In Jornal de Notícias (3/9/2010)
Cristiano Pereira
«Os trabalhadores e moradores da zona da Mouraria, em Lisboa, queixam-se da insegurança nas ruas do bairro. Ontem, quinta-feira, teceram críticas a mais uma acção das autoridades que estiveram à procura de imigrantes ilegais em vez de combaterem o tráfico de droga.
"Antes havia polícia boa mas agora não há!" barafustava, ontem à tarde, Luísa Barata, de 75 anos, encostada à porta das traseiras do Centro Comercial da Mouraria, junto ao Martim Moniz. Ao JN, a moradora do típico bairro lisboeta queixou-se do sentimento de insegurança que ali impera mas mostrou-se confusa com a acção de fiscalização que momentos antes fora realizada por elementos da Equipa de Intervenção Rápida da PSP, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), da Inspecção Tributária e da Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) no interior do Centro Comercial.
Sentado ao lado de Luísa Barata, o reformado Félix António, de 84 anos, diz que o principal problema está fora do centro comercial, na rua, com os assaltos e o tráfico de droga que fazem parte do dia-a-dia. “Isto já não é a Mouraria de antigamente”, desabafa, recordando os tempos em que “vinha com o amarelo [o ouro] no dedo ou no braço e ninguém fazia mal”. “Agora tiram tudo à gente!”, acusa.“É a polícia que tem medo deles!”, acrescenta, de imediato, Luísa Barata.
Na operação, que decorreu entre as 15 e as 17.20 horas, cada uma das entidades procedeu à fiscalização das áreas competentes: enquanto o SEF verificou a legalidade de permanência em Portugal dos presentes no centro comercial, a ASAE examinou a qualidade dos produtos vendidos e a Inspecção Tributária se as contas das lojas estavam em ordem.
Dois ilegais convidados a sair
No final, segundo a Lusa, a PSP notificou dois indivíduos para abandonarem voluntariamente Portugal, dado que se encontravam ilegais no país e a ASAE apreendeu alguns produtos contrafeitos, sem precisar quantos.
“Os polícias deviam ir atrás dos traficantes que estão aqui em vez de ir atrás dos ilegais”, reagiu, por seu turno, Fernando Rodrigues, um brasileiro “com todos os documentos em ordem” e que já ali trabalhou “em quatro ou cinco lojas”. Sobre o interior do centro comercial só tece críticas “aos chineses” porque “não dão contrato”.
“Os indianos ainda dão mas os chineses não adianta!”, acusa, relatando que durante anos tentou lutar por melhores condições laborais enquanto labutava nas lojas “a arrumar, a vender e a levar o carrinho para cá e para lá”. O jovem brasileiro sugeriu, todavia, que convém ter algumas cautelas mesmo dentro dos corredores do espaço comercial. “Se você andar com a carteira recheada de dinheiro tem que meter no bolso da frente e não no de trás, ‘tá ligado?”, avisa.
Thair, um português de origem paquistanesa e um dos únicos comerciantes do centro que aceitou falar (os outros preferiram ficar mudos com receio de represálias) contou ao JN que a acção policial “foi calma” mas criticou o facto de terem fechado as portas do centro comercial durante quase três horas. “Perdemos clientes”, diz.
O Centro Comercial da Mouraria é conhecido pela abundância de lojas de produtos chineses, indianos ou africanos, tendo um cenário diferente dos padrões de um shopping ocidental. Amado por muitos e desprezado por outros, é um shopping diferente: e não é raro ver os produtos expostos em pleno corredor, como num mercado asiático ou num souk marroquino. »
03/09/2010
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1 comentário:
A toxicodepenência é o flagelo daquela zona (agradeçam ao Guterres a lei "porreira pá!" que ditou o inicio desta anarquia) e enquanto o problema não for abordado com autoridade vai continuar tudo na mesma.
A PSP vai fazendo umas coisas para "inglês ver", mas no dia-a-dia é totalmente omissa e cúmplice. E já o reconheceu em público.
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