13/05/2007

Lisboa e o abandono «do barco»


Nota sobre as campanhas liberais de 1833/4

Esta coisa de abandonar ou não abandonar o barco (em sentido figurado) que foi referida por Carmona Rodrigues na sua despedida fulgurante da liderança da CML, fez-me lembrar um episódio pouco conhecido da nossa História, mas que me marca sempre e que por acaso até deixou fortes marcas na toponímia da Cidade.
É o caso da chegada dos liberais a Lisboa em Julho de 1833.

A recta final das campanhas de 1833

Quando as tropas liberais apontam a Cacilhas, os absolutistas «abandonam o barco…».
No Dicionário Histórico de Portugal, pode ler-se uma síntese dessa campanha fulgurante e libertadora. Foi uma sucessão de jornadas mais heróicas umas do que as outras. Mas um pormenor quero registar: quando o Duque da Terceira chegou a Lisboa, já não encontrou o absolutista D. Miguel: já tinha abandonado o barco nessa noite, junto com os seus ministros e outros dignitários… Estamos em 1833, após seis anos de regime absolutista desbragado. Leia aqui. «(…) marchava o duque da Terceira a 13 de Julho de S. Bartolomeu de Messines para S. Marcos da Serra, a 14 saía dos limites do Algarve e entrava no Alentejo, chegava ara 15 a Gravão onde descansava no dia 16 para esperar a artilharia, a 17 a Messejana. Entrava no dia 18 nos Bairros, atravessava o Sado no dia 19 indo pernoitar a Vale de Ferreira, e enfim no dia 20 tomava de surpresa Alcácer do Sal, e ia no dia 21 acampar diante de Setúbal, que tomava no dia 22 de acordo com Napier, marchando logo em seguida sobre Azeitão e de Azeitão sobre Cacilhas encontrando nesse mesmo dia no Vale da Piedade a cavalaria miguelista, e alguma infantaria do exército de reserva comandado por Teles Jordão, que foi completamente batido, caindo prisioneiras nesse dia quase toda a cavalaria e infantaria que entrara no combate, e no dia seguinte o resto das tropas que ocupavam Almada e se renderam sem disparar um tiro.
Nessa noite, tomados de súbito pânico, o duque de Cadaval e os ministros de D. Miguel abandonaram Lisboa com toda a guarnição, acolhendo imediatamente a cidade com entusiasmo louco o duque da Terceira e a sua pequena mas heróica divisão que atravessavam o Tejo, surpreendidos também pela notícia inesperada, e eram recebidos como libertadores, em 24 de Julho».

A data e o Duque

Note. Foi a 24 de Julho. Daí, o nome actual da Avenida (que fixa a data) e até o da Praça (que homenageia o Duque: António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha, 7.º conde e 1.º marquês de Vila Flor, e 1.º duque da Terceira»).
Honra lhes seja!
Registo então que a Avenida 24 de Julho de 1833 recebe o nome dessas mesmas campanhas libertadoras e que tudo isso está gravado em letras de bronze «pregadas» ao pedestal da estátua do Duque da Terceira ali na Praça que tem o seu nome, ao Cais do Sodré.

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