19/11/2007

O acumular de uma ilegalidade”

In Notícias da Manhã (19/11/2007)
Vasco Lopes *

«Quando, sexta-feira, o Governo anunciou a adjudicação do troço final da Cintura Regional Interna de Lisboa, tudo parecia encaminhado para que a CRIL ficasse finalmente concluída em 2009 - José Sócrates não se coibiu mesmo de afirmar que aquele era um “momento histórico” para as populações da Área Metropolitana de Lisboa. Todavia, o processo de conclusão desta via rodoviária poderá estar ainda bastante longe do seu término, uma vez que os moradores da zona por onde passará a ligação do Nó da Buraca e da Pontinha à Rotunda de Benfica levantam sérias dúvidas em relação à legalidade da obra.

“O ACUMULAR
DE UMA ILEGALIDADE”
Jorge Alves, da Comissão de Moradores do Bairro de Santa Cruz de Benfica considerou mesmo que o anúncio da adjudicação da obra é o “acumular de uma ilegalidade, que o Governo insiste em manter”, sendo que o Executivo “dá a entender que esta obra é uma coisa nova, lançada agora, quando se trata de um processo que se estende há muitos anos e que já passou por várias consultas públicas legais e já teve diversos pareceres”.
Dos 4,5 quilómetros da ligação, há um troço, entre os quilómetros 0,675 e 1,6, que preocupa de sobremaneira a Comissão de Moradores. Para esta área, os moradores defendem a existência de um túnel subterrâneo, com três vias em cada sentido, mas, segundo Jorge Alves, a proposta apresentada contempla “quatro vias em cada sentido (embora a quarta seja de acesso), uma solução que mais parece uma vala de 310 metros a céu aberto”.

A QUESTÃO DO DIA
Em declarações ao NM, Jorge Alves lembra que “a Declaração de Impacte Ambiental do Instituto de Ambiente chumba a solução adoptada”, pelo que os moradores de Santa Cruz de Benfica, em conjunto com outros grupos de cidadãos (da Damaia e de Alfornelos), vão apresentar uma queixa em tribunal contra o Estado português. Já antes tinha sido interposta uma providência cautelar, a qual foi indiferida, segundo nos explicou Jorge Alves, pelo facto de “a obra não ter sido ainda adjudicada”. Porém, esta última situação deixou de se verificar na última sexta-feira.

TRAÇADO PERIGOSO
Apesar de todas as críticas, a Comissão de Moradores do Bairro de Santa Cruz de Benfica não nega que este projecto tem uma grande importância, em termos rodoviários, para a Grande Lisboa. À conversa com o NM, Jorge Alves reconheceu que a conclusão da CRIL vai retirar alguns automóveis de vias altamente congestionadas (como o IC19 ou a Segunda Circular), mas também não se furtou a criticar severamente o projecto: “A estrada é toda aos «esses», quando poderia ter sido adoptado um traçado a direito. O problema é que esta última opção obrigava a passar por cima de terrenos que estão destinados a futuras urbanizações e já se sabe que os interesses imobiliários falam sempre mais alto”.
Sustentado num relatório do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades, Jorge Alves afirma que “aquela estrada vai ter inúmeros «pontos negros», já que a inclinação e os raios das curvas são altamente perigosos”. Por outro lado, “tendo em conta uma norma de 1994 (feito na época da extinta Junta Autónoma das Estradas), a natureza do traçado vai obrigar a que o limite máximo de velocidade seja de 50 km/h, com recurso a radares, o que mostra bem que este projecto não tem justificação e que esta estrada é má”.

“UM ATRASO ABSURDO”
“Isto é um atraso absurdo” - eis as palavras de Jorge Alves para definir o projecto de conclusão da CRIL no que toca à problemática da qualidade de vida das populações. “Algumas pessoas vão ter uma via rápida mesmo à porta das suas casas ou dentro das suas propriedades”, criticou o responsável da Comissão, lançando mesmo uma acusação: “Em Julho, muito antes da adjudicação desta obra, alguns moradores receberam cartas a anunciar a realização de algumas expropriações, com carácter de urgência”.
*com Lusa (...)»

2 comentários:

Anónimo disse...

Agora aparecem defensores de uma velocidade máxima de 50 Km por hora para o futuro troço da CRIL. Porque não 80 ou 100?

Na ponte 25 de Abril pode circular-se a 70, será que o piso é mais seguro? entre o viaduto Duarte Pacheco e o Aqueduto das Águas Livres, num local de curvas e contra curvas, a velocidade é de 80, será que no futoro troço da CRIL as crurvas são mais apertadas?

Neste país nada se faz sem aparecerem os futurologias da calamidade que acabam por não se verificarem depois da obra estar feita.

Agora já em funcionamento é a hora de serem provados os defeitos do Túnel do Marquês que em virtude de críticas à obra, provocaram um atraso de 2 anos, com prejuízos para automobilistas, moradores e lojistas no local, para além do aumento de custos que provocou.

Zé da Burra o Alentejano

Anónimo disse...

Mesmo por de baixo da Ponte 25 de Abril existem edifícios onde moram pessoas, também uma Junta de Freguesia e um mercado. Caem pedras e por vezes até pessoas se jogam da ponte abaixo. Com a ponte por cima há prejuízos frequentes naqueles edifícios.

Quando se faz uma obra pública há normalmente quem seja prejudicado, por isso é-lhe devida uma compensação. O importante é que o pagamento seja realmente compensador. Lamento é que a resolução dos diferendos se arrastem por vezes durante décadas nos Tribunais!

Zé da Burra...