10/05/2012

Martim Moniz vai ter restaurantes e um mercado intercultural




 Projecto da Arquitecta Mafalda Neto Rebelo da CHP
Por José António Cerejo Daniel Rocha in Público

Dez dos velhos quiosques da praça estão a ser transformados em restaurantes de cozinha do mundo. Aos fins-de-semana haverá sempre um mercado com 36 tendas. Programação regular inclui música ao vivo e DJ


A praça do Martim Moniz vai transformar-se, já em Junho, num espaço multicultural onde serão servidas comidas de vários países, com uma esplanada central para 300 pessoas, e onde funcionará, aos fins-de-semana, um "mercado de fusão" aberto a vários tipos de comércio, associações e comunidades. O local, que está actualmente vedado para obras, será gerido por uma empresa de animação a que a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL) concessionou a respectiva exploração, na sequência de um concurso público.
De acordo com José Rebelo Pinto, gerente da NCS - Produção, Som e Vídeo, a única concorrente, os dez quiosques de aço inoxidável ali existentes há mais de uma década serão adaptados de forma a receberem os restaurantes que servirão comida pré-preparada. Para explorar cada um deles, a NCS convidou pessoas que já trabalham no ramo, alguns estabelecidos na vizinha Mouraria com restaurantes de cozinha de diferentes países, mas também, diz o empresário, "chefs reputados".
Os clientes levarão os seus tabuleiros e instalar-se-ão numa esplanada central, numa área de mesas dotada de estruturas de ensombramento e com capacidade para 300 pessoas sentadas. "Isto funcionará como no Colombo ou em qualquer centro comercial do género. Nós faremos a gestão do espaço", diz Rebelo Pinto. Está prevista a instalação de restaurantes com comida chinesa, africana, japonesa, indiana, portuguesa e não só. Os quiosques e a esplanada vão funcionar 365 dias por ano e aos fins-de-semana haverá uma série de actividades dominadas pela ideia da multiculturalidade, mantendo e aprofundando a vocação adquirida pela Mouraria nos últimos anos como lugar de encontro de povos e culturas.
Nos termos do anúncio do concurso lançado em Dezembro pela EPUL, que é proprietária do terreno ocupado pela praça, o objecto da concessão reside na "exploração de dez quiosques destinados a estabelecimentos de bebidas, com esplanadas, e feira semanal, com o máximo de 36 stands". A proposta vencedora contempla um conceito de feira semanal a que Rebelo Pinto chama "mercado de fusão" e que assenta igualmente nas características multiétnicas da Mouraria e do Intendente, onde os comerciantes chineses e indianos e a população imigrante, em especial de origem asiática, adquiriram uma forte implantação.
"Para lançar este projecto estabelecemos contactos com mais de 60 associações e comunidades e falámos com várias embaixadas", salienta o gerente da NCS, frisando que o novo Martim Moniz "é para ficar virado para a Mouraria e não de costas para a Mouraria."
O mercado de fim-de-semana, que se realizará também durante todo o ano, reunirá uma grande variedade de pequenos negócios, que vão desde as roupas aos produtos de mercearia. "Podemos ter cá uma mercearia da Mouraria, um loja de roupas do Bairro Alto, ou uma loja de Campo de Ourique. Mas também teremos o meio alternativo, com os Ari Krishna e outros grupos e associações", descreve Rebelo Pinto.
As 36 tendas a instalar ocuparão espaços quadrangulares de três por três metros e apresentar-se-ão como "uma espécie de boxes", que resultam da metamorfose semanal de uma outra estrutura destinada a garantir sombra nos dias de semana. No largo será também instalado um palco quase ao nível do solo, para reduzir o impacte visual, no qual decorrerão regularmente espectáculos de música ao vivo, workshops, conferências, espectáculos com DJ e exposições.
Em abono do seu projecto, Rebelo Pinto, que há vários anos promove em Lisboa o festival Out Jazz, evoca o seu papel na transformação do Cais do Sodré numa procurada zona de animação nocturna. "Há nove anos peguei no Cais do Sodré, que estava meio abandonado, fiz um projecto para várias casas nocturnas e hoje é o que é." Segundo o empresário, "é assim que as cidades se desenvolvem, vendo as coisas com dez anos de antecedência".
Satisfeito com a transformação prevista para o Martim Moniz mostra-se Nuno Franco, um dos dirigentes da associação Renovar a Mouraria: "É um projecto que vai contribuir para a criação de uma nova centralidade, que já está a acontecer na zona com a requalificação da Mouraria e do Intendente."

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigado.

Já há muito inclui o Martim Moniz nas zonas a evitar.

Anónimo disse...

Óptima notícia! Passei lá uma noite destas e vi que havia obras, mas não sabia do que se tratava!
Acho o Martim Moniz e o Intendente duas zonas com um potencial espetacular pela multi-culturalidade que oferecem. Espero que isto contribua mesmo para a sua revitalização!

Xico205 disse...

É precisamente a multiculturalidade que faz dessa zona uma zona degradada e a evitar pela maioria dos cidadãos.

Quando se pergunta a maioria dos portugueses o que acha do Martim Moniz e do Intendente dizem: zona feia, porca e má que é como quem diz: degradada, mal frequentada, suja e velha.

Maxwell disse...

O exemplo do CCColombo não me agrada enquanto referência. Questiono também os floreados linguísticos para evitar a palavra 'feira' especialmente com os 'espaços quadrangulares de 3 metros'. E em relação ao Cais do Sodré, bem, a mudança da zona para 'positiva' no que ao divertimento nocturno concerne é questionável.
Dito isto qualquer utilização daquele espaço o valorizará, desde que respeitando as boas normas, práticas e acedendo ao bom gosto.

Anónimo disse...

"Foi há 14 anos, em 1998, que João Soares decidiu instalar 44 quiosques na então reabilitada praça do Martim Moniz, que assim ficou em grande parte ocupada pelas chamadas "gaiolas". O projecto pretendia trazer para o largo comerciantes de antiguidades e alfarrabistas, mas a ideia, que custou ao município mais de 650 mil euros (cada peça ficou em 15.000 euros), revelou-se um fracasso. Meia dúzia de anos depois, os poucos quiosques que continuavam abertos centravam-se no negócio dos telemóveis e o espaço tinha-se transformado num local muito pouco recomendável."

(Do post das 5:56AM deste mesmo blog)

Quando se passam anos e anos para o resultado ser "isto", chegou-se ao point of no return...