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Fará sentido festejarmos os anos de vida de um morto? No caso do Cinema Odéon, indiscutivelmente que sim.
Situado na Rua dos Condes, em frente ao Olympia e de mão dada à Avenida da Liberdade, sobrevive hoje um ex-líbris do cinema de outrora da cidade de Lisboa, projectado por Guilherme A. Soares.
Oitenta anos depois do dia 21 de Setembro de 1927, a Cinemateca em colaboração com o Forúm Cidadania Lisboa, prestou homenagem a esta magnífica sala de cinema, que tanto preencheu o circuito cultural da nossa cidade branca. Na passada sexta-feira e projectado ao som de piano, foi relembrado o filme mudo A Viúva Alegre de Erich von Stroheim, o mesmo com que o Odéon se estreou há oito décadas atrás.
Sem voz permaneço eu também, cada vez que observo os vidros estilhaçados, sempre que me passeio nas Portas de Santo Antão. E em vez de ocupar o silêncio com as teclas de um instrumento de cauda, prefiro escrever sobre estas linhas, o barulho da minha indignação.
Um palco de frontão Art Déco, uma magnânima plateia e dois balcões, camarotes sumptuosos, um tecto em pau do Brasil com a forma de quilha de navio, um lustre central decorado com néon, um mecanismo que permite iluminar a sala com luz natural, um pé direito invulgar e uma fachada revestida de vidros de várias cores, são mais do que suficientes para não aceitar a degradação deste edifício, que aumenta de dia para dia.
Em vias de classificação, apelo ao Ippar e à Câmara Municipal de Lisboa, a ressuscitação do maltratado Cinema Odéon, com o exercício do direito de preferência para recuperação integral, não fosse uma cidade precisar de detalhes vivos, para ser única e orgulhosamente nossa.
coluna de opinião publicada a 24 Setembro no jornal Meia Hora
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