmada e fortalecida, pela linguagem intercalada ou sucessiva da tipologia do edificado do Sec.XIX , fortemente presente em quantidade e escala na cidade.
Isto deve-se ao facto de que a linguagem e discurso revivalista das tipologias do Sec.XIX no edificado residencial ,desenvolve variações e temas à volta do paradigma cultural da Renascença e arquétipo-símbolo para o Romantismo da época de Ouro Italiana : O “Palazzo” Renascentista ... este caracterizado, ao nivel da fachada, pelo discurso tripartido entre um basamento fortemente “rusticado”, um ritmo pedimentado nas janelas e uma forte presença da cornija.
O "Grand Boulevard" e Eixo do Sec.XIX ... a Via del Corso ... Vista a partir do Alto do Monumento a Victor Emmanuel II
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A Tipologia do edifício-tipo do Sec XIX ... "este caracterizado, ao nivel da fachada, pelo discurso tripartido entre um basamento fortemente “rusticado”, um ritmo pedimentado nas janelas e uma forte presença da cornija."
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A presença dos edifícios do Sec.XIX em Roma é permanente - e fortemente determinante para a consolidação e confirmação da unidade da sua imagem histórica - intercalada com “erudições” de outras épocas, ou em Bairros inteiramente do Sec. XIX como este à volta da estação Termini
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Também em Paris, a sucessão monumental e omnipresente das tipologias desenvolvidas por Haussmann estendendo-se por enormes áreas, é fortemente determinante para a consolidação e confirmação da unidade da imagem histórica desta cidade.
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Infelizmente, em Portugal os nossos "Boulevards"traçados urbanisticamente por Ressano Garcia, não foram preenchidos arquitectónicamente de forma coerente, com um grande projecto massivo de escala e erudição comparável, e foram incapazes desta forma de ofereçer resistência a um processo de penetração e destruição sistemática ... liderado por Arquitectos insensiveis ao seu Património e permitido por Vereadores eleitos politicamente - incompetentes e mal preparados - para resistir às pressões de interesses estabelecidos ...
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Este processo continua ... e ... apesar de um clamor e uma indignação crescente, pareçe imparável
Se todos os nossos "Boulevards" tivessem sido preenchidos,ou por uma tipologia Neo Manuelina desenvolvida pelo Romantismo Português, ou pela escala e tipologia destes derivados afrancesados ( II Empire - Haussmann ) ... tal como José Luis Monteiro nos ilustra no seu duplo projecto Estação - Hotel no Rossio ... a sua capacidade de resistência à penetração e destruição teria sido, sem dúvida, superior.
Além de demolições integrais ou parciais (interiores) .... estes “acrescentos” inqualificáveis continuam a fazerem-se e a serem propostos ...
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Estes dois exemplos isolados na Alexandre Herculano e Braamcamp, de conjuntos em "ambiente" Ventura Terra, ainda lá estão, lembrando-nos dolorosamente os crimes que se cometeram ...
E que ... apesar desta envolvente à esquina do largo do Rato ... se pretendem CONTINUAR a cometer ...
É IMPERATIVO CONTINUAR A RESISTIR ... E CONTINUAR A CLAMAR ... SALVEM O LARGO DO RATO ! ...
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7 comentários:
Muito bom post, sem dúvida.
Mas infelizmente, nos dias que correm, o valor histórico e arquitectónico dos edifícios não entram sozinhos na equação.
Há que juntar os interesses do sector imobiliário, da optimização do espaço público, das próprias pessoas que vão habitar estes edifícios. É no resolver desta equação que está a dificuldade, e é aqui que devem surgir ideias inovadoras.
Termino por dizer, que tendo visitado já Roma, acho que é uma cidade que vale pelos monumentos e valor histórico dos mesmos. É impossível da minha perspectiva comparar a qualidade urbanística, arquitectónica e até a qualidade de vida desta cidade, com por exemplo Barcelona.
A ver vamos se a "forma coerente de preencher os espaços oferece maior resistência" (no caso de Lisboa?)
Os bairros modernistas de Alvalade & Co. nos darão as respostas dentro de 20-30 anos?
Sugeria que se organizasse na Ordem dos Arquitectos uma sessão para esclarecimentos e interrogação.
Sobre que arquitectura queremos.
Considero o post de Jeeves pertinente, pois este tenta comparar as grandiosas cidades de Roma e Paris ao plano das avenidas novas. É verdade que Lisboa nos últimos 40 anos, em parte devido à corrupção dos políticos e ganância dos empresários, que a meu ver continua, exemplo disso o caso da avenida da republica; tem perdido a sua beleza a monos descaracterizados e banais. Mas também deveremos ter cautela, com certas ideias uma delas sendo o estranho edifício que existe no Picoas, que devoluto, ocupa uma mancha inútil numa zona de Lisboa cheia de edifícios altos como o Sheraton, o Imaviz e, a certo ponto, a sede da PT, logo a construção do Compave, o edifício presente na foto, que não foi aprovado (nem deverá ser, dado a estupidez e atitude de Velho do Restelo de algumas pessoas de ideias fixas), só teria uma função de revitalizar aquela zona. A mesma situação seria a do Largo do Rato, pois o edifício, apesar de ter uma volumetria excessiva e não se adequar à zona, substitui edifícios degradados. É claro que o post também denuncia certos abortos como é o caso dos edifícios da Alexandre Herculano, cujos acrescentos deveriam ser demolidos e depois o caso do edifício do ROSSIO, ESTE SIM, um edifício que deveria desaparecer muito em breve se em Portugal alguém se preocupasse minimamente pelo património nacional, ficando assim em evidência a criação de um departamento municipal, com poder sobre os projectos das cidades.
concordo com o rafael
o compave seria uma bom projecto
Os edifícios do século XIX são lindos, lindos...
O que é que os arquitectos meteram na cabeça entretanto?
A torre Compave é bonita, sim senhor, mas já chega. Acho que já se destruiu tanto pelas avenidas novas que já não "dá pica" este tipo de projectos. No entanto, num contexto mais, digamos, civilizado: sim, seria um projecto interessante. MAs se é para substituir alguma coisa para aqueles lados dêem uma vista de olhos à sede da PT que é horrível...
O Forum Picoas ou a da Rua de Entrecampos?
De qualquer das maneiras gosto dos dois edificios.
Concordo com quase tudo o que o Rafael Brandão diz.
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