28/07/2008

Paula Teixeira da Cruz vai pedir esclarecimentos urgentes sobre prédio projectado para o Largo do Rato

In Público (28/7/2008)

«Edifício polémico vai a votos na Câmara de Lisboa na próxima quarta-feira. Vereadora do PSD sugere indemnizacão a promotores


A presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, a social-democrata Paula Teixeira da Cruz, vai pedir esclarecimentos urgentes ao presidente da Câmara, o socialista António Costa, sobre o prédio de grandes dimensões que dois nomes sonantes da arquitectura portuguesa projectaram para o Largo do Rato.
A volumetria do edifício desenhado por Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus é excessiva, considera Teixeira da Cruz, que se afirma muito preocupada com o caso, a escassos três dias da sua votação na reunião de Câmara. A vereadora do PSD Margarida Saavedra vai mais longe e assegura que a altura prevista para o imóvel, sete andares, viola o Plano Director Municipal. Num momento em que está a correr uma petição contra o projecto intitulada "Salvem o Largo do Rato", que recolheu até agora 3500 assinaturas, ninguém consegue adivinhar se a Câmara viabilizará ou não a obra na próxima quarta-feira.
Margarida Saavedra interrompeu as suas férias no Algarve para vir a Lisboa votar contra o projecto, que classifica como "um crime" capaz de condenar de vez o já maltratado Largo do Rato. O sentido de voto dos cinco vereadores independentes dos movimentos Lisboa com Carmona e dos Cidadãos por Lisboa mantinha-se ontem ainda uma incógnita. "Vou consultar o processo antes de tomar uma posição", dizia Helena Roseta, deste último movimento.
Ao mesmo tempo, defendia que casos polémicos como este, em que parecem estar sobretudo em causa questões estéticas, se justifica colocar os projectos à discussão pública. "Se depois de analisar o processo eu concluir que não houve irregularidades seria um abuso de poder votar contra ele", acrescenta. O facto de o projecto ser, nas palavras da ex-bastonária dos arquitectos, "dissonante" da sua envolvente não constitui, no seu entender, razão suficiente para o chumbo: "Senão nunca haveria inovação em arquitectura".
Já Margarida Saavedra não tem dúvidas sobre as questões legais: "A ser construído, o edifício será uma excrescência horrível no Largo do Rato. Mas não se trata meramente de uma questão de gosto. O número de andares baseia-se na média das cérceas [altura] dos edifícios da Av. Alexandre Herculano", para a qual o futuro imóvel também dá, "quando devia guiar-se pelas cérceas dos edifícios do Largo do Rato".
A autarca salienta que "a sindicância que foi feita aos serviços do Urbanismo da Câmara de Lisboa por uma magistrada do Ministério Público diz que o projecto contraria o Plano Director Municipal ". Margarida Saaverdra lamenta que os socialistas que governam a autarquia levem o assunto à Câmara numa altura em que muitos lisboetas estão já de férias. "É evidente que António Costa tem interesse em fazer aprovar o projecto", observa. Que interesse? "Deve estar a ser alvo de grandes pressões", responde, sem mais adiantar. Para Saavedra, o que está em causa não é a arquitectura do edifício, mas a sua desadequação ao local em que está previsto, onde existem palácios - a Procuradoria Geral da República e a sede do PS - e outros edifícios classificados, como é o caso de um edifício de Ventura Terra, do Chafariz do Rato, da sinagoga de Lisboa e ainda da garagem Auto-Palace.
Mas até que ponto não se está perante um facto consumado, uma vez que o projecto já foi aprovado pela Câmara no último mandato, por sinal na altura em que o PSD estava à frente dos destinos da autarquia? "Foram criadas expectativas aos promotores imobiliários", admite a vereadora social-democrata, "Mas a câmara pode indemnizá-los ou ceder-lhes um terreno noutro local", sugere, recordando que chegou a estar previsto para ali um jardim quando Jorge Sampaio presidia ao município.
O PCP deverá votar contra o edifício de apartamentos de 21 metros de altura e dez mil metros quadrados de construção. Tal como o vereador eleito pelo Bloco de Esquerda Sá Fernandes. Prevê-se que os socialistas votem a favor. "Terá detractores e entusiastas, pois não é um edifício anódino", disse em Novembro passado o vereador do Urbanismo Manuel Salgado, da bancada do PS. "Destaca-se de toda a envolvente, Como arquitecto, agrada-me", afirmou então. Ana Henriques
Um dos co-autores do projecto, Frederico Valsassina, e o responsável pela holding a que pertence a empresa que está a desenvolver o empreendimento imobiliário do Rato, Diogo Vaz Guedes, fizeram parte da comissão de honra da candidatura de António Costa à Câmara de Lisboa. Ex-presidente da Somague, Vaz Guedes lidera agora a holding Gespura, da qual faz parte a firma de investimentos imobiliários Artpura. "Sei que não é um projecto fácil. Vai levar algum tempo até a cidade o assimilar. É novo, as pessoas assustam-se, mas é mesmo assim. Não fazemos réplicas", disse ao semanário Expresso o outro autor do edifício, o arquitecto Manuel Aires Mateus.»

15 comentários:

Anónimo disse...

Não contem com Helena Roseta .... não esqueçer a sua ligação à Ordem dos Arquitectos e, apesar dos seus alibis "fracturantes", a sua mente é corporativa. A sua "cidadania" tem, indiscutivelmente, objectos políticos ... O que é impressionante é o grau de arrogância do arquitecto-criador (omnisciente e omnipotente) perante a cidade e a envolvente ...

Anónimo disse...

Objectivos políticos (claro .... em vez de objectos )
Fico nervoso e indignado com estes casos ....
A CIDADANIA EXERCE-SE !!!
NÃO VAI A VOTOS !!!
Não se deixem enganar com a Roseta ...

Arq. Luís Marques da silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arq. Luís Marques da silva disse...

Parece-me que uma presença forte, de todos os que defendem esta causa, é imperativa na próxima reunião de câmara de 4ª feira!!!

Arq. Luís Marques da silva disse...

Já agora, a inovação na arquitectura deverá ser feita não á custa da destruição do património edificado nem dos espaços consolidados na malha urbana antiga.
São duas atitudes a evitar, quando se produz arquitectura e se pretende inovar. É claro que se pode intervir nestas zonas; o que não se pode é destruí-las!!!

Paulo Ferrero disse...

Aos anónimos dos primeiros comentários apenas aconselho calma e justiça. HR é uma das poucas pessoas (2-3?) que conheço e que podem colocar a CML nos eixos, disso não tenho dúvidas nenhumas nem nunca tive, e não o digo por razões de Gabinete. Respeito sempre a sua objecção em questionar os projectos meramente por razões estéticas. Acho que o caso vertente é um caso, não de estética, mas de quebra evidente e radical do equilíbrio urbanístico de uma área consolidada e histórica de Lisboa, abafando uma série de exemplares de valor indesmentível: Casa Ventura Terra, Chafariz do Rato, Palácio Palmela, Sinagoga. Representa também um gravíssimo precedente, pois arriscamo-nos a ter no futuro próximo um quarteirão inteiro em transformação (lado da Papelaria Fernandes). Vanos ver;-)

Miguel Drummond de Castro disse...

Há aqui uma falácia de base no que diz o arq. Aires Mateus "é novo e as pessoas assustam-se".
Primeiro: nem tudo que o é novo é assustador.
Segundo: o edifício não é novo, no sentido dessa novidade absoluta que o sr. Arq. reclaama para a sua obra. É extremamente parecido, embora noutra escala, e com outro tratamewnto da fachada, do edifício da Pousada de S.Tiago do Cacém, recentemente inaugurada e fora de escala com a envolvência.

Além disso é uma obra caníbal: Vai destruir uma fonte emblemática, de um dos grandes arquitectos de Lisboa, e que estava em muito bom estado.

Se o Arq. em questão e a Cãmara acham bem que uma obra, por ser "nova", o que está por demonstar e é altamente controverso destrua peças emblemáticas da arquitectura portuguesa, então não há esperança nenhuma na nova arquitectura pºortuguesa que se apresenta como um bull-dozer, impante de ego, e senhora de um radicalismo que só tem uma explicaçâo: a iliteracia volumétrica e patrimonial absoulta.


Lembro ainda o que tantas vezes tenho repetdo: o arq,. Aires Mateus ainda não aprendeu a fazer escadas. Não sabe sequer faze escadas e quer transformar o rosto de Lisboa, que ºe uma cidade em altos e baixos, com colinas e vales e justamente, uma cidade de escadas e de escalas.

Anónimo disse...

Culpados, existem?

1. a CML, que teve anos e anos para definir regras de pormenor para aquela zona, justamente para evitar que depois pudessem aparecer estas propostas, e fez zero. Para quem diz que quanto menos plano melhor, fica à vista o resultado. E o que se está a passar na Av da República vai dar ao mesmo, mesmo.

2. o Carmonga e a Gabriela Seara, que aprovaram o que havia para aprovar - e o PSD, que deixou, votou, até deve ter empurrado. Não esqueçamos uma coisa: o que havia para aprovar foi aprovado. Dar agora compensações ao promotor para que não edifique é estar a pagar a cobardia laranja com o erário público.

3. o promotor, que se limita a explorar ao máximo a edificabilidade do terreno, sem qualquer capacidade de ir além dessa estreita lógica. quem está à espera do mercado e da iniciativa privada e da cultura dos empresários para salvar o País, bem pode esperar sentado.

4. o arquitecto, que nas palavras do Povo, bem pode limpar as mãos à parede. aquilo não é arquitectura, é um disfarce. e a única maneira de defender aquele mono é recorrer à lógica elitista (e anti-democrática, sublinhe-se) do crítico (arquitecto) Ricardo Carvalho nas páginas do Público (o povo não é capaz de ir além do gosto/ não gosto) ou a argumentos que só cabem mesmo na boca de arquitectos (vejam lá, aquela brutalidade vai equilibrar o outro "elemento pétreo" da zona... a Mãe-de-Água..!

5. o António Costa, que como tem o promotor e o arquitecto na sua comissão de honra, mais não faz do que agendar esta coisa para reunião de câmara pública, a fingor que assim é mais democrático, e não tem a mínima coragem de, em vez de se vergar à relação que tem com o promotor, a usar em benefício da cidade, apelando ao bom gosto e sentido de cidadania do promotor (parece que é um daqueles do compromisso Portugal, vejam só). o Costa está a demonstrar à saciedade aquilo que realmente é: um político da situação, que tem voz grossa mas nada mais para além disso; capacidade de dinamizar a mudança: ZERO.

6. a Ordem dos Arquitetos, que permanece caladinha que nem um rato, não vá alguém lembrar-se de lhes perguntar se concordam com o afilhado Ricardo Carvalho, se não acham que aquele mono é mesmo um mono, etc. etc.

para todos: bardamerda. isto vai-se afundando, e a gente a ver.

Anónimo disse...

(referindo-me aos último anónimo): Em cheio! E Bardamerda é pouco.
Isto é uma orgia de proxenetas, prostitutos e clientes.

Para além de todos os podres acima referidos, há a alcateia da classe desclassificada de arquitectos que temos e o seu covil. Todos incluídos. Todos, inclusive os estagiários que trabalharam no projecto mono e que aposto estão a estagiar de borla.

E porque tudo isto me dá vómitos e me deixa revirado, relembro algumas passagens de um post já antigo, num blog já extinto, com um tema génese de muitos problemas na cidade/país:

"Até há 2 décadas atrás, os arquitectos eram uma classe bem sucedida: com trabalho, com obra , com dinheiro e com personalidade. E tinham a Associação dos Arquitectos Portugueses, que agora deu lugar à malograda Ordem dos Arquitectos"

"Hoje os arquitectos triplicaram, o ensino da Arquitectura massificou-se, vulgarizou-se e tornou-se moda, porque afinal de contas, abrir um curso de Arquitectura, não implica laboratórios e hospitais como em Medicina...implica apenas uns quantos estiradores ( e nalguns casos suponho que até umas vulgares mesitas)"

“mais uns pais felizes que pensam estar a dar um grande futuro aos seus filhos, mais uns filhos sonhadores que pensam que se estão a dar a si mesmos uma grande profissão, mais umas cotas a entrar na ordem, mais uns estagiários à borla para os tubarões”

"Os arquitectos hoje, trabalham ( ou não trabalham) à borla ou em regime de escravatura ( a ganharem 3 e 4 euros à hora, fora os recibos verdes que têm que passar), portanto +irs no fim do ano...e começam a ser já muitos os que nem um estágio não remunerado conseguem arranjar, que é obrigatório para acesso à Ordem dos Arquitectos, Logo... Obrigatório para poderem exercer a profissão para que estudaram"

"Além de trabalharem à borla, há já muitos gabinetes que exigem que o estagiário leve o seu portátil para trabalhar , criando assim, quantos postos de trabalho desejem e evitando assim ter que pagar as licenças dos respectivos programas informáticos( autocad, photshop...)E são muitos os Arquitectos conhecidos da nossa praça, os chamados iluminados do "star system) que fazem isto. Os recém licenciados que acabam este estágio para ingresso na Ordem, e uma vez não integrados na empresa ( a maior parte, pois se há estagiários todos os anos), começam o seu pior pesadelo jamais imaginado....não encontram trabalho!"

"A ordem dos Arquitectos deveria sentar-se em tribunal e ser julgada, pela má prestação aos seus associados. os arquitectos que têm estagiários à borla deveriam ser punidos. Os estagiários que se sujeitam trabalhar sem serem pagos deveriam ser proibidos de entrar na classe. Tenham classe e sejam classe."

Data do post: 24 Outubro de 2006!

Completo aqui: http://arqportugal.blogspot.com/search?q=A+ordem+dos+Arquitectos+deveria+sentar-se+em+tribunal+

daniel costa-lourenço disse...

Desde quando alguém se habitua a um ovni canibal?

Lisboa está cheia deles?

Arq. Luís Marques da silva disse...

Meus amigos, calma que nem todos os arquitectos são assim; conto-me entre os mentores/redactores da petição que decorre, com todos os riscos e ameaças daí decorrentes. E há muitos arquitectos a subscrever e também a denunciarem casos como estes: Por exemplo a CM VFXira queria demolir o teatro Salvador Marques da Silva e um colega, com 27 anos, reuniu um grupo de Alhandrenses, interpôs uma providência cautelar e travou a demolição. Têm que admitir que neste país, é preciso coragem para tal.
Façam o favor de ser justos com os verdadeiros profissionais, porque acho que merecem!

Anónimo disse...

O que é que eu disse ontem sobre a Helena Roseta ?!
Já leram hoje no Diário Económico o artigo com o título: "Bloco de Esquerda troca Sá Fernandes por Helena Roseta" 'Concelhia de Lisboa perdeu a confiança no Vereador e pretende um nome forte para 2009'
Pois é ....
A Cidadania Exerce-se!!
A Cidadania não vai a votos !!

Lesma Morta disse...

Quando os homens se "vendem" ao sistema é o que acontece. A arte de servir o povo transforma-se na arte de se bem servir. Parece-me claro que há muito disso por aqui.

Lesma Morta disse...

Quarta-feira dia 30 na CML, sessão publica para aprovação deste projecto. Deve ocorrer por volta das 17 horas. Seria interessante que todos comparecessem.
Divulguem a petição a toda a vossa lista de contactos para amanha termos a força de uma espectacular representatividade, não obstante a recolha de assinaturas prosseguir até onde for necessario

Jorge Santos Silva

Anónimo disse...

E que dizer da própria Câmara de Lisboa que tem (ou teve) estagiários lá metidos pela Ordem durante anos sem qualquer remuneração?