02/06/2016

Azulejos em risco de desaparecimento no convento de São Pedro de Alcântara

As obras de fundo que estão para começar no convento de São Pedro de Alcântara (pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa) - e cujas maquetas estiveram expostas no átrio de entrada - prevêem uma espécie de centro comercial de charme com lojas de roupa, esplanadas e escritórios (?), e evidenciam que os azulejos de várias paredes interiores serão removidos em algumas salas.





Ora, estes azulejos são relativamente antigos e actualmente muito valorizados em antiquários e afins. A sua remoção afigura-se-nos, pelo menos, um crime patrimonial, senão um roubo.

De acordo o projecto que esteve publicamente exposto (projecto do Arq. Luís Almeida e que aguarda licenciamento na CML), pode ver-se que está prevista a remoção de azulejos em determinados locais, a saber:

1. salão com paredes de azulejos pombalinos


2. corredor com paredes de azulejos


3. salão com friso de azulejos acima do rodapé de madeira 


4. refeitório com paredes de azulejos pombalinos 


5. sala com paredes de azulejos pombalinos 



Ora, estes azulejos pombalinos, vistos em ampliação,




  são semelhantes aos da entrada exterior da igreja,


que são muito parecidos com este padrão pombalino referenciado na Az - Rede de Investigação em Azulejo.


Este outro padrão do mesmo género



não é muito diferente, por exemplo, deste outro padrão também referenciado como pombalino.



Os azulejos de flor amarela do convento de São Pedro de Alcântara são ainda semelhantes a este "Azulejo séc. XVIII, decorado com flor amarela e argolas azuis" vendido individualmente por 17,25€ neste leilão,


e ainda aparentados deste "Painel de 4 azulejos séc. XVIII, decorado com flor ao centro e enrolamentos" vendido por 34,50€ noutro leilão.


Mesmo ali ao lado, num dos antiquários da Rua D. Pedro V, podemos ver azulejos do género à venda,



e nas casas indianas de bugigangas encontramos os mesmos padrões que fazem as delícias dos turistas em forma de íman.


Tememos ainda pelo destino dos azulejos da cozinha, possivelmente tão gastos quanto idosos e tanto mais valiosos.


Com tudo isto, cabe perguntar: pensa a Santa Casa da Misericórdia que é assim que se protege o património histórico? E onde pretende a SCML vender as relíquias removidas das paredes, nas boutiques que vão abrir no convento?


 
Em Março de 2014, a descrição do projecto de renovação dizia:
«É um edifício que se encontra num estado razoável de conservação sofrendo, porém, de algumas patologias e necessitando, por isso, de obras de recuperação e de conservação em algumas áreas. Antes de uma intervenção mais profunda, que será também a mais demorada e que carece de um projecto de reconversão em desenvolvimento, estão a ser executadas ações para a preservação do edificado, bem como para a eliminação de alguns elementos dissonantes.» 
Dissonantes, disse? Dissonante será a pretensa requalificação (já antes aqui comentada) que vai transformar o aprazível claustro no novo-riquismo de uma piscina para turista ver...
 

Esperamos não ter que reportar este caso ao SOS Azulejo, pois as práticas de protecção do azulejo não se aplicam só aos mais antigos, mas também às imitações mais recentes bem como aos azulejos industriais para revestimento de prédios dos séculos XIX e XX. Todos eles fazem parte do nosso património arquitectónico e, se forem salvaguardados, um dia chegarão à bela idade de duzentos anos.

Para quem quiser conhecer melhor o assunto, aqui podem ver-se outras fotos da parte faustosa do convento e de outros padrões de azulejo interiores: http://mariomarzagaoalfacinha.blogspot.pt/2011/03/sao-pedro-de-alcantara-por-dentro.html

E aqui encontramos a ficha arquitectónica do edifício no site de informação sobre o património arquitectónico com a história toda e diversas fotos: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5077

E ainda dois vídeos:
 


5 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que os claustros perderam a sua identidade; Ambiente verde com uma fonte ao meio. Considero o projecto demasiado "higienizado", com pedra de lioz, como manda "moda" actual. Espero que possa entretanto ser modificado.

João Pinto Soares

Julio Amorim disse...

Excelente post....
Incrível como não se vê a mais-valia dos azulejos. Porque vai quase tudo embora, certo ?

Anónimo disse...

É assim que se conserva património????? com estas alterações todas????? continuo a não entender estes projetos!! gasta-se dinheiro em alterações que só desvalorizam o edifício como perda de azulejos e chão em pedra original. Se querem um edifício banal com decoração tipo ikea ou leroy, que o façam num novo e não neste por favor...

Anónimo disse...



A Misericórdia de Lisboa é implacável !!

Que tenham MISERICÓRDIA pelo património !!

Filipe Melo Sousa disse...

Por favor, retirem os remates foleiros de azulejos nas paredes. São medonhos.