10/09/2009
Plano de Pormenor do Parque Mayer / Comunicado
Exmo. Senhor Presidente da CML,
Dr. António Costa
Sendo há muito uma das preocupações do Fórum Cidadania Lx, a busca por uma boa solução para o Parque Mayer e respectiva envolvente, não podemos deixar de enviar ao conhecimento de V.Exa. as nossas preocupações relativamente a algumas das propostas relatadas no relatório preliminar do Arq. Aires Mateus, que foi vertido para a proposta de "modelo urbano" aprovada na reunião de CML de ontem, a saber:
1. Parece-nos, e corrija-nos se estivermos enganados, que as construções que se vislumbra virem a ser feitas de raiz, bem como todas as ampliações e alterações aos edifícios já existentes, que previsivelmente passarão pelo esventramento da quase totalidade dos logradouros dessas edificações, designadamente ao longo da Rua do Salitre, Rua da Escola Politécnica e Calçada da Patriacal, têm por fito permitir empreendimentos (habitação, hotéis ou escritórios) "with a view" para o Jardim Botânico. Isto é, o Jardim Botânico passará a ser o logradouro das construções envolventes. Parece-nos uma filosofia errada e grave.
2. Ainda relativamente às ampliações propostas, há casos surpreendentemente aparatosos de duplicação (e às vezes mais) da altura das cérceas, sendo o caso da Rua do Salitre o de maior impacto em termos de quebra do equilíbrio urbanístico. Casos há que nos parece serem escandalosamente erradas as novas construções propostas: a construção do designado "centro interpretativo", na mesma Rua do Salitre, com 4 andares, e uma unidade hoteleira, também com 4 pisos, na Rua da Escola Politécnica, nos edifícios hoje bastante baixos defronte ao topo da Rua da Imprensa Nacional.
3. Também junto à antiga Escola Politécnica, será esventrada uma das alamedas com palmeiras, a do lado nascente, para construção de parque de estacionamento subterrâneo. Tal proposta é completamente desnecessária (ainda que o corpo dirigente do Museu assim o queira), é altamente intrusiva para com a envolvente do Jardim Botânico e representa um sério precedente numa zona, o Príncipe Real, que é constantemente objecto da "gula" dos promotores de estacionamento subterrâneo.
4. Ainda na envolvente ao Parque Mayer, parece-nos um enorme exagero propor-se a construção de 4 unidades hoteleiras: 1 na Rua do Salitre, 1 junto à entrada da Escola Politécnica e mais 2 unidades, aparentemente "invisíveis" neste modelo urbano, sendo 1 dentro de parte do próprio edifício do Museu de História Natural e 1 outro nas antigas cocheiras do Palacete Ribeiro da Cunha. Sobre estes dois últimos hotéis nada é dito na referida proposta.
5. Sobre o Parque Mayer propriamente dito, o "modelo urbano", sendo bastante menos construtivo - escritórios, comércio e serviços - do que os anteriores estudos prévios (conhecidos) de Foster e Gehry; têm, a nosso ver, algumas inconsistências, sobretudo relativamente às salas de espectáculo, designadamente ao que se deve manter ou não de pé, e sobre o que deve ser construído ou não.
Assim, é manifestamente estranho que,
- Dado o evidente subaproveitamento do Cinema São Jorge;
- Dada a necessidade de reabilitar em todo o seu esplendor o Cine-Teatro Capitólio;
- Dada a indefinição sobre se vale ou não a pena recuperar o Variedades;
- Dado o evidente subaproveitamento do Cinema Tivoli (embora privado);
- Dada a importância patrimonial do abandonado e belíssimo Cinema Ódéon, que espera recuperação; (idem);
- Dada a crise de bilheteira evidente no Coliseu dos Recreios, no Teatro Dona Maria II, etc.
- Dada a promessa feita pela CML, em tempos não muito recuados, de reverter as 3 salas do S. Jorge na sala única original, ficando assim aquela zona com uma sala já de sim com 2.000 lugares;
Dado tudo isso, parece-nos estranho que a CML patrocine a construção de um auditório de 2.000 lugares em pleno Parque Mayer.
Por isso, a pergunta: haverá público e programadores para tanta sala, ou o objectivo é fazer um centro de congressos, que será "abastecido" pelos hotéis das imediações? Se assim for, pensamos que a CML está a inverter os valores e a Causa.
Sabemos que a aprovação deste modelo urbano para o Parque Mayer não significa que tudo o que é relatado no relatório preliminar do Arq. Aires Mateus será executado, e que o processo do Parque Mayer terá que se sujeitar a novos e demorados pareceres, mas precisamos ver esclarecidas estas nossas inquietações.
Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Luís Marques da Silva, António Branco de Almeida, Nuno Santos Silva, Fernando Jorge e Nuno Caiado
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3 comentários:
Se a coisa é como aqui se diz, designadamente as alturas das cérceas, os hotéis, o parque subterrâneo, olhe, que façam ali o novo Museu dos Coches.
Já que estamos num campeonato da asneira...
Lobo Villa,10-09-09
A densificação de uma cidade falida como Lisboa ,segundo um "modelo urbano" como o descrito, só pode caber na cabeça de arquitectos em crise de trabalho.
Nada disto funciona,Lisboa não se recupera da sua falência (em favor da sua periferia) nem desta crise global, com mais e mais betão.
Sobretudo ocupando mais e mais os seus parcos jardins !
Lisboa está sobre-urbanizada e precisaria, não de mais um "modelo urbano" mas talvez de um novo "modelo rural" com mais espaços verdes,para atraír mais população.
Cada m3 de betão a mais é mais um afastamento de mais lisboetas e de moradores!
A CML não vê isto ?
Pelo contrário
Agora querem acabar com o Jardim Botânico aos poucos como estão há anos a fazer a Monsanto? Isto anda tudo LOUCO!
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