25/01/2009

Demolir um erro para dar lugar a outro


Faz algum sentido demolir um bairro, de génese ilegal, no Parque Florestal de Monsanto e na zona de protecção do Aqueduto das Águas Livres (MN) para depois construir no mesmo local dezenas de feios blocos de habitação? Não faria mais sentido investir os milhões de euros que esta operação vai custar num projecto mais elaborado para alojar as pessoas nas centenas de imóveis abandonados que a CML possui espalhados por toda a cidade? Demolir um erro urbanístico para depois erguer outro erro urbanístico, com apenas a diferença de que o segundo é de iniciativa camarária, parece ser um absurdo que vai ficar para a história. E vai ser um problema que os nossos netos vão ter de resolver. Talvez lá para o ano de 2050, quando for unânime que o loteamento municipal de 2009 foi um erro, os nossos netos já andarão a preparar um grande projecto de expansão do Parque Florestal de Monsanto, demolindo o «Novo Bairro da Liberdade» de 2009, e enterrando o esparguete rodoviário e ferroviário que impede que Lisboa e Monsanto se toquem. Por esse ano também o governo português estará a preparar uma segunda candidatura do Aqueduto a Património Mundial da Humanidade porque a primeira, entregue em 2015, foi jumbada pela UNESCO por causa da «destruição do contexto do monumento provocada pelo Novo Bairro da Liberdade de iniciativa municipal» (como se pode ler nas actas da assembleia geral da Unesco em Osaka). Mas isso será talvez em 2050. Até lá vivemos em 2009, ou talvez ainda em 1979.

1 comentário:

Anónimo disse...

Só posso depreender com este post que o meu caro amigo nunca foi ao Bairro da Liberdade. Devia ter ido. Era uma lição de vida. Pelo menos para mim foi. Ver como um milhar de pessoas viviam em condições absolutamente desumanas com o belíssimo aqueduto aos seus pés. Mas o património não vale mais do que as pessoas. E aquelas pessoas passaram por coisas que o autor deste post não pode sequer sonhar, lamento mas não pode sequer visualizar se não se tiver passeado por aquele bairro, falado com os seus moradores. E o que os amparou - estes anos todos, anos demais - foi o consolo de estarem todos juntos, os vizinhos, que partilhando a miséria, tornando-a suportável, envergonhada mas suportável. O Aníbal, que vivia como um rato e junto deles, eu nãome esqueço do beco do A níbal e da ti Piedade. Então, se é feio ou bonito, se será um mamarracho ou não, pouco me importa francmente: aquelas pessoas merecem ter a melhor vista de Lisboa, merecem viver paredes meias com o pulmão da minha cidade, protegidas e ensombradas pelo aqueduto. Merecem, sobretudo, estar juntas, continuarem juntas, começarem uma nova vida juntos, porque juntos sobreviveram a uma irónica "liberdade".