In Público (6/4/2008)
Catarina Prelhaz
«Primeira edição do evento Peixe em Lisboa espera atrair 15 mil pessoas até ao próximo domingo com cozinha de autor a cinco euros
Já foi ao Eleven, restaurante português com uma estrela do Guia Michelin? E ao Sheraton, Pragma, Terreiro do Paço, Gemelli, QB, Ribamar ou Tivoli Terraço? E por que não provar os pratos dos chefes mais conceituados do país por cinco euros? E já agora, que tal aprender com eles alguns truques culinários?
Estes são apenas alguns dos desafios que o evento Peixe em Lisboa faz a quem queira visitar o Terreiro do Paço até ao próximo domingo. "O objectivo é colocar Lisboa na rota do turismo gastronómico de topo", explica o director da iniciativa, Duarte Calvão. "O turismo gastronómico pode trazer grande rentabilidade para o país se soubermos aproveitar o que temos de melhor: a qualidade e a especificidade dos nossos produtos, sobretudo do peixe e marisco."
O primeiro dia do festival, uma iniciativa do Turismo de Lisboa em parceria com a câmara municipal, levou ontem ao Terreiro do Paço mais de 600 pessoas, mas a organização espera alcançar as 15 mil nos próximos oito dias.
Ainda não eram 12h00 e já os chefes de alguns dos restaurantes de luxo corriam dentro dos expositores à moda da feira do livro. "É um desafio para nós: temos de fazer as coisas bem feitas num espaço pequeno e diferente, cheio de limitações, mas vale muito a pena porque até nos dá ideias novas", confessou o chefe do Eleven, Joachim Koerper, que levou ontem ao Terreiro do Paço duas sobremesas: um brownie de chocolate com molho de caril e tiramisú com molho de framboesa.
Já para o chefe do restaurante QB e pioneiro do sushi em Portugal, Paulo Morais, o país deveria apostar mais no turismo de qualidade. "Há muita gente que faz turismo gastronómico e Portugal deveria fazer parte do roteiro". Augusto Gemelli, chefe e proprietário do restaurante com o seu apelido, é da mesma opinião. "É preciso divulgar a gastronomia de qualidade para trazer mais dinheiro ao país".
Cozinha não é para todos
"Acho o evento muito interessante, mas devia ser mais acessível", censurou Arminda Pacheco, de 62 anos, uma das visitantes do primeiro dia do festival. É que, embora os pratos variem entre cinco e oito euros, entrar no Peixe em Lisboa custa por pessoa 15 euros (com degustação incluída num restaurante à escolha). Porém, o preço dos ingressos não afastou o público português, presente em força no evento. "Já aprendi imenso e com certeza que venho mais dias", assegurou Wilson Honrado, de 32 anos, após uma palestra do chefe do Hotel Sheraton, Leonel Pereira, dedicada às diferentes formas de confeccionar peixe.
Mas se o festival e a cozinha de autor não são para todas as bolsas, essa também não era a sua intenção. O evento custa 750 mil euros ao Turismo de Lisboa (250 mil pagos por patrocinadores), uma aposta que o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, entende ser "fundamental para fixar um turismo de qualidade". Uma opinião partilhada pelo director do evento. "Festivais para os outros segmentos de mercado já existem, agora é preciso desenvolver este ", sublinhou Duarte Calvão.
"Portugal tem uma grande potencialidade porque pesca no Atlântico e a Espanha só tem o Mediterrâneo e, como diz o chefe António Moita [restaurante A Travessa], água fria dá bom peixe, quente só bons banhos. O peixe português está presente nos melhores restaurantes do mundo", enfatizou o director do departamento de qualidade da Pescaviva, um dos maiores exportadores nacionais (ver texto ao lado). O Peixe em Lisboa prossegue hoje com sessões dedicadas ao marisco e à culinária japonesa. Amanhã será o dia do bacalhau. »
É uma pena, mas turismo de topo é coisa a que não nos habituaremos nunca, se mantivermos Lisboa com buracos e abandonada, por tudo quanto é lado. E se não preservarmos o pouco que temos de valioso. Coisa, seguramente, que quem decidiu sobre a TTT não concebe nem consegue entender no seu pobre espírito provinciano que julga que o cimento dá saúde e faz crescer. Bem-hajam!
06/04/2008
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2 comentários:
Gostaria de saber o que pensarão os "bandos" de turistas, sobretudo gerontes - muitos com as suas bengalas, largados de autocarros em locais impróprios para desembarque - esburacados, apertados, entalados - congestionando o trânsito, e empurrados para o famoso Bairro Alto.
Já nem me interessa saber o que pensam os guias, as agências, e os responsáveis da autarquia perante o lucro e as comissões que estes turistas proporcionam; assim como não me interessa saber o que as mesmas "entidades" pensam sobre o dito Bairro.
Não me interessa!
Ainda ontem, eu e um amigo, fizemos uma incursão pelo Bairro Alto, ao fim do dia, cinzento e levemente frio. As casas estão desfiguradas e conspurcadas de gatafunhos e riscos e cores de toda a espécie e de todos os níveis, degradadas muitas, emparedadas várias. Na Rua da Atalaia junto a um famoso bar, uma mesa velha coberta de alguidares com carnes temperadas, pratos e copos de plástico, sumos e garrafas de cerveja, fazia companhia a grelhadores de pé alto, e mais alguidares e cadeiras velhas. Sentadas pelo chão mulheres e homens faziam a festa. A música gritava através de janelas abertas.
Grupos com aspecto sinistro, repito sinistro, gritavam entre si e discutiam vá-se lá saber porquê!
A impressão geral era a de uma lixeira. O amontoado de lixo, e de papéis que pelam das paredes a que se junta a porcaria pintada por todo o lado - desde o chão da rua até, quase, os telhados das casas - é um horror.
Perguntámos um ao outro enquanto saíamos rapidamente dali:
" É para esta lixeira que trazem os turistas?".
E, a realidade forneceu-nos imediatamente a resposta. No largo da Misericórdia um autocarro descarregava atabalhuadamente um grupo de simpáticos velhinhos estrangeiros, os quais eram rapidamente, em fila indiana, despejados na "lixeira".
Cumprimentos
Turismo de Topo?
Só se for o Topogigio?
Vão gamar...
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