In Público (16/11/2007)
Inês Boaventura
«A Câmara de Lisboa quer fazer do local "um pólo de atracção tanto de dia como de noite" e promover a ligação ao vizinho Jardim Botânico
O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa anunciou ontem que nos próximos dois anos deverão estar concluídos o plano de pormenor para a zona do Parque Mayer e do Jardim Botânico, que abrange uma área de intervenção de 14,6 hectares, e a reabilitação do Teatro Capitólio.
A autarquia vai lançar, no dia 20, um concurso público de ideias para a área de 14,6 hectares, que além do Parque Mayer e do Jardim Botânico inclui os edifícios da antiga Escola Politécnica e a zona envolvente. O prazo para a apresentação de propostas, que serão depois utilizadas para a formulação de um programa urbanístico a integrar nos termos de referência do plano de pormenor, termina a 4 de Janeiro.
No que diz respeito ao Parque Mayer, a autarquia estipula que as propostas deverão prever a criação de "um conjunto de infra-estruturas culturais, complementares do Cine-Teatro Capitólio, destinado a novas valências na área do teatro, da música e das artes plásticas, assim como áreas destinadas ao recreio, lazer, restauração, comércio e outros usos", que transformem o local com 1,8 hectares "num pólo de atracção permanente, tanto de dia como de noite".
Quanto ao Jardim Botânico, a ideia da autarquia é que seja salvaguardado o "ambiente e carácter" e potencializado o "valor lúdico, didáctico e científico" deste espaço, promovendo-se em simultâneo a sua articulação com o Parque Mayer. As propostas a concurso deverão ainda prever "a reorganização e reabilitação dos edifícios da Escola Politécnica, vocacionando-os para um Museu de História Natural e Ciência e um conjunto residencial/hoteleiro vocacionado, entre outros, para investigadores e professores estrangeiros convidados".
Referindo que se trata de um concurso "aberto à população em geral" e não só a profissionais da área, o vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa explicou que este não impõe quaisquer limitações em termos de volumetria ou índices de construção e que deixa em grande medida em aberto a definição das valências a instalar. Ainda assim, Manuel Salgado defende que "não é um projecto de grandes intervenções e de grandes gestos, mas sim um projecto de remates", que se quer "auto-sustentável em termos ecológicos, culturais e financeiros".
"O declínio do Parque Mayer é manifesto. Os projectos têm sido múltiplos ao longo da última década, mais ou menos megalómanos e mais ou menos auto-sustentáveis, mas nunca se estabilizou uma ideia exequível", sublinhou o vereador, que acredita que não é com "megaprojectos" como o do arquitecto Frank Ghery que se recupera este "espaço mítico da cidade".
O júri do concurso, presidido pelo arquitecto Nuno Teotónio Pereira, seleccionará as cinco melhores propostas, que serão convidadas a participar num concurso limitado para escolher um projecto e uma equipa que, conjuntamente com os serviços municipais, elaborará o plano de pormenor para a área de 14,6 hectares. O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa acredita que esse plano poderá estar em vigor "até inícios de 2009", mas frisou que a intervenção a desenvolver na zona "não é coisa que se resolva num ano ou dois".
Presente na cerimónia de lançamento do concurso público de ideias esteve a vice-reitora da Universidade de Lisboa e directora do Jardim Botânico, que salientou a importância de ligar este espaço com 129 anos à cidade, através da criação de uma entrada de fácil acesso na zona da Avenida da Liberdade. "É uma malha verde importante neste tecido urbano cada vez mais fechado de Lisboa", defendeu Amélia Martins-Loução, lembrando que no jardim que está "entrosado na cidade sem se ver da cidade" existem "espécies vegetais de todos os continentes".
Também presentes no evento estiveram alguns dos comerciantes que continuam no Parque Mayer, que segundo o proprietário do restaurante O Manuel obtiveram dos representantes da Câmara de Lisboa a promessa de que a sua situação "está a ser analisada para resolver". "Isto é um deserto. Vamo-nos mantendo numa agonia à espera que venham trazer o cheque", lamentou Júlio Calçada, recordando que a empresa Bragaparques devia ter entregue o espaço à autarquia livre de ónus, no âmbito da permuta com os terrenos da Feira Popular.
"A câmara devia ter recebido o Parque Mayer sem nós cá dentro e nós devíamos ter sido indemnizados, e isso não aconteceu. Neste momento somos inquilinos da câmara", explicou o comerciante, que partilha o espaço com mais dois restaurantes, um guarda-roupa e um sindicato.
Manuel Salgado diz que o "declínio" do Parque Mayer não se trava com "megaprojectos" como o de Frank Gehry
A Câmara de Lisboa vai lançar para a semana um concurso público de "arquitectura, engenharia e equipamento cénico" para promover a recuperação do Teatro Capitólio de acordo com o projecto original do arquitecto Cristino da Silva.
Segundo o vereador do Urbanismo, a obra, financiada pelas verbas do Casino de Lisboa, deverá custar entre 8,5 e dez milhões de euros e idealmente estará concluída dentro de dois anos. O objectivo da intervenção, explicou Manuel Salgado, é recuperar "um edifício emblemático da arquitectura nacional", que está "completamente deturpado em relação ao projecto inicial", para que este possa ser utilizado de forma "flexível" por vários agentes culturais da cidade e por várias "artes do palco".»
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