27/01/2009

Portagens dentro da cidade

Segundo o Correio da Manhã, «entrar de automóvel nos bairros históricos de Lisboa poderá passar a ser possível apenas mediante pagamento. Trata-se de um projecto-piloto que a EMEL – Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa – está a desenvolver e que visa reduzir o tráfego em zonas como Alfama, Bica e Castelo». Esta mania de tratar alguns bairros como condomínios privados está a tornar-se perigosa e discriminatória.
Perigosa, porque qualquer dia achar-se-á normal - com a desculpa do trânsito e bem estar dos residentes - vedar o acesso de mais partes da cidade e do território a trânsito e pessoas "forasteiras".
Discriminatória, porque apenas permite o livre acesso a parte do território nacional a uma "casta" escolhida. Que diriam as alminhas bem pensantes que se lembraram desta genialidade caso se vedasse uma zona "rica" tipo Quinta da Marinha ou Lapa com portagens exorbitantes para afastar os pobres horrorosos?
p.s. - Estas portagens significam que vou ter redução no Imposto Único de Circulação que pago?

21 comentários:

Anónimo disse...

A água é um bem comum e o seu uso e acesso é tarifado precisamente por ser escasso.

Numa cidade como Lisboa o espaço público deteriora-se e o grande responsável é o automóvel. Por isso aplaudo esta iniciativa.

O argumento de NSS é falso e fraco porque isso não invalida que o acesso se proceda por outros meios; nomeadamente por esses apêndices de antanho chamados PERNAS. Não está relacionado com esse medo de segregação entre ricos e pobres. Nada

Menos choro.

Anónimo disse...

Tinha a sua graça que alguma CML disciplinasse ao menos as cargas e descargas, sobretudo nesse tipo de bairros. Mas nem disso eles são (foram) capazes.

Anónimo disse...

Depois os Centro Comerciais são quem arruína o comércio local ou a "vida nas cidades"... Pudera, com estacionamento muito bom e na maior parte das vezes, completamente grátis, quem não sabe escolher o melhor...

Anónimo disse...

Aposto que mais de metade dos comentários contra são de gente ressabiada e suburbana que adorava fazer parte da dita "elite" que vive no coração de Lisboa. Nesse caso o fórum certo é o da psicologialx e não o da cidadania...De repente todo o lisboeta quer passear a pé pelos bairros históricos, haja dó, basta ir à baixa ao fim de semana para ver quem por lá anda!

Anónimo disse...

Infelizmente os pobres horrorosos deslocam-se a pé...e caso tenham carro, o Estado lembrar-se-à certamente de criar um rendimento social de circulação...

Unknown disse...

Desculpa lá NSS, mas acho muito bem. Já há trânsito condicionado em alguns bairros em Lx e não faz absolutamente mal nenhum. Tanto refilam aqui contra o transito na cidade, mas acham isto mal? Há Metro, perninhas e electrico.

Aliás, eu acho que toda a Baixa devia ter uma congestion charge, como fizeram em Londres. Quem mora e tem estabelecimentos comerciais lá não paga, mas os restantes...

E sim, é preciso mais parques de estacionamento perto de centros de transportes, mas pode ser tudo feito ao mesmo tempo.

Anónimo disse...

Isto tem piada porque o trânsito em Alfama, Bica e Castelo não precisa de ser reduzido porque é inexistente. Ou já se esqueceram que nesses bairros só entra de carro quem é morador?
O que se passa é que a solução adoptada para o Bairro Alto não funcionou da mesma maneira em todo o lado, nomeadamente em Alfama em que a maioria da população não gostou da ideia de viver num condominio fechado.
Com esta nova solução pode-se abrir os bairros a não-moradores, satisfazendo a vontade dos que se opõem à entrada condicionada a moradores e ao mesmo tempo lucrar com isso!
Não é a redução de trafego que verdadeiramente importa (ele sempre foi diminuto nessas áreas) o que importa é o lucro no estacionamento disponibilizado com esta abertura a não-residentes.

Nuno Santos Silva disse...

E se os bairros circundantes estabelecessem portagens também? E se os concelhos limítrofes colocassem portagens à saída da cidade?
Bem, aqui a questão não é o direito de andar a pé, de bicicleta, ou como se quiser. Nem se trata aqui, Vanda, das "congestion charges" (que julgo não fazerem sentido para Lisboa; porque se a cidade expulsou centenas de milhares de pessoas para uma periferia desordenada, por que razão viria agora "puni-las"?)
A questão que quis trazer para debate é transformação de bairros de uma cidade em condomínios privados, com "check-points", acessíveis por automóvel apenas aos residentes, seja por sinais de trânsito que beneficiam só "residentes", seja por portagens.

Anónimo disse...

"Discriminatória, porque apenas permite o livre acesso a parte do território nacional a uma "casta" escolhida"

Quem tem automóvel é também uma casta escolhida.

Unknown disse...

Se os bairros circundantes forem historicos e estiverem sempre cobertos de carros, porque não?

Até concordo com o Anonimo 7:19, estou a tentar alugar casa num dos bairros historicos e seria simpatico familia etc ter acesso a minha rua, ainda de q com pagamento.

N percebo estas opiniões contraditórias - não concordamos todos que Lx tem carros a mais? Não será esta uma boa maneira de fazer com que as pessoas pensem duas vezes antes de levarem carro? E claro que bicicletas e andar a pé e etc têm a ver com isto - as portagens só se aplicam a carros, e, outra vez, não temos carros a mais em Lx?

tato disse...

Bem. Se isto for aplicado só a zonas aonde já o transito é vedado a pessoas de fora, se terá qualquer efeito é o de aumentar a quantidade de carros do q os existem nesta altura nessas zonas. Por isso acho que argumentos em ambos os lados vão por água abaixo. Neste caso vejo a unica razão desta medida ser acalmar os ânimos da malta de Alfama e afins que n gostou da sua zona tornar-se em condominio privado. Também seria bom pro negócio.
Se implementarem isto em outros bairros estilo penha de frança ou lapa então olha temos pena. Tambén nunca vou a esses bairros.

Nuno Santos Silva disse...

Vanda,
eu defendo o primado do peão sobre o automóvel, mas como disse, o que está em questão não é a "luta" peão/automóvel:
é a "privatização" de partes da cidade para benefício de alguns.
Além do mais o problema não reside no facto de termos carros a mais (isso é só um sintoma), mas no facto de termos pessoas a menos (a causa do problema).
Filipe,
qual o valor médio das rendas pagas nos bairros cujas ruas que se quer privatizar? Quem é de "casta escolhida", aquele que paga uma rendas baixíssima no centro da cidade, ou aquele que teve de fazer pela vida e comprar uma casa na periferia, mal servida por transportes públicos?

Unknown disse...

NSS, acho que não vamos lá :) Não é privatização - ninguém te barra a entrada se quiseres ir para lá passear. Até podes entrar de carro se quiseres mesmo, que não podes agora. Não estamos a falar em Checkpoint Charlies! Estamos a falar em bairros historicos que devem ser preservados, e ao mesmo tempo deixar com que pessoas de fora que têm mesmo que lá ir de carro possam lá ir, que não podem agora! Não é mais privatizado agora, como está?

Anónimo disse...

"Não estamos a falar em Checkpoint Charlies!"

Queria comentar mas a Vanda disse tudo!
Quem me dera a mim viver num destes "condominios privados" sem carros em vez de gramar o comodismo de quem "privatiza" os passeios com carros...

Nuno Santos Silva disse...

1- Vanda, percebo o que dizes, e percebo que compreendeste o meu toque propositadamente demagógico :)
Mas a questão que coloco mantém-se: se os bairros circundantes tiverem portagens, os habitantes para sairem - de carro - terão de de pagar...
2- Pedro M. - Você tem toda a razão quando diz que o estacionamento selvagem é uma apropriação privada e abusiva do espaço público. Mas discordo da sua associação do estacionamento selvagem à inexistência de portagens, até porque não vejo ligação lógica entre esses dois factores.
3- Questão que referi no "post scriptum" e que foi ignorada é o facto de os carros (ou os seus donos, para ser mais exacto), na pletora de impostos a que estão sujeitos, pagarem um imposto de circulação pelo território nacional...

Anónimo disse...

3- Então problema é o imposto que funciona cumulativamente de forma injusta- se se alterar isso para incentivar condicionamentos de trânsito em áreas centrais das cidades tanto melhor.

O carro é um meio de transporte individual fundamental mas nas cidades está fora do habitat em que é mais eficiente, tornando-se um obstáculo e influenciando negativamente a qualidade do ar.
Tal como nas auto-estradas não se pode circular a pé...

Anónimo disse...

"basta ir à baixa ao fim de semana para ver quem por lá anda"

Anda muita gente: turistas, imigrantes, sem abrigo, traficantes, visitantes, e alguns moradores, que são poucos.

Anónimo disse...

"toda a Baixa devia ter uma congestion charge, como fizeram em Londres. Quem mora e tem estabelecimentos comerciais lá não paga, mas os restantes..."

A congestion charge é paga por todos os que circulam dentro da mesma, incluindo moradores e comerciantes. Estes, no entanto, pagam apenas 10% da tarifa (£8 se paga no dia, £10 se paga no dia seguinte. Têm também desconto os veícluos híbridos e eléctricos.

Estão isentos de congestion charge as motas, táxis, ambulâncias, veículos para uso de deficientes motores, e claro, transportes públicos.

Unknown disse...

R Dias, penso que não fui clara no que estava a tentar dizer - não concordo com moradores e comerciantes pagarem. Faltou ali um "mas" :)

Miguel Carvalho disse...

NSS,
eu faço minhas as palavras do TMC e da Vanda..
mas só por curiosidade, para que a discussão faça mais sentido, o que sugere então em alternativa?

Nuno Santos Silva disse...

Miguel, em alternativa sugiro:
1- limites de velocidade muito reduzidos nas zonas históricas e habitacionais (as zonas 30 são um bom princípio);
2- com lombas e passagens de peões elevadas como medidas activas de redução da velocidade;
3- fiscalização do estacionamento selvagem (em cima do passeio, em segunda fila, para além da hora paga no parquímetro);
4- last but not the least, que seja aplicado com efectividade um regime de cargas e descargas, para evitar que as ruas e passeios estejam ocupadas a toda a hora por elementos perturbadores.
O problema não é haver muitos carros a circular. O problema é haver muitos carros a circular depressa, muitos carros estacionados em segunda fila ou em cima dos passeios e, muito importante, o problema é também (noutras zonas da cidade) a via pública estar transformada em mero logradouro de vias rápidas.
Defendo assim que o automóvel deve poder ir a todo o lado, mas subordinado ao primado do peão.