07/09/2009

ExperimentaDesign Vamos ter um jardim com uma casa na árvore

In Público
Por Alexandra Prado Coelho


«A ExperimentaDesign 2009 aceitou um desafio da Câmara de Lisboa para revitalizar um jardim da cidade. Juntou uma equipa e repensou de cima a baixo o Jardim de Santos. Plantas tropicais, música feita a partir do ecossistema, uma casa na árvore para vermos o Tejo. Um jardim - transformado por designers - como Lisboa nunca teve. O P2 revela como vai ser

Imagine um jardim para si. Uma casa no topo de uma antiquíssima árvore cujos ramos ao longo do tempo se foram estendendo como cabelos de bruxa revoltos pelo vento. Pode subir até lá acima, sentar-se no topo da árvore e ver o Tejo. E depois descer e entrar na cafetaria, consultar informação sobre os espectáculos que pode ir ver nesse dia, beber um sumo, comer alguma coisa.

Imagine um jardim onde, num determinado ponto, e só aí, pode ouvir música programada por um artista a milhares de quilómetros de distância, noutro ponto do mundo. Gravados nas árvores, à volta, estarão sinais - como nomes de namorados inscritos um dia em segredo - que indicam onde fica o quê na zona. Imagine que no chão há jogos para crianças em que o velho berlinde se mistura com o imaginário dos jogos de computador, que o cheiro de plantas tropicais enche o ar, e que à noite uma luz quente transforma o jardim numa festa ao ar livre.

Por enquanto nada disto existe - ou melhor, existe apenas nos projectos, ideias e desenhos da equipa que a bienal ExperimentaDesign 2009 reuniu para o projecto de reabilitação do Jardim de Santos, em Lisboa, e que serão apresentados numa exposição no próprio jardim no dia 9 a partir das 19h30. O que se espera é que, terminada a intervenção (um desafio que partiu do vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes), o velhinho Jardim de Santos, ensonado durante o dia e rodeado de animação à noite por causa dos espaços que nos últimos anos foram abrindo na zona de Santos, se transforme num novo jardim - com casa na árvore, música, sinais nas árvores, jogos no chão e cheiro de plantas no ar.

Uma das grandes mudanças será a alteração no trânsito (já aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa): os carros deixarão de passar pela rua em frente ao teatro A Barraca (mantém-se apenas a passagem dos eléctricos), passando a contornar o jardim, que será alargado até aos edifícios.

Este é, nas palavras de Guta Moura Guedes, a directora da ExperimentaDesign, um projecto de intervenção urbana "de chave na mão", ou seja, a proposta foi aprovada pela câmara mas toda a responsabilidade pela concepção e execução é da Experimenta. A equipa convidada é composta por João Gomes da Silva (arquitectura paisagista), Fernando Brízio (design de equipamento), Pedro Ferreira e Rita João/Pedrita (design de equipamento), Rui Gato (música e sound design), José Álvaro Correia (design de luz), e António Silveira Gomes/Bárbara Says (design de comunicação).

O projecto - que, entre outras coisas, pretende mostrar como o design pode ser usado para melhorar os espaços públicos - está orçamentado em 1,2 milhões de euros, sendo o financiamento também da total responsabilidade da Experimenta (que reuniu um consórcio com vários parceiros e patrocinadores). Quando o trabalho estiver concluído, a manutenção do jardim passará para a câmara, enquanto a manutenção dos conteúdos (informação, música, etc.) continuará a ser responsabilidade da bienal.


O jardim

A discussão sobre a identidade deste jardim (Nuno Álvares, de seu nome oficial) foi o ponto de partida para tudo o resto. O que João Gomes da Silva, arquitecto paisagista, propôs foi devolver-lhe o seu "carácter exótico e único", que vem da acumulação da "matéria da memória colonial" com "árvores de nomes estranhos, formas da estepe africana ou da floresta brasileira". E, ao mesmo tempo, "abrir o jardim à luz e ao espaço que o circunda, mas criando zonas de maior intimidade e serenidade". Tirando as grandes árvores, com a passagem do tempo o espaço foi sendo ocupado por vegetação que já não tinha nada a ver com o jardim original. Por isso, o arquitecto paisagista defendeu a necessidade de devolver "a exuberância cromática, de cheiros, de alegria" de outros tempos. E no centro do jardim surgirá "uma clareira de relva côncava, rodeada e coberta por raras plantas exóticas".

A casa na árvore

Desde o início que "toda a equipa estava fascinada com aquela árvore" no centro do jardim, conta Guta Moura Guedes. Por isso foi muito bem recebida a proposta do designer Fernando Brízio para que os frequentadores da zona pudessem ter aquilo com que qualquer criança sonha: uma casa na árvore, onde, neste caso, "se pode estar ao nível dos ramos e ver o rio".

A parte de baixo deste novo equipamento do Jardim de Santos terá uma cafetaria (com painéis de vidro amovíveis, podendo ser totalmente aberta quando está calor), esplanada, um espaço de venda de livros e revistas, e um ponto de informação sobre o que Lisboa pode oferecer na área da cultura contemporânea, para além de zonas de criatividade interactivas e lúdicas.

A "casa" será em metal, com a plataforma suspensa implantada em torno da árvore, junto aos ramos (a uma altura de 3,30 metros), longe do barulho, e ligada ao chão por três escadas. Dentro da plataforma, que é aberta mas tem pequenas "paredes", haverá bancos de cortiça onde as pessoas se podem sentar ou deitar.

O equipamento

Para podermos estar no jardim, os Pedrita conceberam um conjunto de assentos (bancos, alguns deles com encosto), de vários tipos, para diferentes usos e momentos do dia ou da noite - tendo em conta que o jardim terá um tipo de utilização diferente consoante as horas. Os assentos estarão espalhados por vários pontos e adaptados a eles, "aproveitando os desníveis, os espaços menos expostos e a possibilidade de usufruir ao máximo do sol".

O material escolhido é uma combinação de betão com cortiça - criando, diz Guta, "uma estrutura suave que amortece o impacto do corpo". Esta é, segundo os Pedrita, "uma conjugação invulgar, que inverte os papéis à partida definidos: a cortiça surge como elemento base, estrutural e trabalhado em bloco [o interior do banco]; e o betão como superfície de contacto [na qual nos sentamos], trabalhado formalmente em lâmina".

O som

Este é, declara Guta Moura Guedes, um "ponto absolutamente revolucionário" na forma de nos relacionamos com um jardim em Lisboa. O desenho de som concebido por Rui Gato tem várias camadas. Haverá altifalantes hipersónicos estrategicamente colocados pelo jardim que vão criar "sweet spots", pontos muito específicos (com um raio de apenas dois ou três metros) nos quais podemos ouvir sons ligados ao passado, presente e futuro.

Expliquemos: os sons do "passado" são criados a partir de "uma base de dados sónicos e musicais a partir da interpretação das sequências de ADN das diferentes espécies vegetais do jardim e sua transposição para informação musical" ou das "características morfológicas dos sons naturais", do canto dos pássaros ao vento ou à chuva. O "presente" intervém quando, sobre esta base de dados, um sistema informático "modula a matéria musical através de sinais do meio físico registados no momento", e que variam com a hora do dia ou da noite, a temperatura, a humidade, etc.

Por fim, o "futuro": haverá um interface web disponível na cafetaria/Info Point ou através do computador (pela rede wireless) no qual poderemos "desenhar a nossa própria reconfiguração do ecossistema" durante um curto período. Além disso, acrescenta Guta, "podemos desafiar um artista em qualquer ponto do mundo a enviar inputs". Se todo este som é muito discreto e muito focado durante o dia (só ouvido nos tais sweet spots), à noite pode ter uma versão "mais colectiva", criando outro ambiente no jardim.


A luz

Foi José Álvaro Correia quem trabalhou a luz. Um dos objectivos é "tornar o espaço mais seguro para circular e estar", nomeadamente à noite, altura em que a animação se instala na zona de Santos. A luz geral pretende "acentuar a escala das árvores num efeito de cúpula, reflectindo depois a luz nas zonas de permanência, lazer e circulação". Há também uma luz pontual, que introduzirá cores quentes para "uma atmosfera envolvente e descontraída", que será complementada por uma luz lúdica (aqui entra, tal como no som, a possibilidade de intervenção do utilizador). Por fim, haverá uma luz circundante com uma tonalidade alaranjada, banhando o jardim numa atmosfera quente.

A sinalética

António Silveira Gomes partiu de uma ideia muito simples: as inscrições que as pessoas fazem nos troncos das árvores, desenhos, nomes, mensagens, marcas de uma passagem. Nas notas sobre a intervenção, o designer lembra práticas culturais que exploram esta "relação entre homem, árvore e cidade", como o Tree-Dressing (vestir as árvores) na Índia, Japão e Inglaterra; o Tree Carving (gravações nas árvores) nos EUA, e os Wish-Trees (colocar desejos escritos em etiquetas em certas árvores).

É assim que vai ser a sinalética no novo Jardim de Santos. "São feitos cortes superficiais nas árvores e é usada uma tinta que não tem qualquer perigo para a árvore", garante a directora da Experimenta. Serão assim dadas direcções para espaços culturais nas proximidades, orientações dentro do jardim e informações sobre as próprias árvores.

O designer propõe também jogos lúdicos no chão, aproveitando por exemplo as tampas de caixas subterrâneas de serviços vários, que normalmente se tentam esconder. Em vez de esconder, Silveira Gomes quer tirar partido delas, desenhando num baixo-relevo suave jogos/labirintos, misturando a lógica do jogo do berlinde com a da playstation - uma forma também, sublinha Guta, de "fugir ao estereótipo de ter uma zona separada para as crianças". Afinal, não é este um jardim com uma casa na árvore para os adultos realizarem o seu sonho de infância?»

36 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma fantasia da experimenta design com consequências imprevisiveis tal como os estacionamento nas Portas do Sol.
Quem poêm cobro a esta gruta fura bolos? E mais a pseudo elite que lhe gravita em volta?

Susana Neves disse...

«Poderia ser interessante a ExperimentaDesign fazer uma performance neste Jardim Histórico mas condicioná-lo à visão de um grupo de designers parece muito redutor.
Não se trata de um jardim particular mas público e, portanto, deveria manter-se como um espaço que permitisse as mais diversas formas de fruição.
Pessoalmente não procuro num Jardim o mesmo que procuro num Centro Cultural ou Comercial.
A ideia de ver inscrições nos troncos das árvores aparece-me como uma ocultação da escrita natural que os mesmos encerram, para quem tenha vontade e capacidade de os ler.
O mesmo poderia dizer das propostas auditivas que se desenham para este Jardim como se os pássaros que o habitam tivessem sido de súbito atacados por uma doença que os silenciasse.
Em Lisboa, existem poucos espaços onde uma pessoa possa descansar, meditar, conversar, ler, desenhar sem ruídos, nem artíficios ou estímulos.
Não é verdade que o jardim esteja "ensonado" ou seja "velhinho", as árvores, como se sabe, já vivem neste planeta há muito mais tempo do que o ser humano, e por isso não é possível entender a sua idade nem a sua postura com os mesmos parâmetros (preconceitos) com que nos avaliamos.
O Jardim de Santos está cheio de vida, tem vida própria, e a presença humana é muitas vezes prejudicial à sua centenária alegria.
A insistência em animar os jardins supõe uma terrível realidade: a de que os seus visitantes não têm capacidade de se descobrirem e descobrirem o espaço livremente.
Um grande desafio para quem tem jardim interior.»

Susana Neves
autora das crónicas "A Casa na Árvore" (TL)

Anónimo disse...

Já lá dizia o meu Avô: Deus nos dê saúde física e mental até à hora da morte.

O Jardim de Santos precisava era de arranjo, limpeza, manutenção e que o deixassem em paz para em paz o cidadão o usufruir.

Metam essas fantasias num sítio que eu cá sei...

Anónimo disse...

Mais ditadura do "design" a experimentar destruir, em nome da "revolução", outro jardim.

Casa metálica, em cima de uma árvore, para ver o Tejo. Metal e árvore dão-se mesmo bem. Porque não uma casa de madeira. Porque não ver a árvore primeiro?

Uma proposta de som que na banda sonora tirada das sequências do ADN, inclui os sons do momento presente: os ruídos do trânsito, sirenes de ambulâncias. Inolvidável.

as árvores "marcadas", laceradas com uma estupidez semelhante à que os "namorados" inscrevem nas árvores. Graffiti vegetal.

Um bar no jardim. Realmente há falta de bares naquela zona.

Luminotecnia: fim do sossego dos poucos pássaros que dormiam nas árvores desse jardim.

A confusão pirosa de cosmoplotismo e "modernidade" electrónica em todo o seu esplendor.

Ou seja, a "animação" do jardim vai matar a alma do jardim.


"Guta" acrescenta que quer fugir ao "estereotipo de ter uma zona separada para as crianças." Criação de outro estereotipo, o de todos iguais etariamente. os adultos tem a sua casinha na árvore para realizarem o seu sonho de infãncia, os miúdos realizam o seu sonho de adulto ocupando tudo.

O infernal jardim das delícias da Experimenta, abençoado pela Câmara em vésperas de eleições. apresentado como "cosmopolita" e repleto de "funcionalidades". (Nunca mais desaparece o enorme cadáver do funcionalismo?)

Será que desta vez chegamos à Lua?

Ah, substituição do mobiliário: bancos de betão para todos adultos e jovens poderem articular "o berlinde com a playstation."


Parece um manifesto modernista feito em baixa da Baneira.

Anónimo disse...

Olha se o Santana Lopes tem avançado com uma idiotice destas, o que para aí não ia...

Rodrigo disse...

já estou mesmo a imaginar o cheiro a urina que a casa da árvore terá... Não se pode ter nada que é tudo estragado logo, riscado, vandalizado, etc.

Anónimo disse...

Há também uma luz pontual, que introduzirá cores quentes para "uma atmosfera envolvente e descontraída", que será complementada por uma luz lúdica (aqui entra, tal como no som, a possibilidade de intervenção do utilizador). Por fim, haverá uma luz circundante com uma tonalidade alaranjada, banhando o jardim numa atmosfera quente.

Anónimo disse...

O que eu às 4:07 queria mostrar é a total idiotice e imbecilidade da coisa.

Morador na zona disse...

Ó senhores que têm prática de como essas coisas se fazem: arranjem um movimento, uma petição, um embargo, qualquer coisa que salve o jardim da maluqueira.

PLEASE!!!

Ó da Guarda! disse...

E a alteração do trânsito é completamente aberrante.

É para o jardim ficar cheio de carros à noite, como já acontecia antes das férias de Verão.

Sem falar que a gincana que carros e autocarros vão ter de fazer só vai complicar o trânsito na zona.

Irock disse...

ganhem juízo! bando de velhos do restelo! não se pode fazer nesta cidade nada que seja minimamente inovador que caem logo todos em cima! Aposto que a maioria dos comentadores nem se lembrava que o jardim lá existia até hoje!

Felizmente que este tipo de pessoas não tem tanto poder como desejaria, ou ainda estaríamos a viver em cabanas e a ir cagar à mata!

Anónimo disse...

Em vez de limparem os jardins, arranjarem as ruas, a iluminação e limparem a cidade (que é para isso que servem as câmaras), andam nestes folclores.

Arq. Luís Marques da silva disse...

Mais uma "mijadela de cão" para marcar o território. O que interessa é notoriedade dos autores; elevá-los ao Olimpo dos Deuses.
Enfim, menos um jardim e mais um projecto...

Brive disse...

E a CML funciona lindamente. Nessa tal rua de onde vai ser retirado o trânsito, andou ultimamente a EMEL a instalar parquímetros e a pintar os lugares...

Sinceramente, só com um gato morto na cara até ele miar...

Raquel disse...

Não acredito, trabalhei muitos anos no prédio amarelo que fia em frente(hoje ERC- será?) e quando perto do quiosque que lá existe me lembrei de pedir à Câmara uns bancos de jardim para as pessoas poderem usufruir do espaço que até era um Posto Clínico muito frequentado, depois de muita insistência lá vieram os bancos que foram retirados após esta nova intervenção. Pouco tempo lá estiveram, donde concluo que o bem estar das pessoas não é prioridade da Câmara é preciso é fazer "bonecos" para a fotografia

Anónimo disse...

É assim. Os autocarros 727 e 60, que vêm das Janelas Verdes, chegando defronte da estação dos comboios, em vez de prosseguirem em frente, vão ter de esperar pelo semáforo para entrarem na 24 de Julho.

Andados duzentos metros, têm de esperar novamente pelo semáforo para saírem da 24 de Julho e virarem para a D. Carlos I.

No sentido contrário, a mesma coisa.

Só que pela ordem inversa.

Realmente, é muito prático e dá imensa vontade de andar de transportes público a perder tempo graças à maluquice que reina numa cmL que não consegue resolver os problemas mais comezinhos.

Anónimo disse...

acho a ideia boa até. o jardim precisa de remodelação.

perda de lugares de stacionamento? há um parque subterrânio a 20 metros. por favor!

Anónimo disse...

Enfim...

A EMEL andou em Agosto a colocar parquímetros e a pintar os lugares na rua onde o trânsito vai deixar de circular, mas há quem ache tudo bem.

Há lisboeta que tem o que merece, e até tem demais.

E só quem desconhece a zona e NUNCA ATRAVESSA A RUA que se pretende fechar pode ignorar a perturbação que o desvio irá forçosamente provocar.

Anónimo disse...

Nem os pobres pássaros terão paz.

Esses designers são na realidade umas vítimas de alucinações. Só com internamento urgente.

Anónimo disse...

O cosmopolitismo visto pelos provincianos da "inovação" a qualquer preço dá estes jardins adiscotecados, com luz quente, laranja. Nem um paraíso artifical será, ao menos fosse. Apenas uma montrinha para os egos dos designers, sonoplastas e arquitecto-paisagista.

Canalizem o dinheiro para a limpeza e manutenção dos jardins de Lisboa, e para fazer novos jardins, de raíz.
Mas este jardim, espaço de apoio das tabernas adjacentes,tal como está conceptualizado e concebido é de um novo-riquismo total.

Miguel Álvares

Anónimo disse...

irock dixit : "aposto que a maioria dos comentadores nem se lembrava que o jardim lá existia até hoje!"

Por mim perdeu a aposta. Para inovar de facto é preciso ser original. Naquelas propostas nihil novum sub sole. Já tudo aquilo foi feito (e desfeito por protesto público dos moradores) em Amesterdão, Nova Iorque, Paris, Berlim e Londres.


Os velhos do Restelo neste momento são os da parolos propagandistas da "inovação", e da "modernidade." dois conceitos postos em causa pelo alter-modernismo.

Simão Carriço

Anónimo disse...

Por que raio não serão estes designers contratados para ajardinar aqueles paquetes modernos onde tudo é falso?

Eu diria que, se calhar, é porque não valem nada...

Glyednes disse...

Sugiro que a ExperimentaDesign 2009vá brincar com uma floresta africana.

Anónimo disse...

párem de destruir ideias decentes, seu bando de ressabiados. a vossa vidinha de funcionários públicos é frustradeca, não é?

Anónimo disse...

Uma afirmação extraordinária do texto do ExperimentaDesign é que a sua intervenção no Jardim de Santos vai "constituir um legado para a cidade."
Julgar-se-ia que o legado para a cidade é o próprio Jardim e a memória de quem primeiro o concebeu e lhe deu forma. Mas não, o legado será a intervenção do dito ExperimentaDesign, que descaracterizou aquele espaço, e lhe tirou os seus valores, substituindo-os pelos da estética de um centro comercial qualquer, que se reclama de cosmoplitismo só porque dispõs de uns gadgets teconológicos triviais.
Ora o que os jardins tem de crucial e de repousante é justamente não precisarem de quase nada para estarem animados. As árvores são seres animados, para quem vê.
Mas sucede que são os cegos a promover definições do que seja cosmopolítica, e a fazer design, querendo susbtiotuir os belos bancos de madeira e ferro por bancos de betão, entre outras coisas. Como a ideia peregrina da sonoplastia: quando o que se se deseja num jardim é um pouco de silêncio quer contraste com o bulício da cidade.

Luís Pontes

Isabel disse...

isto vai ser giro.

o pessoal do design vai começar a levar com os putos bêbados daqueles bares, que para aí levarão as suas garrafas de vidro e copos de plástico e urina de cerveja. para não falar dos vómitos.
vai ser de vanguarda ver esses dois mundos num mesmo espaço.

resta saber quem vai sair primeiro.
vai uma aposta?

Anónimo disse...

# anónimo dixit " párem de destruir ideias decentes, seu bando de ressabiados. a vossa vidinha de funcionários públicos é frustradeca, não é?"

Não são ideias originais,caro anónimo, são conceitos velhos do modernismo e do funcionalismo tecnológico, que estão arqui-datados.

Transformar um jardim num mc~donald, com son et lumière,( e fazer bancos de betão, quando tem aqueles belos bancos observáveis na foto,)tem a sua piada um dia ou outro, mas não sempre. Nunca todos os dias, e sobretudo, todas as noites.

Uma casa de metal em cima de uma árvore é uma aberração. Porque não de madeira, de simples madeira, que é como as casas na árvore, as que tem bom gosto e sentido de integração tem?


Quanto ao ressabiamento deve ser só seu e fique a saber que nem toda a gente é funcionário público neste país.

Nem tudo o que parece novo é de facto novo. Nem tudo o que se afirma cosmopolita é de facto cosmopolita. O discurso do ExperimentaDesign só ilude os incultos e os semicultos.

Resta ainda que esta "intervenção" se tornou um facto político. A Câmara que não faz nada ou quase nada pelos jardins de repente, em véspera de eleições, apoia esta "remodelação" arrogante de um jardim. Porque não investe o seu dinheiro. que é nosso, dos municipes, em preservar os jardins existentes? Em vez de criar um mono artificial, de uma banalidade desoladora?

Luis Pontes

Anónimo disse...

Todos os ditadores, desde Mobutu a Ceascescu, de Idi Amin a Hitler, e de Salazar a José Sócrates gostam de deixar "marcas" e quantas mais e maiores e mais modernas, melhor.

O ExperimentaDeisgn face a um jardim que a jornalista Prado Coelho considera "sonolento" durante o dia, sem explicar porquê, e animado durante a noite, (pela boémia rotineira da brigada de copo na mão da night), propõe-se dar um choque tecnológico no jardim e "revitalizá-lo." Parecem ecoar a ideologia do Ascenso Mestre Celestial que presentemente nos governa

Mas como vão estes novos messias de jardins, os soi disant designers, revitalizá-lo?

a) Com jogos de luz nocturnos destinados a criar "intimidade" (mas não foi feito o estudo de impacte ambiental sobre a vida nocturna dos pássaros nem sobre a das árvores e das pessoas que vivem na imediata vizinhança do jardim)e tons alaranjados que o luminotécnico considera "quentes", como se não se estivesse farto das féeries alaranjadas nocturnas que impedem de ver a abóbada celeste na maioria das cidades.

b) Com sonoplastia, a partir de colunas hipersónicas, que musica sequèncias de ADN, e injecta por cima ruídos do presente (transito e sirenes de ambulâncias) e canto de passarinhos, numa salada mista sonora que obviamente assassinará qualquer pretensão a lugar de silêncio e calma que o jardim pretendesse ter - formando um pólo necessário de contraste com o bulício mecãnico, maquinal e robótico da cidade.

c) Com uma casa metálica no topo de uma árvore, que a cãndida jornalista Prado Coelho que vê nos ramos de uma tipuana "os cavbelos de uma bruxa julga que vai cumprir o papel de satisfazer os sonhos de crianças dos adultos. Ora as casas nas árvores, que estão de resto na moda, nunca são metálicas, são obivamente et par cause, de madeira. Nos sonhos das crianças certamente não havia metal, material horrível para uma casa, porque evoca os contentores, bunkers, um mundo de maníacos hipo-estésicos.

Em baixo da casa na árvore, que em todo o caso deveria ser um local secreto e de recolhimento, estará um bar ou um quiosque, em actividade para os noctívagos e diurnos. Como se resolve esta contradição insanável entre o recolhimento e o ruído de um bar, que é um local de passagem permanente?


A "revitalização" passa por impor marcas nas árvores, uma sinalética do local. Por impôr um bar, onde a cãndida Prado Coelho se imagina a ler os roteiros dos espectáculos da noite.

Esta "revitalização" surge, ao contrário como um abafamento, como uma agressão aos pássaros frequentadores do jardim, às árvores, aos moradores que vão ter de levar com colunas hipersónicas, aumento da luminosidade artificial e isto, não um dia, mas de forma constante.

E tem a subida lata de dizer que vão preservar o eco-sistema! No fundo estão a tornar um jardiml a todos os títulos aprazível, que precisaria de ser melhor tratado e talvez tirar o asfalto e susbstituí-lo por outro tipo de passagem, e pouco mais.

Mas o fantasma da hiper-intervençao atacou os designers. Querem uma revolução! Modificar o jardim de alto a baixo. Vão fazer a revolução de Outubro dos jardins para outro lado, por favor.

Se fosse por uns dias o espectáculo de luz e som - se o jardim como espaço público servisse para outras actividades, de vez em quando, tudo bem, mas transformá-lo numa cena espectacular night and day non stop, cansa. A sociedade do espectáculo e da hiper-estimulação tem os dias contados. No fundo é muito decadente o que se prepara com este projecto de jardim que interrompe, com radical brutalidade, e insensibilidade anexa, a memória e o presente deste jardim.

Luís Pontes

Rui Mateus disse...

Obviamente, nenhum destes designers e poucos dos comentadores deste blog conhecem a realidade de Santos.

- o sítio é dos mais barulhentos de lisboa. mesmo sem a confusão dos bares e dos teenagers, o tráfego automóvel deve ser mais que suficiente para impedir os visitantes de ouvir o dna das árvores...
- a proliferação de bares ilegais para teenagers deve também ser mais que suficiente para degradar rapidamente a intervenção destes designers. teremos estes teenagers a urinar para as árvores, a vomitar na "sinalética", a berrar "sporting alé" na casinha de metal. não resistirá dois meses.

A CML e este grupinho de designers estão alienados da realidade social e urbana da cidade.
A zona de Santos precisa de uma intervenção rápida, sim, mas para pôr cobro à degradação do espaço e, sobrtudo, à deterioração da qualidade de vida das pessoas - resultado da actividade de uma meia dúzia de postos de cerveja que nem sequer estão licenciados, que mal pagam impostos, e que devastam toda aquela zona.

Em vez de aplicar estes dinheiros na reposição da ordem e do bom-senso naquela zona, a CML prefere criar mais um bar (mais selecto, para designers e etc) disfarçado de intervenção vanguardista.

Entretanto, aquilo transforma-se lentamente num novo Bairro Alto e em mais uma zona de Lisboa onde é impossível morar.

Vamos longe.

Anónimo disse...

Caro Rui Mateus,

Um comentário objectivo o seu, e o seu visionamento do futuro, ao contrário dos sonhos da jornalista Prado Coelho, é realista e é com toda a probabilidade o que se vai passar.

A menos que o ex-jardim seja policiado dia e noite, o que mais vai onerar a "intervençom" designista.

E isto, no fundo, é a tabernofilia no seu esplendor. Com oferta múltipla à juventude, desta feita com tasco cibernético em harmonia com o pipilar espástico das luzes das discotecas e bares vizinhos.

Claro que a cerveja provoca diurese. Todas as ideias de diversão para as novas hordas de palermas mijionários tem que ser repensadas.

Estes desginers são ceguinhos, e vão contribuir para um flop daquele lugar.


Na realidade devia-se restringir o acesso àquela área. Os habitantes daquela zona precisam de dormir descansados ou não? Tem que ser obrigados a entrar num ritmo contra-natura? E levar com a má educação colectiva de uma série de gente que julga que é tudo deles?

Cosmopolitismo, quando a educação de base dá hordas de grunhos ao cubo?

Maxwell disse...

Gostei da descrição e parece ser um projecto 'cinco estrelas'. Só não sei se a tacanha mente portuguesa conseguirá acompanhál-o. N'outro qualquer pais era capaz de resultar. Aqui? Hmmm vou esperar para ver.

Susana Neves disse...

Maxwell:


É pena que depois de tudo o que tem sido discutido e questionado neste blogue a sua contribuição se situe ao nível do gosto, das aparências e do insulto.

Para sua informação em toda a Europa os jardins históricos têm sido preservados e existe vasta documentação sobre cada um deles.

Acontece também que a grande preocupação actual é atrair a esses jardins e também aos jardins particulares, o maior número possível de pássaros e insectos.

A reabilitação de um jardim histórico com árvores classificadas é objecto de estudo profundo e constituiem-se equipas especializadas que ponderam a mínima intervenção porque o objectivo é atrair um visitante curioso, inteligente e criativo.

Portanto, veja lá, não diga disparates, porque tacanho é destruir o pouco património que nos resta.

Maxwell disse...

Mariposa Roja:

Obrigado pela sua preocupação com o conteúdo dos meus comments, afinal de contas são estes que dão vida a um blog e, sem estes um não sobreviveria.

Permita-me discordar do seu ponto de vista em que o gosto e a aparência de um jardim, ou qualquer outra obra direccionada à população fica renegada para segundo plano. A meu entender a estética do local é tão ou mais importante que tudo o resto, uma vez que é esse o primeiro aspecto a ser observado quando se encara uma obra.

Se esteve atenta aos comentários que deixei noutros posts referentes ao mesmo assunto, revelei alguma preocupação em relação à classificação das árvores como sendo parte do património vegetal. De facto penso que seria mais produtivo e original se o espaço fosse reorganizado mantendo, contudo as mesmas espécies vegetais, alterando apenas o seu local.

Não vejo porque razão a reestruturação do jardim impedirá a fixação de pássaros e insectos, uma vez que, no projecto constam alterações ao trânsito que, a meu ver, contribuirão ainda mais para realizar esse objectivo.

Também não compreendo porque é que, na sua visão, intervir num jardim é incompatível com estudos profundos em relação ao local, ponderação e incompatível também com atracção de visitantes ‘curiosos, inteligentes e criativos’.

Portanto, não se sinta ofendida por a carapuça do ‘tacanho’ lhe ter servido. Tacanho não é apenas destruir património histórico, tacanho é também aquele que teima em não mudar porque ‘no passado é que era bom’ e tem medo de inovar e experimentar.

Susana Neves disse...

Pois é, Maxwell não compreendeu o que eu escrevi.
Não me senti nada ofendida, fique tranquilo.
É muito imprudente da sua parte fazer afirmações desse género quando não sabe com quem fala.

Susana Neves disse...

P.S. De resto, Maxwell insultar os comentadores ou pretender fazê-lo não ajuda a defender um ponto de vista.

O que interessa neste blogue não é agredir mas encontrar soluções, as melhores, que beneficiem a cidade.
Não nos interessam as "guerras civis" mas a união do conhecimentos, inteligências e boas vontades.

Maxwell disse...

Peço desculpa se se sentiu ofendida. De certo não era essa a minha intenção. Acredito, como muitos comentadores aqui, que os comments devem ser uma partilha de ideias. Foi exactamente isso que tentei fazer: explicitar as minhas ideias em forma de resposta ao seu comment. Tenho pena que ele tenha sido mal interpretado num ataque pessoal nomeadamente à sua pessoa.
Em relação ao ‘não se saber com quem se fala’, penso que num blog muito pouca gente saberá com quem fala e não é por isso que as opiniões devem ser caladas. Num blog, todos são iguais, não importa o grau social que tenham fora dele ou a importância que se dão a si próprios. Este é o meu ponto de partida para responder a qualquer comentário que considere necessário, dirigido directamente a mim ou à comunidade em geral, não importando se a pessoa que o escreveu é o varredor de lixo da esquina ou o primeiro-ministro. A resposta será exactamente a mesma e no tom que me foi dirigido inicialmente.
De resto, peço desculpa ao resto dos bloggers por esta tentativa de ‘guerra civil’ num assunto em que as opiniões claramente divergem.