20/03/2014

O que têm em comum o MUDE e as instalações da Autoridade Tributária na Rua do Comércio?

No âmbito da Semana da Reabilitação Urbana, João Appleton, Bárbara Coutinho e Vítor Cóias deram a conhecer projectos que consideram ser um bom exemplo de reabilitação na Baixa Pombalina.
Por Inês Boaventura, Público de 20 Março 2014

A Semana da Reabilitação Urbana decorre entre 19 e 26 deste mês. 
Foto de João Cordeiro

O que têm em comum a sede do Banco de Portugal, um conjunto de prédios na Rua do Arsenal que vai ser convertido num hotel, o MUDE (Museu do Design e da Moda) e as instalações da Autoridade Tributária e Aduaneira na Rua do Comércio? De acordo com João Appleton, Bárbara Coutinho e Vítor Cóias, que esta quarta-feira fizeram de guias no passeio LisNova-LisVelha, estes são bons exemplos de reabilitação urbana na Baixa Pombalina.
O passeio é uma das muitas iniciativas da Semana da Reabilitação Urbana, que decorre entre os dias 19 e 26 de Março. Durante esse período, o LisNova-LisVelha vai realizar-se diariamente mas, ao contrário do que aconteceu na sua estreia, a participação terá um custo de dez euros e é possível que vários dos edifícios em causa só possam ser vistos por fora.
Excepcional foi também a presença de João Appleton, engenheiro civil com um vasto currículo na área da reabilitação, de Vítor Cóias, presidente da associação Grémio do Património (GECoRPA), e de Bárbara Coutinho, directora do MUDE. Esta quinta-feira, foram eles os guias de serviço, mas daqui para a frente isso será feito por um historiador e um arquitecto ao serviço da empresa Lisboa Autêntica.  
Como primeira paragem, João Appleton escolheu o quarteirão do Banco de Portugal. O engenheiro destacou a “importância desta operação de reabilitação” por três razões: por ter sido “uma oportunidade excepcional para intervir de maneira homogénea num quarteirão inteiro da Baixa”, por ter permitido o regresso da administração do Banco de Portugal a uma zona “abandonada desde há muitas décadas” e por ter incluído a criação de um espaço museológico - o Museu do Dinheiro, que ainda não abriu as portas.
No interior do imóvel, João Appleton destacou que foi restaurado “tudo o que era possível” e que toda a obra teve subjacente a ideia de “deixar marcadas as cicatrizes que as intervenções sucessivas foram deixando”. O grupo de mais de 30 pessoas que participou nesta visita pode apreciar a Igreja de São Julião, hoje transformada em “sala de visitas” e de “eventos” do Banco de Portugal, segundo a explicação do engenheiro.
O ponto seguinte do percurso, que se prolongou muito além das três horas previstas, foi um conjunto de prédios na Rua do Arsenal que vai ser convertido num hotel, projecto que se encontra em apreciação pela Câmara de Lisboa. João Appleton revelou que no local foi descoberto um troço da muralha fernandina, construída entre 1373 e 1375, e de uma torre da mesma.
O engenheiro destacou que esses achados arqueológicos, que os presentes puderam observar através de um buraco aberto no chão de um dos prédios, “vão ser musealizados e integrados no átrio do hotel”. João Appleton considerou que isso é revelador de “uma nova forma de olhar para as coisas”, resultante da percepção de que “o mais interessante para Lisboa é tirar partido do que temos de notável”. E em grande parte isso é, defendeu, a coexistência no mesmo espaço de “memórias antigas meio perdidas no tempo com coisas recentes”.
Já Vítor Cóias levou o grupo ao número 31 da Rua do Comércio, que alberga serviços da Autoridade Tributária e Aduaneira, depois de ter estado abandonado durante cerca de 20 anos. Aqui, explicou o engenheiro civil, foi seguido “o princípio da intervenção mínima”, por forma a “não perturbar o valor patrimonial do objecto”. Em simultâneo foi feita uma aposta no reforço da resistência sísmica do edifício e na melhoria das condições de conforto que oferece a quem lá trabalha.
O presidente do GECoRPA destacou que um dos problemas sentidos nesta intervenção foi o de ela não abranger a totalidade do quarteirão, o que levanta dificuldades quando se pretende fazer intervenções estruturais com vista ao aumento da segurança. “Um sismo não quer saber se um edifício pertence à Autoridade Tributária e outro à Estamo”, ironizou.



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