28/09/2007

O Senso e a Cidade l Cinema Odéon


aqui ou

Fará sentido festejarmos os anos de vida de um morto? No caso do Cinema Odéon, indiscutivelmente que sim.

Situado na Rua dos Condes, em frente ao Olympia e de mão dada à Avenida da Liberdade, sobrevive hoje um ex-líbris do cinema de outrora da cidade de Lisboa, projectado por Guilherme A. Soares.

Oitenta anos depois do dia 21 de Setembro de 1927, a Cinemateca em colaboração com o Forúm Cidadania Lisboa, prestou homenagem a esta magnífica sala de cinema, que tanto preencheu o circuito cultural da nossa cidade branca. Na passada sexta-feira e projectado ao som de piano, foi relembrado o filme mudo A Viúva Alegre de Erich von Stroheim, o mesmo com que o Odéon se estreou há oito décadas atrás.

Sem voz permaneço eu também, cada vez que observo os vidros estilhaçados, sempre que me passeio nas Portas de Santo Antão. E em vez de ocupar o silêncio com as teclas de um instrumento de cauda, prefiro escrever sobre estas linhas, o barulho da minha indignação.

Um palco de frontão Art Déco, uma magnânima plateia e dois balcões, camarotes sumptuosos, um tecto em pau do Brasil com a forma de quilha de navio, um lustre central decorado com néon, um mecanismo que permite iluminar a sala com luz natural, um pé direito invulgar e uma fachada revestida de vidros de várias cores, são mais do que suficientes para não aceitar a degradação deste edifício, que aumenta de dia para dia.

Em vias de classificação, apelo ao Ippar e à Câmara Municipal de Lisboa, a ressuscitação do maltratado Cinema Odéon, com o exercício do direito de preferência para recuperação integral, não fosse uma cidade precisar de detalhes vivos, para ser única e orgulhosamente nossa.

coluna de opinião publicada a 24 Setembro no jornal Meia Hora

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