26/03/2009

CONSTRUIR A CIDADE SIM, MAS DE FORMA DEMOCRÁTICA E ESCLARECIDA

Caro José Manuel Fernandes,
Agradeço-lhe o contributo para este debate. Precisamos deste tipo de intervenções, serenas e racionais, como de pão para a boca.
Dito isto, comento algumas das suas considerações, sem todavia ter a pretensão de lhes dar resposta, mas apenas para precisar o meu ponto de vista.
Primeiramente: não julgue que quem, como eu, defende idealmente o abandono ou, se isso não for possível, a reprogramação do projecto do novo Museu dos Coches não pensa antes de tudo em construção de cidade, mais exactamente no conjunto da zona de Belém, da sua construção urbana e na potenciação do turismo. É disso mesmo que se trata em primeiro lugar. E por isso pergunto que levantamento, que estudo se fez da zona de Belém para potenciar o conjunto do parque museológico e monumental instalado, detectar sub-aproveitamentos e eventuais lacunas ? Que eu saiba, ninguém. Ou melhor, existem quem tenha reflectido nisto, mas destes todos os que eu conheço concluem que o novo museu dos Coches será uma “carta fora do baralho” neste âmbito também.
Diz depois que a decisão de erguer um novo Museu dos Coches foi tomada há muito. Terá sido talvez. Mas por quem ? Com que discussão pública ? Com que audição de órgãos representativos e transparentes, dotados das valências da museologia ?
Existe uma diferença entre um País de súbditos e um País de cidadãos e essa passa por não aceitarmos que decisões fundamentais da construção da cidade sejam feitas através da lógica dos espíritos iluminados, que por vezes de iluminados nada têm e mais não fazem do que defender interesses particulares.
Pensa que não houve desde o início contestação a esse projecto ? Está enganado. O que se passa é que ela foi um tanto inaudível porque o dito projecto nunca esteve verdadeiramente na ordem do dia e porque de facto temos uma poder (político e mediático) pouco dado a ouvir e a discutir os assuntos a partir de postulados de participação cidadã.
E depois é como nas panelas de pressão: não havendo válvulas de escape, rebentam quando a pressão atinge certos níveis críticos.
Por muitas voltas que dê nunca conseguirá ouvir da boca de alguém que tenha passado e presente na área dos museus que um novo Museu dos Coches constitui uma prioridade. Quase todos lhe dirão até que será um tiro no pé, mesmo para o Turismo e a Economia.
Idealmente deveríamos fazer recuar todo este processo à estaca zero.
Mas não sendo possível estamos disponíveis para tirar o melhor partido do projecto já existente alocando-o (total ou parcialmente) a outra finalidade e alcançando além disso outros efeitos positivos no conjunto da zona de Belém.
Se se mantiver atento verá nos próximos dias como existem propostas bem mais interessantes do que um novo Museu dos Coches para potenciar o turismo em Belém e para construir cidade.
Renovo os meus agradecimentos pelo seu contributo para esta discussão e espero vê-lo no debate que iremos organizar em breve subordinado ao tema “Por uma política museológica democrática e esclarecida: como se fazem e desfazem museus”
Luís Raposo
Membro do Secretariado Permanente da PP-Cult

3 comentários:

Anónimo disse...

Viva o novo museu dos coches e Paulo Mendes da Rocha. Viva.
Ai que vou levar com pedras em cima da cabeça:)):)):))

Anónimo disse...

criticam o poder mas depois são mais ditadores que tudo o resto.

Anónimo disse...

O grande problema deste País é não haver, entre os nossos governantes, espíritos iluminados como o Marqquês de Pombal ou o Eng.º Duarte Pacheco, mas espíritos deslumbrados com a obra feita. Tudo é feito e decidido casuisticamente. Era preciso aplicar as verbas do casino criado no tempo do "famigerado" Santana. Porque não um museu dos coches? Ou outra coisa qualquer desde que o dinheiro seja gasto. Finalizar a construção da ala poente do palácio da Ajuda talvez fosse mais ajuizado. Ou criar um novo museu de arqueologia.