20/10/2014

Rua da Ribeira Nova: uma montra do que é Lisboa à noite em grande parte do centro histórico

Fachada tardoz do prédio pombalino do largo de São paulo. Na fachada que dá para a praça, a CML e o fundo imobiliário proprietário do imóvel, empenham-se em atrair galerias-bar, lojas alternativas , casas de petiscos várias e todas muito cool. Pretendem dar um ar de glamour, que mais não é do que a estafada receita de pseudo-modernidade em que afundaram a qualidade de vida dos residentes desta zona. Neste lado do mesmo prédio, a realidade é outra com menos brilho e muito mais acção. Aliás a imagem está aí para que se veja. Um prédio em pré-ruína numa zona que está a soldo de todos os bares, discotecas e demais empresas da noite.

Com o devido patrocínio das centrais de cerveja, da conivência da CML, da mais completa e abjecta falta de civismo.

Em cima de caixas de elctricidade, em cima dos carros, nos parapeitos de todas as montras moribundas de um espaço da cidade que é invadido por uma multidão ávida de uma noite sem regras, sem limites onde tudo vale num mar de indiferença pelos moradores e pela cidade que é de todos.

Por que razão temos nós que ver este descalabro da cidade onde vivemos?

As marcas da noite são muitas e variadas. Há umas que não se vêem, os gritos, as rixas, as danças na rua como se todo o espaço fosse uma discoteca ao ar livre. Há outras marcas que outros limparão. haverá sempre outros para corrigir o que os bandos deixam atrás de si. Haverá sempre outros que verão as portas das suas casas vandalizadas e aviltadas. Haverá sempre outros de todas as idades que não descansarão. que não poderão abrir as janelas, que verão a qualidade das suas vidas desaparecer na íntegra. Mas esses outros escolheram viver numa zona que é da noite, dizem alguns. Agora acarretem com as consequências, como se cumprir a lei fosse a obrigação de uns poucos, enquanto a maioria desfila  numa impunidade desafiadora.

Pegada ecológica? Desenvolvimento sustentável?  Respeito pela cidade onde afirmam que é tão bom sair à noite?  Tudo noções estranhas à maioria dos festivaleiros que rebentam com a cidade antiga todas as noites. Este tipo de imagens repete-se em todo o centro histórico. Chegam-nos queixas de Campo de Ourique, do Arco do Cego, da Mouraria, de Alfama, da Graça, de Santa Catarina, de Santos, do Bairro Alto, do Cais do Sodré. Saitrá uma reportagem na SIC sobre o Cais do Sodré. O caos tem tomado conta da noite em Lisboa.  E tem acontecido com o firme beneplácito da CML.

Os habitantes estão a mais na estratégias de terra queimada que as instâncias que gerem a cidade promovem. Já em 2012 numa reportagem do "Público" o executivo prometia medidas para controlar os excessos na noite. Até hoje dia 20/10/2014, nenhuma  medida foi aplicada. os erros multiplicaram-se. Lisboa é hoje uma cidade inimiga dos habitantes do centro histórico. Há quem aplauda esta "alegria".  Os eternos de vistas curtas, para quem o direito à sua "diversão" é maior do que zelar pelo bem comum e respeitar a vida dos outros. Conceitos antiquados, bem sei, mas não menos importantes por isso.


4 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Os habitantes da zona não se podem queixar. Quer se trate de habitantes recentes que se mudaram para uma zona que é conhecida ser animada à noite, quer muito ainda menos os antigos que pagam 20€ de renda por mês.

aquimoragente disse...

Em 2011 foi fechada parte da Rua Nova do Carvalho para o projecto... "Absolut Pink Gallery promovido em conjunto pela Câmara Municipal de Lisboa, pela Associação Cais do Sodré e pela Pernod Ricard através da Absolut Vodka e pretende ser parte de uma estratégia de reabilitação da zona do Cais do Sodré. Este projeto inclui, entre outros, a recuperação, pintura e nivelamento do chão e a introdução de oito estruturas Mupi que suportarão uma galeria de arte ao ar livre, denominada “Absolut Pink Gallery”. A “Absolut Pink Gallery” tem previsão de duração de um ano com exposições rotativas de diferentes artistas."...os moradores e outros agentes económicos não foram ouvidos nem tiveram qualquer participação num projecto para uma via pública que é de todos.

Anónimo disse...

Parece-me indispensável que se recorra a instituições europeias, pois por cá a capitulação com a javardice e com o incivismo é tudo a que temos direito.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Estas situações podem ser melhoradas se, durante 1 ano, cada denúncia for acompanhada de uma frase do género:
«COMO É QUE PODEMOS VIR A TER COMO PRIMEIRO-MINISTRO QUEM TRATA ASSIM A CAPITAL?!»