13/09/2007

Chinatown - artigo no Jornal de Negócios

(..) Não sei se na actual Câmara socialista alguém se perturbou com este anúncio tão flagrantemente segregacionista. Mas não parece, já que António Costa se prepara para entregar a Nogueira Pinto a gestão do dito Plano. Sendo assim, os chineses que se preparem, vem aí o Pogrom. Ainda que hoje não sejam necessárias matracas e facas, bastando para o efeito alguns regulamentos municipais como aliás muito bem explica a própria com candura: “A Câmara é que dá a licença, pode dizer que a quota de lojas chinesas neste espaço está esgotada”. Simples, limpo, eficaz, discriminatório e inaceitável.

(...) Nogueira Pinto exprime sobretudo uma concepção da gestão das cidades que esteve muito em voga em meados do século passado e que resultou nos graves problemas com que actualmente se confrontam várias capitais do Ocidente. Através de um planeamento rigorosamente “top-down”, uma activa segregação social com consequente afastamento dos centros urbanos dos mais pobres e de uma concentração espacial de etnias e culturas minoritárias, geraram-se desertos nos centros e tumultos nas periferias.

(...) Nogueira Pinto, pelo contrário, propõe como grande novidade a velha receita antiliberal do controlo de cima para baixo, tão ao gosto de todas as formas de governação autoritária e cujos resultados são invariavelmente desastrosos. Com tais ideias de proteccionismo e segregação a Baixa-Chiado só poderá agravar a sua decadência e daqui a uns anos a Câmara de Lisboa lá fará novo Plano para resolver os problemas criados por mais esta Zezinha circunstancial.

(...) As lojas dos chineses são para todos os efeitos simplesmente lojas. Que se instalam onde se julga ser mais benéfico para o negócio e são geridas da maneira que os respectivos donos pensam ser mais funcional. O facto de surgirem um pouco por toda a parte é perfeitamente natural, tendo em conta a decadência endémica do sector a nível nacional. Deitar as culpas para os chineses é ocultar a triste realidade do nosso pequeno e médio comércio. Que sendo genericamente pobre e de má qualidade, tal como o dos chineses, é também preguiçoso, anacrónico e incompetente. Esta ideia tão em voga de que a mercearia do bairro é que é boa, quando tanta vez não passa de um antro de imundice, tomates podres e roubo no peso, deriva da mesma concepção identitária e proteccionista que é responsável por muito do atraso do nosso país. Pensar que tudo o que é português é bom, pode ser muito patriótico, mas nada tem a ver com o mundo real. E acima de tudo impede a participação séria no mesmo.

O caso da Baixa é neste sentido exemplar. Num processo de envelhecimento geral, das pessoas e dos negócios, a área foi-se degradando. Os próprios envolvidos nunca foram capazes de dinamizar o local. Ao invés, e tal como é frequente em Portugal, têm-se limitado a exigir a intervenção da Câmara. Cabe perguntar por quê e para quê? Porque há-de a Câmara “deitar a mão ao pequeno comércio” da Baixa? Além de isso significar uma ingerência no mecanismo da concorrência, como se justifica o apoio de fundos públicos a empresas e lojas claramente obsoletas e cujo desfecho não pode ser outro senão o encerramento? Vender flanela a metro no século XXI é muito giro, mas só pode mesmo ser um péssimo negócio.

Quando um Plano para a Baixa tem como objectivo proteger negócios falidos, está tudo dito. Estamos perante um Plano dispendioso e inútil. A Câmara deve intervir naquilo que lhe compete. Manter o lugar limpo e seguro, modernizar infra-estruturas, construir um ou outro equipamento julgado necessário. Quanto ao resto, deixe a sociedade funcionar livremente. Não são precisas Zezinhas para nada.

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