24/01/2011

Tratados abaixo de cão.

Canil de Lisboa continua sem condições. Animais estão acorrentados perto das fezes.


As boxes são exíguas e a comida e a água são servidas a poucos centímetros dos excrementos, que se acumulam pelos corredores. No Canil Municipal de Lisboa (CML), falta luz solar e quaisquer outras condições de salubridade. Mas o que mais impressiona são os latidos estridentes no limite das correntes curtíssimas. E o cheiro: um cheiro intenso, nauseabundo, que se torna insuportável e onde é difícil imaginar a adopção de um cão.
«Quando fui ao canil, porque o meu cão, um labrador, tinha morrido, nem queria acreditar. O cenário era miserável, com os cães acorrentados em cima da sua própria caca... horrível» - revolta-se Manuela Carmo Costa.
Já há três anos, o SOL tinha estado no Canil/Gatil Municipal de Lisboa e comprovou as condições precárias em que estão os animais. Desde então, quem ali se dirije para adoptar um animal verifica que pouco ou nada mudou.
No exterior, as condições são um pouco melhores. Os animais estão acomodados em grupos de dois ou de três, «para não se sentirem sozinhos», como explica a técnica que faz a visita.
«A construção das boxes de ar livre melhorou muito o bem-estar dos animais», acredita Carlos Ferreira, director do Departamento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos da Câmara de Lisboa, que tutela o canil. «A higiene das instalações sempre foi assegurada de acordo com as regras de boas práticas em uso», assevera. O director reconhece, no entanto, o facto de «no canil 1 (zona interior) ser difícil a manutenção dessas regras».
Quanto às obras que permitirão mudar esta situação e que estão previstas há anos - como foi publicado na reportagem Mundo Cão, na revista Tabu, em Outubro de 2007 -, apenas agora poderão começar a avançar. «O concurso público para efectivação das obras está neste momento a decorrer, terminando o prazo de entrega de propostas em 12 de Fevereiro», adianta Carlos Ferreira.
Mais animais acolhidos
Houve um ligeiro aumento do número de animais acolhidos nas instalações do canil, instalado na zona do Parque Florestal de Monsanto.
Segundo dados do Departamento de Higiene Urbana, em 2009, foram recolhidos 749 cães vivos. E entregues pelos próprios donos 951 - daí o aumento do número registado face a anos anteriores.
«Às vezes, os animais são entregues por se encontrarem em fase de doença terminal ou porque não querem manter o animal por mais tempo», refere Carlos Ferreira.
Além destes, vivem no canil os animais abandonados na via pública e recolhidos pelos serviços da Câmara ou a pedido de autoridades policiais ou de munícipes.
Já quanto aos animais restituídos aos donos ou adoptados, o número é significativamente inferior. Apesar de ainda não estarem reunidos os dados de 2010, sabe-se, no entanto, que a taxa de adopções aumentou bastante neste último ano. Se no ano anterior foi de 38%, em Dezembro de 2010 chegou aos 70%.
Em 2009, foram restituídos 145 cães e adoptados por novas famílias 512. Uma realidade que mostra a fragilidade do sistema e significa que os animais podem chegar a ficar anos no canil.
«A legislação diz que os animais recolhidos devem permanecer no Canil por um período não inferior a 8 dias, para que possam ser reclamados pelos seus detentores. No entanto, os animais permanecem por períodos muito mais longos», admite Carlos Ferreira.
Segundo a técnica que guiou a visita do SOL, há pelo menos três cães no canil de Monsanto que lá vivem há mais de dois anos.
«Os veterinários municipais só efectuam eutanásias em situações extremas e de acordo com as normas em vigor emanadas da Direcção Geral de Veterinária», esclarece Carlos Ferreira.
«No dia em que lá fui, até sangue havia nas paredes, porque eles eutanasiam os animais ali mesmo, nas boxes», testemunha Maria Carmo Costa.
No que a raças diz respeito os rafeiros continuam a ser os campeões no canil. Mas não são o total, neste mundo cão. Há de todas as raças.
Por Sónia Balasteiro-Sol

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