Quando foi decidida a demolição dos interiores do conjunto de edifícios compreendidos entre o 46 da Avenida da República e o 62 da Avenida Elias Garcia, de autoria do arquiteto Ventura Terra, muito se escreveu aqui (ver) e muito pouco se errou nas previsões do que seria o resultado final:
ora mesmo a obra estando longe de estar concluída, aparentemente com muito atraso, já podemos ver o que se vai poder apreciar quando o último homem da obra sair e entrar o primeiro morador, porventura orgulhoso da sua aquisição em tão prestigiante local.
Aparentemente, o que está a sair pela fachada original, como um bolo a crescer para fora da sua forma, não vai ficar alinhado totalmente à face da fachada, aumentando ainda mais a "disformidade" de todo o conjunto. Se fazer excrescências em fachadas é, em tudo, reprovável, fazer umas que fazem sombra aos andares de baixo e nada acrescentam em dinâmica ao conjunto deveria ser sansionável.
Quem tem dúvidas que a opção de demolir os interiores e aumentar a cércea deste edifício em detrimento de uma conservação integral e criteriosa empobreceu a cidade como um todo? Provavemente o promotor imobiliário porque esse, com certeza, enriquecerá. Quando é que pára esta espiral de auto-destruição?
Aqui pode ver-se uma laje que é protuberante em relação à face de todo o edifício. Esta "pala" vai fazer sombra aos andares inferiores e aumenta a desadequação deste tipo de intervenção. |
Pode ver-se que esta "pala" é tudo menos um simples elemento arquitetónico. Não sei para que serve mas que "é linda, ai isso é"! |
Outro assunto de relevo é o magnífico hall com que este prédio acolhia quem entrava pela impressionante porta de ferro decorado. Um altíssimo espaço em planta círcular com um tecto decorado. Nesta intervenção, porventura desastrosa, optou-se por dividir o pé-direito da entrada em dois andares, ou seja, vai entrar-se neste prédio, com certeza vendido como de prestígio e representativo, por um "foyer" tacanho, de pladur e focos embutidos, com umas quantas obras de arte contemporâneas para simular bom gosto e requinte.
Não quero basear este artigo e os meus argumentos sobre o gosto particular desta intervenção porque "gostos não se discutem... lamentam-se". Quero sim, que percebam e tirem as vossas conclusões sobre o que significa em destruição e perda de memória, património e futuro este tipo de projetos que têm tido a benção da Câmara Municipal de Lisboa e dos seus executivos.
Era assim o "foyer" que recebia que entrava pela belíssima porta. |
O pé-direito foi dividido em dois andares! |
P.S. - Onde está o único e memorável elevador que era o segundo mais antigo de Lisboa?
Onde está? Como é possível não preservar isto, e tudo o mais que é a nossa memória coletiva? |
7 comentários:
O Zé que fazia falta gosta e está de acordo e apoia, caso contrário já tinha feito um enorme escarcéu.
De facto, este caso é exemplificativo do tratamento dado pela CML nos últimos 10-20-30 anos a estes prédios de finais de Séc. XIX, princípios de XX. Dupla ironia: a demolição ocorreu no Centenário da República sobre um dos prédios de rendimento mais importantes de Lisboa, da autoria de Ventura Terra, arquitecto, vereador republicano e ... objecto de homenagem e exposição pela AR no mesmíssimo ano. Sobre o andar das obras, pois parece-me que é mais uma ilegalidade já que o que se aprovou foi, se bem me recordo, aumento de 2 pisos ... já vai em 3, certo? Onde pára a fiscalização? Onde pára a Provedoria? Continua a compensar fazer-se alteração durante o decorrer das obras completamente ao arrepio do que foi aprovado oportunamente? A alteração está aprovada? Qdo e por quem?
E quando acontecer um sismo ??
Cada estrutura construtiva para seu lado !!
E tanto novo rico que gosta destes Frankensteins ...
QUE VERGONHA!
O CASO DO BELÍSSIMO ELEVADOR É DEVERAS CHOCANTE!
EXISTEM EDIFÍCIOS EM AMSTERDAM QUE ESTÃO PROTEGIDOS POR MENOS!!
A ESPECULAÇÃO ATACA DE NOVO!!!
E O POVINHO? O QUE É QUE FAZ?
ESTÁ TUDO A VER A ESTREIA DA NOVA NOVELA DA SIC!!!
http://s9.postimg.org/atqctas5b/46_46a.jpg
Inacreditável!
Isto é reabilitar para o Arq. Manuel Salgado, não é?
Nem a altura do prédio vizinho respeitaram...desastre total.
Aqui há uns anos, quando se fizeram umas seriamente necessárias obras de conservação na capela do Hospital dos Capuchos, os "senhores das obras" usaram parte da talha dourada do altar para fazer uma fogueira para aquecer o almoço.
Dito isto, onde acham que o elevador de madeira foi parar?
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