Também todos os anos assistimos em Lisboa a podas escabrosas que deixam as árvores como espetos disformes, ou mesmo ao seu corte. As razões são sempre as mesmas: o estado fitosanitário não é bom, estão mortas ou podres, são um perigo para os transeuntes, causam alergias e tiram luz às casas.
Estes argumentos são mais ou menos facilmente desmontáveis mas o que fica como conclusão é que nem os portugueses, aqueles que os governam, e aqueles que são técnicos gostam, dão valor, e defendem as árvores. Tudo o que se faz é circunstancial. Não é, claramente, sistemático, comprometido, não há sentido de missão nem se regem por princípios.
É preciso testemunhar como se faz lá fora para perceber o erro de quando se intervém desta forma radical numa avenida onde um dos valores patrimoniais principais é precisamente o "tecto verde" luxuriante (que não existe mais e não existirá durante bastantes anos) ficando comprovado que quem decidiu esta intervenção fê-lo numa clara demonstração de incompetência e que levianamente provocou perda patrimonial a todos aqueles que vivem, trabalham, passam ou desfrutam da Avenida Guerra Junqueiro. Dizia-me uma amiga que é arquiteta do urbanismo na Câmara de Augsburg, uma das cidades mais históricas da Alemanha, que nessa cidade quando uma árvore é abatida todo um processo correu para determinar, entre outros, o seu valor patrimonial económico e importância histórica porque, por lei, deverá ser substituída segundo uma determinada equação que leva à multiplicação do número de espécies que acabam plantadas em consequência da perda inicial. E muito do que ela viu aqui, em termos de urbanismo deixou-a, digamos, com uma ideia que os técnicos camarários por cá têm uma maneira muito "especial" de lidar com o que é público.
Para quando o fim deste amadorismo, ou melhor, desta leviandade de quem decide pelos destinos nesta cidade? Uma intervenção deste tipo, noutros países, levaria anos a fazer-se porque as árvores seriam intervencionadas paulatina e cirurgicamente de forma a que não houvesse um comprometimento do bem patrimonial. Porque é que toleramos que aqueles que foram eleitos se comportem como verdadeiros homens das cavernas? As justificações técnicas adiantadas são antes de qualquer coisa uma desculpa mal cozinhada para o resultado final (que chocou até, acredito, quem interveio na operação) na mesma lógica de sempre de gestão de danos e de salvar a face. Exige-se que quem decidiu assuma a responsabilidade e as consequências; exige-se que quem executou assuma as suas responsabilidades e as consequências; exige-se que quem foi mais prejudicado com este atentado se organize e exiga que se assumam responsabilidades e consequências.
Este é o resultado de uma poda que correu muito mal. Quem vai assumir este desastre e ser consequente? |
Estas fotografias foram tiradas há uns anos, no Outono, pelo que as copas não apresentavam o maior potencial luxuriante. |
7 comentários:
Esperavam o quê? O vereador dessas coisas é o Zé. Está tudo dito.
Barbaridade irrisória,
Estúpido despotismo!
Meter uma palmatória (motoserra)
Nas mãos dum anacronismo!
(Guerra Junqueiro o poeta, de Freixo de espada à cinta, que certamente inspirou o Arquitecto Ribeiro Telles a escolher freixos para arborizar esta Av.)
"Poda drástica"....que em português significa mutilação por incompetentes pagos.
E agora vão continuar pela Praça de Londres
É de facto extraordinário e o processo foi tudo menos linear. Em qualquer cidade civilizada este tipo de intervenção teria de ser debatida e a população informada.
Este bairro foi projectado (por Licínio Curz e outros) com a visão de ser um bairro à escala humana - casas baixas, arvoredo, primazia do peão sobre o automóvel. Assim se manteve.
Claro que haveria que cortar ramos secos e fazer podas anuais, como se faz a qualquer árvore, para aliviar o peso das folhas, ainda por cima quando a folhagem surge logo em Janeiro. Todavia, esta selvajaria, decidida de repente, com um mero aviso nas árvores "para se retirarem os carros", é inaceitável, do ponto de vista estético, democrático e, ao que dizem, ecológico e agronómico.
Consta que a empresa que "fe«x o diagnóstico" é a mesma que cortou as árvores - será verdade? E depois o presidente da Junta vem dizer "que se esticoU"? E agora? Não há consequências políticas? As primeiras árvores foram em frente de minha casa - não sobrou nada! Mais adiante já ficaram uns raminhos, o que prova que não teria sido necessário cortar tudo. É como se por uma unha lascada se cortasse a mão!
Creio que a Assembleia Municipal deveria pronunciar-se e o presidente da Junta explicar-se. Mais: mesmo prometendo colocar árvores, vão ser necessariamente de crescimento lento, pequenas (as raízes de uma árvore grande ocupam um diâmetro muito grande) e provavelmente acácias ou primas delas, que causam alergias. Mais: o calor que a rua agora tem, deu cabo da sua concepção de "centro comercial a céu aberto". Inacreditável e inaceitável. Há, realmente, que continuar este protesto!
Mário Cordeiro (não consigo entrar com o meu nome sem ser "anónimo", mas ele aqui fica)
Desculpem a quantidade de erros no meu comentário - não fazem parte de nenhum Acordo Ortográfico. Escrevi e carreguei no "enter" antes de reler e... não consegui emendar. Agora já tenho uma identidade, mas fica a ressalva.
Olá, moro nos Olivais Norte e aqui infelizmente também tivemos uma devassa em nossa árvores. Só não foi maior nem sei como. A rua é a Dr. José Saraiva e a praça ao lado. Fiquei horrorizada, tirei fotos do antes e depois. Tudo registado e mais, escrevo para um jornal de Moçambique, fiz a matéria e mandei para alguns meios de comunicação, e claro para a junta de freguesia. Certamente que não obtive resposta. Mas está claro que isso não pode continuar, as árvores nos dão o alimento do ar, sombra, uma brisa deliciosa se sentia quando chegávamos em casa. Agora?! Agora ficou o bafo da onça, quente, abafado. Se quisessem podá-las que cortassem no outono, mas cortá-las e deixar o toco na calçada é demais. Fica aqui o meu protexto. Obrigada.
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