02/11/2009

OS ACTOS FICAM COM QUEM OS PRATICA...

Por terras de Sua Magestade o Rei Juan Carlos de Espanha, diz-se "ter é manter":

Este é o conceito implementado em países onde, a defesa do património cultural edificado, é considerada política nuclear e de interesse vital para a sobrevivência de um turismo de qualidade.
Mas não se trata só de defender o turismo. Acima de tudo, é a defesa da identidade cultural e patrimonial de um povo que está em causa.
Nós por cá, valorizamos muito mais o "modernaço" e a "obra de autor" como forma de afirmação da nossa identidade cultural, deitando abaixo tudo o que cheira a mofo e a bafio, principalmente os prédios situados em zonas históricas ou que o poderiam ser a breve trecho, sempre com a afirmação douta, máxima e peregrina de que a cidade não deve ser estática e por isso, carece de dinamismo.
É caso para dizer que "os actos ficam com quem os pratica e neste caso, o património com quem o mantem!!!

8 comentários:

Ai - a - Tola disse...

Quem conhece Espanha fica, com certeza, admirado com a forma com o património arquitectónico e cultural é tratado e mantido. Desta feita estou convencido que os espanhóis são, sem dúvida, um exemplo a seguir. O que me faz espécie é que o país ao lado - o nosso para os mais distraídos - porventura menor e com mais necessidade de afirmar-se como nação, com o qual partilha séculos de história e convivência, tem uma política e uma sensibilidade social tão dispar. Mas ainda mais espécie é que os espanhóis, com tanta sensibilidade na preservação do seu património, são, por cá, o pior camartelo sendo estes grandes responsáveis pela forte destruição de edificado do séc. XIX.
Como exemplo deixo o caso do Palácio do Patriarcado, no Campo dos Mártires da Pátria, que foi adquirida por uma empresa de hotéis da Catalunha para aí fazer-se MAIS um hotel de charme. Ora o edifício não é particularmente grande e as suas traseiras dão para a Rua de Santo António dos Capuchos que é uma rua estreitíssima. Para transformar este edifício num hotel de charme, sabendo nós o que por cá se chamam por hoteis de charme, que tipo de construção se ira fazer para adaptá-lo? O interesse neste edifício não está claro e segundo a empresa promotora estaria já a funcionar em 2009, não se verificando, contudo, no edifício outra alteração que a sua contínua degradação. Será um caso semelhante ao Palácio Silva Amado, a uns números deste?

Anónimo disse...

Infelizmente não conseguimos distinguir as coisas, existe de facto um complexo, pois quando falamos em património ou tradição, imediatamente algumas mentes associão ao fascismo, ao período anterior à revolução.
A avidez e provincianismo do modernaço do progresso a toda à força,a novidade, o novo telemóvel, o novo automóvel, isso é que é importante.
Assistimos ao esbanjar de recursos públicos em muitas fantasias rídiculas e sem sentido.
Muitos colegas nossos se transformaram em verdadeiras prostitutas da arquitectura, uma vaidade assustadora, numa feroz competição de quem tem o pénis maior. Triste e lamentável que não entendem que o património natural e construído tem hoje um valor incalculável. insistem na globalização e outros palavrões e não aprenderam que esta crise é justamente esta crise é demonstração da fragilidade da globalização.
Por esse motivo temos que proteger, as nossas tradições, o nosso património natural e construído, a nossa cultura, temos que restaurar um sentimento patriótico, e não embarcar num conveniente e provinciano europeismo.
Os espanhóis souberam fazer a transição, assistiram ao desastre que foi a revolução e souberam evitá-la. Defensores assérimos da sua identidade.
Nós cá parôlos, só quando um treinador (estrangeiro) grita pelo no país aí todos nós respondemos. PORTUGAL...

arquitecto

Salvador, disse...

Claro que num mundo dominado pela especulação, sejam empresas espanholas ou de outros países (veja-se o caso Freeport construído em REN), o que interessa é o lucro.
O que importa é que nesses países, a legislação impede que essas empresas cometam as atrocidades urbanas que nós por cá permitimos que se cometam.
A nossa legislação está feita á medida do que interessa, ou não, preservar.

Fernando B. disse...

"Quien conoce Portugal sabe que en ese país se conserva y mima su patrimonio marítimo al contrario de lo que sucede en España".
Señores tugas : En todas partes cuecen habas....

Luís Alexandre disse...

Depois de casos como a sindicância ao departamento de urbanismo da CML, Freeport, Sobreiros, Face Oculta e outros tantos, penso que já dá para perceber o fascínio pelo novo em total detrimento do antigo.
É que reabilitar o antigo não paga luvas, envelopes, apartamentos no Allgarve e afins, reabilitar é mais dificil enganar o PDM, não há jogadas com compra e venda de terrenos, nem permite aos senhores arquitectos darem asas à sua imaginação.
Reabilitar favorece aqueles que não interessam (os pequenos proprietários) e não movimenta a economia como tanto se apregoa. A construção nova, favorece várias classes (construtores cívis, promotores, politicos, etc), desenvolve a industria dos envelopes, dos carros de alta cilindrada, das agências de viagem, das casas de alterne e da joalheria.
Quanto ao problema de fundo da degradação do património originado por 46 anos de rendas congeladas e pelo desgoverno dos governos;
(i) continuaram a controlar os aumentos de renda, permitindo que existam pessoas a pagar € 50 de renda, mas a morar numa casa a cair de podre sem um mínimo de condições de habitabilidade;
(ii) atiraram para cima dos pequenos proprietários o ónus da subsidiação da renda aos menos favorecidos, substituindo o Estado português que se demitiu dessa responsabilidade;
(iii) para ajudar, inventou-se os juros bonificados para compra de habitação nova, que cresceu como cogumelos, totalmente desregrada e na perifería dos centros urbanos;
Para atenuar, foram lançados uns programas de apoio (RECRIA, RECRIPH, etc...) que nunca conseguiram colher a simpatia dos proprietários, foram sendo prometidas umas beneces fiscais, mas nada disso comoveu os descapitalizados proprietários, que, no ordenamento jurídico português ainda são tratados como senhores feudais donos da terra improdutiva.
O problema da reabilitação urbana é de financiamento ou melhor de fontes de financiamento. Enquanto não se tirar o coelho da cartola (o coelho certo da cartola certa) isto nunca vai mudar e o património vai continuar a cair ... naturalmente ou com ajuda de um "incêndio amigo".
Em 23/12/2009 entra em vigor o novo regime jurídico da reabilitação urbana e vamos ver o que nos trás de novo ....

Anónimo disse...

Ao "senõr" Fernando:
Há quantas décadas é que não vai a España????

Anónimo disse...

majestade-com-jota :p

Fernando B. disse...

No entiendo porqué se veta mi respuesta.
¿Acaso ofende a alguien?