23/09/2013

Porque NÃO devemos DEMOLIR a nossa cidade!

Exmo. Senhor Vereador do Urbanismo
Arq. Manuel Salgado


Cc. Presidente da CML, Presidente da AML e Deputados Municipais

Em vésperas de eleições, gostaríamos de partilhar consigo esta opinião de uma sua colega do Reino Unido publicada recentemente na revista MONOCLE (Demolition: Make do And Mend, Sarah Wigglesworth, Agosto 2013, pág. 108-109, em anexo).

Permita-nos que concordemos inteiramente com a autora quando afirma que as demolições nas nossas cidades são um erro grave, fruto de um «technocratic approach» - e que reafirmemos que, na nossa opinião, Lisboa é cada vez mais vítima desta lógica que privilegia visões mercantilistas da cidade edificada, de rápida e cega multiplicação de lucro, apenas.

Cremos que Lisboa está a falhar redondamente e a passar ao lado da oportunidade cada vez mais evidente à escala europeia, senão mundial, ao continuar sem reconhecer que um edifício existente é um «CAPITAL CULTURAL»: corporiza tecnologias e memórias que são únicas, significativas e com valor. Um edifício é mais do que um conjunto de materiais à espera de um dia acabarem num vazadouro! Independentemente de hoje gostarmos ou não destes edifícios, o nosso legado de construções é um importante testemunho do nosso passado, transmitem-nos ideias e valores sobre o que somos e donde vimos. Além de que a demolição de qualquer edifício representa sempre um atentado ecológico pois é errado continuarmos a acreditar que os recurso naturais são inesgotáveis. Por tudo isto, uma demolição nunca pode acontecer sem uma cuidada reflexão e estudo.

Infelizmente o que temos assistido em Lisboa nas últimas décadas é precisamente o oposto: os edifícios, mesmo aqueles com grau de protecção "garantido" no PDM, são facilmente demolidos na maior parte dos casos apenas porque o proprietário não o quer reabilitar.

Exemplo paradigmático deste planeamento urbano «tecnocrático» que domina em Lisboa, é um exemplo que chegou ao nosso conhecimento e que gostaríamos de saber se corresponde de facto à verdade: na Freguesia da Sé, às portas de Alfama, o imóvel sito na Rua do Barão, nºs 2-4 (foto), tem a sua demolição integral aprovada para dar lugar a um novo edifício, com mais do dobro do número de pisos. Sendo assim, constatamos que demolições integrais, com substituição total do edificado, já não estão limitadas às Avenidas Novas.

Senhor Vereador, é urgente mudar de direcção e alterar o paradigma da demolição: mais reabilitação autêntica e menos construção nova atrás de fachadas "antigas" como tem sido prática da CML.

Com os melhores cumprimentos


Bernardo Ferreira de Carvalho, Fernando Jorge, Paulo Ferrero, Miguel Atanázio Carvalho, Luís Marques da Silva, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Miguel de Sepúlveda Velloso, Carlos Leite de Sousa, André Santos, Alexandre Marques da Cruz, Pedro Malheiros Fonseca, Nuno Caiado, Beatriz Empis, Filipe Manuel Teixeira, Paulo Guilherme Figueiredo, Miguel Oliveira


1 comentário:

Anónimo disse...

O Costa, o Zé e o Salgado sabiam perfeitamente que não se podia demolir NO TEMPO DOS OUTROS. Agora, estamos no tempo deles, pelo que tudo muda de figura.