17/11/2011

Casa dos Bicos sempre foi branca mas com Saramago tornou-se colorida por dentro


Pilar del Río e António Costa junto da oliveira onde repousa Saramago

Casa dos Bicos sempre foi branca mas com Saramago tornou-se colorida por dentro
Por Ana Henriques e Isabel Coutinho in Público

Com inauguração prometida para a próxima Primavera, a Fundação Saramago quer tornar-se um centro cultural com debates, pequenos concertos, cinema não comercial - e livros

Da janela com três arcos, um raro exemplo da arquitectura de inspiração italiana do séc. XVI em Portugal, avistam-se as palmeiras do Jardim do Tabaco, os carros no parque e, ao fundo, o Tejo. "Este seria o gabinete de José", diz Pilar del Río, a "presidenta" da Fundação José Saramago.

Era ali que o prémio Nobel da Literatura queria ter ficado a trabalhar e a contemplar o rio. Mas as obras de reabilitação da Casa dos Bicos, em Lisboa, já não terminaram a tempo de o encontrar vivo. Foi já no velório, quando a viúva ouviu da boca de um dos arquitectos responsáveis pela instalação da fundação na Casa dos Bicos, Manuel Vicente, a tristeza por ele já não poder desfrutar dos barcos a passar no Tejo que teve a ideia: depositar as cinzas do escritor debaixo de uma oliveira plantada em frente ao edifício. E assim se fez, por muito que a árvore trazida da aldeia ribatejana onde nasceu o Nobel pareça definhar de dia para dia. "Os engenheiros dizem que tem stress", explicou ontem o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, na cerimónia da entrega oficial da chave da Casa dos Bicos à Fundação José Saramago.

No dia em que o autor de Caim comemoraria 89 anos a presidente da Assembleia da República, o ex-ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro e outros convidados ficaram a conhecer a casa que Saramago quis que um dia se tornasse num ponto de referência do itinerário cultural da cidade, no que respeita à criatividade e à troca de ideias. Atrás dos bicos brancos da fachada há todo um mundo colorido que espera entrar em acção. O pequeno auditório do último piso é rosa-fucsia, quebrado por negro, e para os pisos inferiores, onde ficará instalada a biblioteca e a administração, Manuel Vicente e João Santa-Rita escolheram o verde e o vermelho, com alguns caixilhos dourados.

A sede da fundação só abrirá ao público na Primavera, até porque a musealização dos vestígios arqueológicos do rés-do-chão ainda não está pronta. Será "um centro de cultura da cidade de Lisboa com um auditório onde se apresentarão livros, debates, pequenos concertos, cinema não comercial", explicou Pilar. Saramago será o tópico comum. Os três pisos estarão permanentemente abertos ao público: a biblioteca, a sala de exposições e o auditório. Ao mesmo tempo que contactam com o legado do escritor, os visitantes poderão aproveitar para conhecer melhor a história das cercas da cidade: a muralha romana do séc. III e também a cerca velha, construída pelos mouros centenas de anos mais tarde, com troços da primeira. Como a zona é alagadiça, os vestígios vão ficar expostos com a água que ali existe no subsolo, conta a directora do Museu da Cidade, Cristina Leite.

A "presidenta" não parece preocupada com o facto de já só sobrarem seis dos dez anos pelos quais a câmara lhe emprestou a Casa dos Bicos, devido ao prolongamento das obras: "Se em seis anos não formos capazes de fazer um foco de cultura que irradie, a câmara terá todos os motivos para nos dizer adeus. Se fizermos disto um coração que palpite, há futuro para a fundação aqui."

2 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Olha uma casa de banho pública para quem volta do bairro alto depois de beber bastante.

Anónimo disse...

Desculpe Filipe? Esclareça lá o que quer dizer? Exponha lá o seu brilhante e edificante raciocínio?