20/09/2014

Entre mansardas e casas a cair. Rua dos Mastros e Rua de São Bento

Seguem-se algumas fotografias da rua dos Mastros e da Rua de S. Bento. No último número da revista Lisboa, da CML, o tema de capa era a reabilitação. Como tema, é um bem escolhido, na moda e que granjeia simpatias. Sabemos, contudo, que a reabilitação à la Lisboa é muitas vezes igual a: destruição integral de interiores, aumentos de cérceas, colocação de mansardas em zinco, demolição total do pré-existente, bocas de garagens que aniquilam fachadas inteiras. As vantagens agora anunciadas, todas elas importantes, devem ser obtidas através da apresentação e cumprimento por parte do promotor de um rigoroso plano de intervenção  com  acompanhamento fiscalizador por parte dos serviços da CML. Os elementos originais deveriam ser reintegrados, privilegiando a CML os projectos que mais e melhor o conseguissem. A experiência foi, por exemplo, feita em Bruxelas com resultados positivos.



Mais umas mansardas condenadas. De prédios populares de rendimento, a prédios pombalinos, as substituição das antigas mansardas por uma arrepiante solução em zinco ou numa qualquer liga de materiais que se inserem na liga dos materiais de luxo, deveria ser repensada e se possível evitada. 

Outro candidato à garagem, à destruição das águas-furtadas a uma reabilitação pouco amiga da memória da cidade. Prédio devoluto na rua de São Bento que a própria CML afirma como "uma das mais emblemáticas". Com emblemas destes. . . 
Numa cidade em que as demolições do património Entre-Séculos são uma constante, por que razão este hediondo prédio nunca foi abaixo? Antigo edíficio dos armazéns do Conde-Barão

Magnífico prédio de rendimento no Largo Vitorino Damásio, invulgar na sua dimensão e no número de chaminés estreitas de secção circular que ainda tem. Faz como que uma entrada simétrica da Calçada Marquês de Abrantes com outro não menos importante. As mansardas deste estão em grande medida devolutas e em mau-estado. É pelo topo que se abatem estes prédios.

Para aqui esteve projectada a construção de um mono de nove ou dez andares, que taparia por completo a vista dos prédios da marquês de Abrantes com piscinas, e muitos lugares de garagens. Muito condomínio-de-luxo-fechado.Há décadas que existe uma vedação metálica que ostenta o nome do promotor que, entretanto, faliu. Resta, agora, o buraco que foi feito. O projecto estará na gaveta de algum departamento da CML. tal como outros, e espera-se que daí não saia para mais um corte na cidade

21 comentários:

Anónimo disse...

Quando fizeram o tal buracão apareceram umas ruínas, que foram varridinhas e observadinhas e fotografadinhas com muito cuidadinho repetidas vezes por uns "técnicos" que lá andaram a ganhar o deles.

Depois as tais ruinas foram para o bebeléu e fizeram a betonagem.

Mas no buraco aparecia sempre, sempre, água. Durante muito tempo, outros que lá andaram a ganhar o deles iam aspirando a água com um motor.

Mas houve alturas (semanas, messes) em que o buraco era uma autêntica piscina.

Finalmente, desistiram e de onde tinham saído camiões atrás de camiões com terra voltaram camiões atrás de camiões com terra e o buraco foi tapado (entendendo-se por buraco a escavação abaixo do nível do solo).

Agora está assim, lindíssimo.

Eu sei porque vi tudo e até conhecia pessoas que foram indemnizadas para abandonar umas casitas que existiam ali (e foram demolidas para se fazer a construção que nunca se fez).

E sobre a tal vedação metálica que ocupa o passeio e lá está há anos, pergunto eu: uma ocupação daquelas não tem de ter licença e pagar a ocupação do espaço público? Terá, mas nesta capital é como se não tivesse.

Anónimo disse...

Sr. Miguel,

Estou a pensar em negociações para comprar o 5º prédio que fotografou neste post.
Se avançar para o negócio vou ter de alargar o vão da garagem, trocar os caixilhos para pvc e reabilitar o prédio todo. Ficará com um loft a tardoz e mais cinco apartamentos.
Já aqui em tempos atrás tivémos uma discussão por causa de certas reabilitações e perante o cenário do que eu vou fazer pergunto-lhe se prefere o prédio abandonado e a cair como está, ou que eu o compre?

Cumprimentos,
Tomás

Filipe Melo Sousa disse...

Que caiam. Que se assuma a escolha política de várias décadas que foi a de ter moradores que viveram sem ocupar o espaço pelo qual habitaram. Estas são as consequências.

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

CaroTomás,


Nada tenho contras as reabilitações feitas com respeito em relação ao património já existente.

Já nesse nosso debate, penso ter deixado claro, que há intervenções que adaptam os prédios às necessidades actiuais sem destruir por completo miolos, perfis e estruturas antigas (vivo num desses prédios).

Londres em várias zonas do centro, as fachadas vitorianas mantêm-se e não é hábito esventrá-las para abrir mais uma garagem. Constroem-se parques na proximidade ou os lugares na rua são para residentes.

Em Bruxelas a Câmara estudou incentivos para promoiver a maior inclusão possível de elementos originais (desde a fachada, a maçanetas de portas, etc) nas reabilitações. Foi um caso de sucesso.

O que se pretende para Lisboa, é isso mesmo, um levantamento das reais condições do préido, incluíndo os interiores e incentivar os promotores a apresentar projectos que os incluam. Em caso de provada impossibilidade que se avance para a sua demolição ou reabilitação à la Lisboa.

A especulação tem muitas formas de agir. Deixar passar o tempo até à irrecuperabilidade total do edificado é uma delas. (veja-se o que aconteceu ao gigantesco quarteirão art-déco da Duque de Loulé).

A minha resposta é esta, se estudou todas as possibilidades de salvar o maior número de elementos originais, avance com o projecto.

Se, por outro lado, o projecto nem sequer sopesou as possibilidades de incuir alguns dos elementos originais, aconselharia-o a fazeê-lo,


É evidente que é melhor ter prédios recosntruídos do que ruínas. A verdadeira reabilitação é um passo intermédio entre as duas situações. Em Lisboa, passa-se demasiadas vezes da priemiera para a segunda. É só isso que está em causa.

Anónimo disse...

Caro Tomás,
a falácia do seu post é gritante e deveria envergonhá-lo uma tal abordagem, principalmente neste espaço onde estamos todos legitimamente, contra uma mole imensa de gente, incluindo você, a lutar para que quando você já estiver em casa (talvez de subúrbios) a gozar os milhões que ganhou com a empreitada que acabou de descrever, fique ainda da cidade o suficiente para dizermos que temos património preservado. Lisboa, graças a ações como as que descreve, é um faz de conta ignorante e um destrato de património transvestido de recuperação.
À sua pergunta respondo laconicamente: não toque naquilo que não pode ou não quer proteger! Haverá alguém, espero eu, que faça BEM, em vez de somente faça, numa lógica: eu pego e faço, por isso agradeçam e não sejam pobres e mal agradecidos.
Caixilharias PVC, meu caro Tomás, é sinónimo de ignorância e tacanhez porque é possível fazer melhor. Você poderia fazer melhor, não visse a cidade somente como um saco de dinheiro onde vale tudo para ouvir tilintar as moedas dentro dele. Tenha vergonha!

Anónimo disse...

Fotos e fotos e fotos e fotos e mais fotos de prédios a cair. Das muitas e algumas óptimas reabilitações que também existem e podiam ser mencionadas se houvesse interesse, nem uma linha. Os velhos do costume respondem "boas reabilitações. quais?", queixando-se de campainhas de portas ou outro qualquer detalhe que permita espetar a faca na "corja" que está a destruir a sua querida cidade dos anos 40. A única coerência editorial deste pasquim é a faceta generalista, pueril, alarmista e negativa de um blogue que teria como nome mais adequado "SOS Lisboa", "Salvar LX" ou outro exagero do género. Coloquem este blogue na categoria do entretenimento, sempre é mais honesto.

Anónimo disse...

O que seria mais honesto, anónimo das 5:42, seria informar-se do que se defende aqui e quais são as nossas pretensões. As razões das nossas críticas encontrá-las-à em sobra se gastar algum do seu tempo a ler os artigos que aqui já se publicaram e as acções que promovemos.
Boas reabilitações vai encontrar aqui várias referências; muitas, infelizmente, casos internacionais. Tal se deve não à má-fé dos participantes, antes fosse, mas porque não há muitos casos dignos de nota na nossa cidade. Quanto á qualidade e qualificação do blog, sabe que leitores como você, com a qualidade intelectual que demonstrou ou aparentou ter, não trazem muito bom nome a ninguém nem a nada? É disso a que se estava a referir?

Anónimo disse...

Anónimo das 5:42,
quais são e onde estão essas muitas ótimas e boas reabilitações dignas de nota a que se referiu? Por favor alegre o meu dia mostrando-me-as.

Anónimo disse...

Eu não digo? "Quais são e onde estão...?", perguntam eles. Depende, se se queixarem da goteira que já não é a original ou a caainha da porta que já não é da segunda metade dos anos 20, então nunca vão encontrar. Percebem o que quero dizer?

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Percebo, mas mesmo assim é difícil é encontrá-las.

Será que percebe que estamos nos antípodas do bota-abaixo só porque é moderno?

Agora nao queiram fazer passar o que é pelo que nao é. Uma reabilitacao que destrói todo o interior viável de um prédio Arte-Nova nao é uma reabilatacao mas uma destruicao seguida de uma reconstrucao. Olhe no Bairro Barata Salgueiro soa às dúzias.

Mas talvez ser-se adepto de um certo ar moderno seja o passaporte para uma ignorancia empedernida e cega, a sua pelos vistos.

Anónimo disse...

Qual é o problema desta reabilitação? - http://postimg.org/image/3rsa81cst/

Estão lá caixas de ar condicionado? Estão lá garagens? Não estão lá portadas e janelas de madeira como tantas vezes insistem que nunca se fazem?

E esta? - http://postimg.org/image/fpjp4dh5d/
Qual a questão aqui?

E o problema aqui? Qual a barbaridade na recuperação deste edifício? - http://postimg.org/image/cp1ioydqx/

Isto foi um passeio rápido pela baixa. Há muitos, muitos mais. Também há escritórios de janela aberta sem ar condicionado e sem garagem. Sim, pode haver cozinhas remodeladas, pode haver casa de banho renovadas - e então? Temos de viver como os homens de Neandertal para fazer jus à sua herança?

Percebam que criticar a eito e sem sequer ter noção das diferenças, dos cambiantes e das mudanças só reforça a ineficácia deste blog, o mesmo que podia prestar um serviço muito mais útil à sociedade mas que rapidamente resvala para a caricatura e o exagero.

Paulo Pevide disse...

Estou curioso para saber a resposta a este último comentário.

Anónimo disse...

Caro anónimo das 4:21,
é surpreendente acusarem-nos de extremismos e depois continuar com uma falácia de argumentos que denotam somente má-fé. Talvez a carapuça lhe sirva de alguma maneira quando acusamos actos determinados e identificados e se denunciam práticas que estão dissiminadas uniformemente por todos os estratos da sociedade que me leva a concluir que temos um povo ignorante.
Não é pelo facto de encontrar exemplos de boas práticas que faz destes a regra. Alías, quando escreve que há muitos eu não só discordo como desminto: Lisboa não cuida do seu património e a grande maioria das intervenções são inaceitáveis à luz daquilo que hoje se entende como uma boa intervenção e adaptação à vida moderna. Se você não quer viver como neandertal, que suponho seja o caso de milhões de desgraçados que vivem em cidades como Paris, Viena ou Salzburgo, pode sempre optar pelos Lumiares e pelas Expos da vida, que nada tenho contra isso. O que tenho contra é fazer-se de bairros e edifícios de determinada época e corrente arquitetónica uns híbridos ignorantes somente porque os gostos da massa pede plástico que parece madeira no chão e nos armários da cozinha ou música ambiente.
Se não há educação e instrução o único remédio é adquiri-la. Pense nisso... ainda vai a tempo.

Anónimo disse...

Pode acusar-me de má fé, que é tão válido quanto eu acusar-vos de extremismo. É fácil criticar essas mesmas práticas que diz "dissiminadas" por todos os estratos da sociedade, rotulando tudo por igual e passando um pincel generalista varrendo tudo a eito, mas não é correcto. Também há gente sensível à questão, também há casos e não vale a pena virem perguntar de forma retórica "onde estão" como se não soubessem, apenas para darem força à vossa luta. Sou contra a ignorância, mas sou muito mais contra a desonestidade intelectual.

Anónimo disse...

Lol.

O que eu me ri com o comentário do anónimo das 4:21..

Desde acrescentos, varandas revestidas com placas de pedra, pvc roscofe, materiais pastiches...

E ainda nem chegámos aos interiores!

Anónimo disse...

Desonestidade intelectual é não perceber o que são as práticas dissiminadas e correntes daquelas que são pontuais. Desonestidade é tentar convencer alguém que Lisboa é um exemplo de preservação, quando nem sequer a maioria (onde você se inclui) sabe o que é património e porque se devem preservar certos elementos que você e outros chamam, jocosamente, meros caixinhas de porta da segunda metade dos anos 20.
O pincel generalista retrata aquilo que tem sido o padrão das intervenções em património e nem se atreva a desmenti-lo (ou faça-o noutro lado porque aqui não convence ninguém). Claro que existem exemplo de intervenção a seguir, mas são raras, espúrias e longe de ser a regra.

Anónimo disse...

Onde se lê dissiminados leia-se disseminados. Desculpem o erro!

A.C. disse...

Portanto toca de pegar nos supostos acrescentos e fazer disso o vosso ponto de argumentação, sem perceber sequer o cerne da questão. Perante este nível de debate, estamos conversados.

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Como já foi referido pelo anónimo das 3.51, há exemplos de boas reabilitações em Lisboa, eu próprio já referi alguns. Infelizmente não são a regra. Por todo o lado o património de todas as épocas (à excepção do pouco românico, do pouquísismo gótico, do manuelino) todas as outras épocas históricas estão a saque em Lisboa,

De palácios, a Igrejas, de Largos do séc. XVIII, a praças do Séc. XIX, de palacetes romãnticos, a palacetes e prédios pombalinos, de arquitectura Arte-Nova `Arte-Déco, a cegueira inculta e selvagem das demolições vai por todo o lado.

As rebiltações à la Lisboa mais não fazem do que destruir os interiores, acoplar um miolo em tudo estranho à fachada, dar cabo das mansardas e substituí-las por monos de zinco, os famigerados cabeçudos, única e paupérrima solução dos nossos brilhantes arquitectos.

- Avenida da República

- Avenida da Liberdade,

- Avenida Fontes

- Avenida Defensores de Chaves

- Avenida 5 de Outobro

- Rua Castilho

- Rua Rosa Araújo

Estas são algumas artérias de Lisboa em que o património riquissímo Arte-Nova, arquitectura de transição está extinto ou, de tão pouco, já não empresta a essa parte de Lisboa o brilho para que foi pensado.

Palácio Bichinho-de-Conta secs. XVII-XVIII

Palácio ALmada sécs XV, XVI; XVII e XVIII

Palácio Ponte de Lima , sécs. XIV ao XVIII

Palácio Ribeira Grande, séc. XVII-XVIII

Palácio Almada-Carvalhais, sécs. XV-XVIII

Palácio das Águias séc. XVIII

Palácio Marim-Olhão séc. XVII- XVIII


São alguns dos extraordinários exemplos de residências aristiocráticas de Lisboa que estão a cair, ao abandono, à mercê do tempo e do desleixo da CML.


Não somos nós que somos generalistas, mas a ignorância que toma a parte por um todo. A única cosia que é generalista é a falta de estratégia da CML para a cidade. O que, aliada à endémica apatia dos portugueses, se torna a receita para o desleixo em que Lisboa está a ser transformada. Um desleixo oscarizado, é certo, mas não menos desleixo por isso.



Anónimo disse...

"Portanto toca de pegar nos supostos acrescentos e fazer disso o vosso ponto de argumentação, sem perceber sequer o cerne da questão. Perante este nível de debate, estamos conversados."

---//---

Realmente.. Isto só visto!

Ora vejamos:
O anónimo das 4:21 toma a iniciativa de ir dar um passeio pela Baixa e de partilhar algumas fotos que, a seu ver, representam bons exemplo de reabilitações.
No entanto, o anónimo parece não ter em conta que as fotos que tirou, e que nos apresentou, não só mostram claramente intervenções disfarçadas e híbridas como também se limitam às fachadas dos edificios e não incluem toda uma outra uma série de aspectos intrínsecos do património aqui discutido - como os seus interiores!

Caro AC:
Se tivesse o mínimo de bom senso e honestidade tinha lido os argumentos e tinha percebido que os acrescentos foram só um dos aspectos que foram referidos neste debate.
Como não tem, e como se limita não só a condescender com certas más praticas como a menosprezar e a rotular os argumentos de quem as vê e as menciona, então realmente estamos conversados!

Até porque é muito mais fácil sair do debate com escapatórias e argumentos cheios de demagogia barata, acusando quem toca na ferida e nos podres, não é?

Os pseudo intelectuais e a sua desonestidade no seu melhor!

Olhe AC, um post-scriptum:
Uma vez que a carapuça lhe serve perfeitamente, faça o favor de a colocar!

Anónimo disse...

Anónimo das 7:01: Agradeço-lhe a chamada de atenção sobre as lajes de pedra. Passo todos os dias pela Baixa. Nunca tinha reparado!