In Público (21/7/2008)
Ana Henriques
«O PÚBLICO percorreu o centro da cidade com o arquitecto Manuel Graça Dias, apoiante de António Costa na campanha eleitoral, para fazer o balanço de um ano de mandato autárquico
Aos 55 anos, Manuel Graça Dias é uma das figuras mais conhecidas da arquitectura portuguesa, não tanto pelos projectos que desenvolveu, mas pelo papel que tem tido na divulgação da especialidade. Aos programas de televisão e de rádio que já teve somam-se vários livros e artigos na imprensa, sempre utilizando uma linguagem acessível. Com vários projectos premiados, foi no ano de 2000 autor de um polémico estudo de reconversão urbanística dos antigos estaleiros da Lisnave, em Almada, que nunca foi por diante, e que incluía edifícios de altura considerada exagerada.
Falta pouco para bater a uma da tarde de sábado e a maioria das lojas da Baixa prepara-se para fechar até segunda-feira. Uma turista pega num dos carrinhos eléctricos estacionados na placa central do Terreiro do Paço e ali vai ela Rua Augusta fora, evitando os peões e o menino pedinte que toca acordeão sob o grande arco, com um cãozito empoleirado em cima do instrumento.
Não é a indigência que faz mossa ao arquitecto Manuel Graça Dias, enquanto observa a figura da mulher a circular pela rua pedonal: "Não acho graça a estas mariquices para turistas." O que o irrita é o cenário de uma Baixa morta aos fins-de-semana - "Em Milão há magotes de gente às compras ao sábado à tarde", atira - e um Terreiro do Paço que a autarquia tenta animar com actividades "mixurucas", à mistura com esplanadas precárias, quiosques e roulotes de farturas. "Depois contrataram um monos da Escola de Circo. Quem quer ver palhaços vai ao Coliseu."
Apoiante de António Costa para a presidência da câmara, Graça Dias faz um balanço positivo deste primeiro ano de mandato -- mas deixa críticas à actuação do executivo. "Não tem interesse nenhum tirar o trânsito do Terreiro do Paço aos fins-de-semana", observa, qualificando a concretização desta promessa eleitoral como "patética". Animação de jeito nas arcadas sim; mas reservando a placa central para grandes acontecimentos espontâneos, como as ligadas ao futebol ou a manifestação de polícias contra polícias de 1989.
O arquitecto sabe que muita da revitalização do centro da cidade passa por quebrar a teimosia dos comerciantes, mas pensa que à autarquia cabe um papel: "Tem de haver maneira de envolver esta gente, nem que seja com vantagens fiscais para praticarem horários alargados." A seguir aponta para o lado, para o Martinho da Arcada: "É um restaurante bestial, mas uns amigos meus chegaram cá às 22h e já não lhes deram jantar." Por trás, até à Praça da Figueira, desenvolvem-se quarteirões de prédios pardacentos e esvaziados de habitantes. "Se não houver estacionamento, quem é que vem para aqui morar?" Os obstáculos que o seu colega de profissão Manuel Salgado, vereador do Urbanismo, parece estar a ultrapassar para facilitar obras destinadas a tornar mais habitáveis os edifícios da Baixa - como a introdução de elevadores, essencial para incentivar o povoamento desta zona - merecem a sua admiração. De resto, o alívio da carga burocrática associada aos licenciamentos parece estar a fazer-se sentir no resto de Lisboa: "Já o senti e colegas meus também." Podem ser boas notícias para os arquitectos de renome com trabalhos à espera de aprovação. "[Até porque] não temos assim tanta qualidade arquitectónica em Lisboa para desprezarmos Renzo Piano, Norman Foster ou Jean Nouvel."
Para estancar a desertificação da Baixa, a redução do IMI e a eliminação das taxas que incidem sobre as obras de reabilitação são instrumentos para salvaguardar a diversidade social, evitando que esta zona da cidade se transforme num ghetto de ricos. A promoção de habitação a custos controlados no centro, para gente de todas as idades, deveria, por outro lado, ser o principal objectivo da Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, defende o arquitecto.
Acabar com a praga
"São muitos problemas para resolver num ano. Há alguns indícios de que a Câmara de Lisboa está no bom caminho, Não há certeza absoluta", analisa, enquanto passa por carros estacionados em segunda fila e no passeio. Acabar com esta praga fazia parte das medidas que Costa tinha garantido levar por diante. Foi uma promessa "um pouco demagógica" - impossível de cumprir sem ser através de um policiamento avassalador. "Ainda não há uma oferta de transporte público que pela sua qualidade, preço e conforto desencoraje o uso do automóvel", refere. A mobilidade é das áreas em que o executivo menos pontuou: "Ainda não vi nada. É fundamental dar um murro na mesa e conseguir-se entrar em negociações com os operadores." E se algumas promessas foram tolhidas pelo facto de o Tribunal de Contas ter chumbado o empréstimo para saldar dívidas a fornecedores, este não será o caso. A nível cultural, entregar a Casa dos Bicos à Fundação Saramago foi uma decisão "feliz", mas o mesmo não se passou com a arte pública com letras e números gigantes que invadiu a cidade, mostra que custou ao município 290 mil euros: "Foi como comprar uma enciclopédia inútil a um vendedor porta a porta."
Que nota merece então este executivo, de zero a 20? O arquitecto opta pelo B, numa escala de A a D. A meio do mandato é cedo para fazer juízos definitivos... Acima de tudo, a vida na cidade só melhorará com medidas de fundo, defende. E essas não se põem em prática do pé para a mão. "Prometer que as passadeiras defronte das escolas vão ser pintadas? Faz parte das atribuições da câmara!" »
Descontando o facto de serem declarações de um apoiante da candidatura de A.Costa à CML, a verdade é que Graça Dias tem 100% razão no que toca aos transportes colectivos dee Lisboa, onde a CML continua a ser literalmente gozada.
O Metro não abre a boca de saída na Rua Ivens. O Metro não nivela o poço de ventilação da placa central do Rossio. O Metro continua com arranjos à superfície desgraçados (veja-se a Praça de Alvalade, por ex.). O Metro continua a empatar as importantes obras de ampliação dos cais que ainda restam na Linha Verde só para 4 carruagens. O Metro continua a projectar estações onde lhe apetece. O Metro continua a ter continuadas falhas de circulação, sobretudo na Linha Azul.
A Carris fecha carreiras quando e como lhe apetece. A Carris continua a ignorar o protocolo estabelecido com a própria CML para reabertura da linha de eléctrico 24. O transporte de passgeiros na Carris é feito como se transporte de mercadorias se tratasse.
A estação do Cais do Sodré da CP vive há mais de 10 anos uma situação de verdadeiro terceiro-mundismo: obras por acabar, bilheteiras provisórias sem funcionários, ausência de quaisquer condições de conforto para os passageiros nos cais, péssima sinalização dos horários de comboio para a linha de Cascais, etc., etc.
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2 comentários:
No entanto não esqueçer que Graça Dias sempre teve uma atitude "dinâmica e Modernaça" e relativizadora sobre as questões do Património em Lisboa.
Sempre defendeu a "cidade compacta" (Koolhaas) com construção de Arranha -Céus nas avenidas e sempre-a Manhattan de Cacilhas-!
Ele pertence à geração de Arquitectos que levou a "recuperações" (ah!ah!)como o Heron Castil e similares ( a próxima é na Rosa Aarújo).
Ver as declarações dele hoje no Público sobre a sujidade: "Podemos ter uma cidade com qualidade, apesar das ruas estarem um pouco sujas e saranpitadas com ´graffiti'.As pessoas que nunca foram à India e a Àfrica [???!!!!]não sabem o que é uma cidade suja.
Pois é .... Bué
De facto esta conversa de arquitecto-vedeta de arranha-céus é de gargalhada,lugares comuns que já não colam.
É preciso enterrar esta geração toda de vedetas de Graças-Dias, Salgados,Byrnes...que destróiem a cidade por sobranceria aos cidadãos,por megalomania e desrespeito da ESCALA de Lisboa.E por delapidação do erário público!!
O Parque Mayer,a Feira Popular e agora o Jardim Botânico (!)são delapidações,que, SE estas vedetas da arquitectura se opusessem a elas,seriam difíceis!
22-7-08 Lobo Villa
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