In Público (17/9/2007)
Inês Boaventura
«O elevador, que transporta 1,2 milhões de passageiros por ano, esteve parado quase um ano e meio devido às obras no túnel do Rossio
O ascensor da Glória, que esteve parado durante quase um ano e meio devido às obras de reabilitação do túnel ferroviário do Rossio, reabre amanhã, para satisfação dos seus cerca de cem mil utilizadores mensais e do guarda-freios António Ferraz, que há dez anos conduz o ascensor classificado como monumento nacional.
O popular ascensor, inaugurado em 1885, vai voltar a percorrer a Calçada da Glória, ligando a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto, depois de uma paragem que demorou muito mais do que os seis meses inicialmente previstos. Esta paragem custou à Rede Ferroviária Nacional (Refer) cerca de 50 mil euros por mês, que revertam para a Carris como compensação pela perda de receitas do ascensor, dívida que o presidente do conselho de administração da Carris garante já estar saldada.
Antes de voltarem a circular, os dois veículos que percorrem diariamente a Calçada da Glória foram alvo de uma revisão geral das suas condições mecânicas e de segurança, que só estava prevista para o final do ano, mas que foi antecipada para não prejudicar os passageiros com mais uma paragem. Se não fosse esta revisão, o elevador poderia estar a funcionar há cerca de um mês. A Carris chegou, aliás, a anunciar a sua reentrada em funcionamento para Abril, baseando-se em informações que lhe tinham sido fornecidas pela Refer. Afinal, as obras do túnel não correram como estava previsto, o que obrigou milhares de pessoas a continuar a subir a pé a íngreme calçada, ou a recorrer a percursos alternativos.
Nos planos futuros da Carris está a instalação de câmaras de videovigilância junto ao ascensor da Glória, para evitar actos de vandalismo e travar a acção quase diária dos graffiters.
A reabertura do ascensor inaugurado há 122 anos, e que anualmente transporta cerca de 1,2 milhões de passageiros, é motivo de satisfação para António Ferraz, que está na Carris há 30 anos e conduz aquele veículo desde 1997. Por esta altura, o guarda-freios não só conhece praticamente todos os passageiros regulares como os carteiristas que nele viajam à caça de turistas incautos.
"Há muita gente que me conhece muito bem, que já sabe o meu nome de cor", conta António Ferraz, enquanto enumera os principais destinos dos clientes que transporta diariamente. A estes juntam-se "muitos espanhóis, italianos, alemães, ingleses, holandeses", que visitam Portugal na Páscoa e no Verão, com quem o guarda-freios de 54 anos comunica com o inglês rudimentar que aprendeu na Marinha.
O funcionário da Carris garante que nunca teve problemas enquanto conduzia o ascensor da Glória, mas admite que quando trabalhava "nos serões" o receio de ser assaltado era algum, até porque transportava no bolso a receita da venda de várias centenas de bilhetes.
Desde que passou a conduzir o ascensor entre as 7h e as 14h, o maior problema de António Ferraz passou a ser lidar com a tristeza que sente quando encontra o seu veículo grafitado: "Ainda se fizessem umas coisas com jeito, umas pinturas... Mas não, é mesmo pelo prazer de estragar", lamenta.
O guarda-freios António Ferraz, na carros há 30 anos e que amanhã, quando reactivar os comandos do ascensor para as primeiras subidas ao Bairro Alto, vai ser distinguido pela companhia por ter completado 12 mil horas de condução sem qualquer acidente da sua responsabilidade. Porém, nem tudo são rosas na sua actividade diária, pois sobram as queixas a respeito dos veículos automóveis que insistem em bloquear o caminho do ascensor, algumas vezes para realizar cargas e descargas e outras porque os condutores se deixaram ficar nalgum bar nas imediações.»
Só é pena que tudo continue na mesma, ou seja, em cenário de guerra, no Largo da Oliveirinha. Pior, o que se prevê ir acontecer (ao sabor do maldito do PUALZE) e ninguém na CML diz nada: a construção de um parque subterrâneo(!) ali.
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