In Público (2/3/2009)
«Há algum tempo que não ia até à zona de Belém e deparei-me com uma "parede" a tapar a visão da Torre de Belém. Informei-me e fiquei a saber que tinham construído um novo hotel - Altis Belém Hotel & Spa - à beira-rio. Deste modo, emparedaram a Torre de Belém, que perdeu o seu espaço vital.
Este monumento nacional que, quando foi construído, se situava no meio do rio tinha desde há muitas décadas um meio envolvente adequado à sua importância e era visto de todos os ângulos. Agora é impossível. Cometeram um crime em Belém. Acrescente-se que é um projecto do arquitecto Manuel Salgado, que detém o pelouro do Urbanismo e Planeamento Estratégico da Câmara Municipal de Lisboa, e que também concebeu o Centro Cultural de Belém. Foi para isto que entregaram a gestão da frente ribeirinha à câmara municipal?
Não está em causa a arquitectura do novo edifício, pode-se gostar ou não. A questão é que se está a ocupar de forma indevida o espaço ribeirinho. No Cais do Sodré está a acontecer o mesmo. O rio Tejo deixou de ser visível a escassos metros da água. Pelo que parece, tudo isto foi feito sem grande publicidade, de mansinho, para não agitar consciências, sobretudo dos lisboetas. Quando é que estes senhores aprendem a gerir de forma adequada o espaço urbano? Anos de asneiras e nada muda. Lisboa e outras cidades portuguesas felizmente não foram tocadas pela IIGM, como outras cidades da Europa.
Mas este facto permitiu reorganizar e reconstruir as cidades de modo a fazer face a exigências e desafios futuros. Lisboa tem a possibilidade de também poder fazer isso. Como? Reocupando a cidade. Ou seja, não procurar espaços ribeirinhos, zonas verdes, áreas nunca tocadas pela ocupação humana, mas sim zonas que no passado tiveram fixação urbana e que agora estão abandonados ou degradados.
Meus senhores, não é preciso percorrer muitos quilómetros em Lisboa para encontrar tanta área para possíveis novas ocupações urbanas. Desde Belém (mas do lado interior da via-férrea) até ao Parque das Nações, para não falar dos bairros antigos e de zonas a necessitar de reconversão. Façam novos hotéis e novos equipamentos urbanos, Lisboa bem precisa, mas dentro da malha urbana.
O crime não é deitar prédios velhos abaixo para construir novos, as cidades são isso mesmo, camadas de história, de ocupação e de mistura de identidades. Crime é ocupar despudoradamente espaços desde sempre livres, necessários a que a própria cidade respire. Deixar de estar de costas voltadas para o rio não é construir em cima dele, é deixar esse espaço livre para passeio e lazer dos lisboetas.
Agostinho Leal Alves
Lisboa»
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4 comentários:
Deitar prédios antigos abaixo é um crime também caro Sr. Agostinho Leal Alves!
que exagero...torre de beém emparedada?!
já lá estava um edificio podre...era melhor?
estava um edificio podre mas muito mais baixo e uma coisa não justifica a outra. Aquele hotel tem uma volumetria injustificavel e tapa as vistas do rio e da torre de belem.Foi mais um jeito que se fez a alguem e o tejo vai ficando cada vez mais tapado.Mas o que é que isso interessa.
Pois, o que é que isso interessa...
Anda p'ra aí um 'anónimo' que é simplesmente insuportável. Será que esse indivíduo não tem mais nada para afzer??' Ó homem (sim que deve ser uma criatura do género masculino), arranje uma vida e faça-nos a todos felizes.
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