Já era esperado e os anúncios nos jornais começaram a sair no passado mês de Julho: o extinto Hospital do Desterro está à venda, pelo valor de referência de 10.750.000,00 euros. As propostas têm como prazo-limite de entrega o dia 17 de Setembro.
Durante mais de século e meio, e à custa da confiscação de bens da Igreja e, mais tarde, da Coroa, o Estado português pôde instalar e manter os seus equipamentos e serviços onde bem entendeu, transformando conventos e palácios com generosíssimas áreas em quartéis, escolas, hospitais, armazéns ou centros de representação institucional, assim suavizando a sua habitual penúria e arruinando muitos deles no processo.
Na hora de vender, porém, não há grandes manifestações de gratidão: na brochura disponibilizada online pela Estamo, S.A., relativa à venda do hospital, antigo Convento de Nossa Senhora do Desterro, e mesmo descontando a densidade de gralhas, erros de pontuação e mau uso da língua portuguesa que a acompanham, ficamos a saber tratar-se de "um edifício hospitalar que data a sua construção do século XIX e que se encontra actualmente em fase de encerramento".
Diz ainda a descrição do imóvel que "todos os pisos necessitam de obras de conservação e de adaptação para novos fins e salienta-se a existência de alguns elementos arquitectónicos interessantes como a existência de colunas totalmente em pedra maciça, arcos embelezadores e abobodailhas [sic]. O edifício possui ainda uma área de sótão (…) e dois elevadores de serviço e um logradouro utilizado como estacionamento que nele construída uma estrutura em betão armado que permite o acesso pelo exterior entre os pisos 3 e 5 [sic]".
O critério de adjudicação, esse, será "o melhor preço ajustado às condições de pagamento", bem como a "finalidade a dar ao imóvel", que, "neste caso, será de uso de cuidados continuados integrados num conjunto de intervenções sequenciais de saúde e/ou de apoio social".
A trajectória do Convento de Nossa Senhora do Desterro começou em finais do século XVI, por impulso da Ordem de Cister e risco de Filippo Terzi, mas o Estado português, através da entidade que o representa nesta venda, considera esse passado – e o que restou dele em termos materiais e imateriais - de somenos importância, a avaliar pelo facto de não lhes dedicar uma palavra. Aguardemos para ver até onde irá a sua memória histórica quando S. José - a cereja no topo do bolo - for levado à praça.
Créditos imagem: Panorâmica, a partir da Rua das Olarias, da Avenida Almirante Reis e da Rua Nova do Desterro, em fotografia de Eduardo Portugal, 1944 (Arquivo Municipal de Lisboa/Arquivo Fotográfico); Hospital do Desterro (Inventário do Património Arquitectónico da extinta DGEMN)
Durante mais de século e meio, e à custa da confiscação de bens da Igreja e, mais tarde, da Coroa, o Estado português pôde instalar e manter os seus equipamentos e serviços onde bem entendeu, transformando conventos e palácios com generosíssimas áreas em quartéis, escolas, hospitais, armazéns ou centros de representação institucional, assim suavizando a sua habitual penúria e arruinando muitos deles no processo.
Na hora de vender, porém, não há grandes manifestações de gratidão: na brochura disponibilizada online pela Estamo, S.A., relativa à venda do hospital, antigo Convento de Nossa Senhora do Desterro, e mesmo descontando a densidade de gralhas, erros de pontuação e mau uso da língua portuguesa que a acompanham, ficamos a saber tratar-se de "um edifício hospitalar que data a sua construção do século XIX e que se encontra actualmente em fase de encerramento".
Diz ainda a descrição do imóvel que "todos os pisos necessitam de obras de conservação e de adaptação para novos fins e salienta-se a existência de alguns elementos arquitectónicos interessantes como a existência de colunas totalmente em pedra maciça, arcos embelezadores e abobodailhas [sic]. O edifício possui ainda uma área de sótão (…) e dois elevadores de serviço e um logradouro utilizado como estacionamento que nele construída uma estrutura em betão armado que permite o acesso pelo exterior entre os pisos 3 e 5 [sic]".
O critério de adjudicação, esse, será "o melhor preço ajustado às condições de pagamento", bem como a "finalidade a dar ao imóvel", que, "neste caso, será de uso de cuidados continuados integrados num conjunto de intervenções sequenciais de saúde e/ou de apoio social".
A trajectória do Convento de Nossa Senhora do Desterro começou em finais do século XVI, por impulso da Ordem de Cister e risco de Filippo Terzi, mas o Estado português, através da entidade que o representa nesta venda, considera esse passado – e o que restou dele em termos materiais e imateriais - de somenos importância, a avaliar pelo facto de não lhes dedicar uma palavra. Aguardemos para ver até onde irá a sua memória histórica quando S. José - a cereja no topo do bolo - for levado à praça.
Créditos imagem: Panorâmica, a partir da Rua das Olarias, da Avenida Almirante Reis e da Rua Nova do Desterro, em fotografia de Eduardo Portugal, 1944 (Arquivo Municipal de Lisboa/Arquivo Fotográfico); Hospital do Desterro (Inventário do Património Arquitectónico da extinta DGEMN)
2 comentários:
Podia ser um bom ponto de partida dinamizador da recuperação daquela zona da cidade...
... desde que o seu uso não passe pelas "recuperações" feitas á custa da destruição total dos seus interiores e de acrescentos feitos segundo os mais modernas linguagens arquitectónicas, tipo a do "papo-sêco".
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