06/01/2011

É imperativo criar o Grupo de Salvaguarda da Baixa Pombalina e fundar uma Frente Cultural de Resistência, por António Sérgio Rosa de Carvalho.



Agora que, depois de várias críticas, o vago, generalista, impreciso e precisamente “utilizável’ de forma multifacetada, Plano de Salvaguarda da Baixa Pombalina foi aprovado pela Assembleia Municipal ... urge reunir energias, e orientar e organizar esforços de resistência ... e de vigilância permanente.
Acima de tudo é preciso também eleger um local simultaneamente concreto e simbólico que apresente as características arquétipas do Pombalino ... afim de que ele se possa tornar numa referência de resistência e um exemplo para outras intervenções ...
Que local melhor e mais emblemático, mais ilustrativo do que o Largo de S. Paulo? ... ainda intacto e detentor das mansardas arquétipas de Mardel e da tipologia inicial de Eugénio dos Santos...
Além disso ele forma um conjunto arquitectónico com o seu monumento e fonte central, a sua Igreja e o vizinho Mercado da Ribeira e actividades comerciais inerentes,ideal para constituir um Local- Referência, capaz de desenvolver um exemplo estimulante e contangiante do enquadramento perfeito para a vivência quotidiana de um verdadeiro Bairro.
Ora nós sabemos que existe um projecto para o Mercado da Ribeira ... percebem-se as intenções mas desconhecem-se os detalhes ... e entretanto o exemplo já dado por mim de uma intervenção na Rua do Arsenal,( mansarda na primeira imagem) exemplo total daquilo que pode acontecer no futuro, quando o IGESPAR deasaparecer definitivamente das intervenções na Baixa, faz adivinhar o pior ...
É portanto fundamental criar uma Frente de Resistência e Vigilância, capaz de exigir uma intervenção exemplar no ponto de vista Patrimonial e que leve , através do seu sucesso a um Grupo de Salvaguarda da Baixa Pombalina, onde Académicos, Jornalistas, gente da Cultura, técnicos, artesãos ... enfim... todos os Cidadãos preocupados e interessados ... possam agir.
Já várias vezes, quando me referindo ao Largo de S. Paulo, destaquei o exemplo Londrino de Convent Garden ... mas existe um exemplo mais ilustrativo ... o de Spitalfields, bairro Londrino no East End, sobre o qual vale a pena nos debruçarmos e aproximarmos como “caso” comparativo ...



Mercado da Ribeira

Spitalfields. Mercado

O Mercado de Spitalfields criado no reinado de carlos I (1638)conheceu diferente periodos de importância e decadência, servindo diversas comunidades através dos séculos ...tendo sido o mais importante precisamente o periodo em que toda a área se afirma como zona de comerciantes e centro de tecelagem das sedas, a partir do início do Sec. XVIII com a vinda de uma importante comunidade de Hugenotes ( Protestantes Franceses fugindo da intolerância determinada com a revogação do édito de Nantes por Luis XIV ) o que levou por sua vez ao desenvolvimento urbano num estilo "Georgian" que caracteriza a área ...
Curiosamente, a intervenção recente por Norman Foster em parte importante do Mercado, que causou resistência e polémica, só tomou lugar como ponto culminante e posterior ( como elemento consolidador, e não como início `dinamizador´ à priori, como pretende ser a intervênção na Ribeira ) a todo um processo de luta pela Conservação e Restauro exemplar das suas ruas e conjunto de casas, em todas as suas características `Georgian` exteriores e interiores, como passo a ilustrar, tendo esta área se tornado num símbolo de Resistência e Salvaguarda e exemplo de uma vitória exemplar Conservacionista.



A seguir ao periodo Georgian caracterizado pela intensa actividade do Comércio e Tecelagem de sedas, a área entrou num processo de decadência e empobrecimento progressivo ao longo do SécXIX e da época Vitoriana.
Assim esta era uma das áreas menos recomendáveis de Londres, dominada pela miséria e crime ... era aqui, na zona de Brick Lane que o famoso Jack the Ripper actuava e este processo foi se acentuando através do Séc. XX , tendo toda a área se transformado em zona de `sweat shops`de imigrantes asiáticos ... no entanto e miraculosamente, as características arquitectónicas das casas e o seus interiores mantiveram-se intactas, embora em profundo estado de degradação ( tal como no Largo de S.Paulo e em muitas outras zonas da Baixa)






No presente depois de uma batalha iniciada a partir dos finais dos anos 60 num Movimento Conservacionista de Resistência criado por um Historiador de Arquitectura, hoje famoso, e interveniente assiduo em séries da BBC dedicadas ä História da Arquitectura, esta zona completamente restaurada, tornou-se numa das zonas mais apeteciveis e apreciadas de Londres.






O herói e aglutinador de energias e iniciativas, desta gloriosa e bem-sucedida batalha conservacionista, o Historiador de Arquitectura Dan Cruickshank ainda habita na zona numa casa paradigmática ...



No entanto, na epoca em que ele os seus companheiros de luta, chegaram a dormir em casas, acampados para impedir a sua demolição, os seus interiores apresentavam este ambiente ...



Esta é a casa de Dan Cruickshank no presente ... fruto de de uma dedicação onde a sensibilidade estética sintoniza-se com um grande rigor histórico, produzindo um ambiente único


Tudo isto foi conseguido por um grupo de pessoas que através de grande determinação, preseverança e teimosia conseguiram fundar a Spitafields Trust, que num processo de contágio e reconhecimento, conseguiu desenvolver peritagem e fundos para restaurar 60 casas ao longo destes anos...


Esta casa-Museu fantasista e interpretativa ...a casa Dennis Severs em Folgate Street, ficou como um simbolo a visitar









Vários artesãos e habitantes, tais como este, Jim Howet, especialista no restauro de Lojas e suas fachadas , carpinteiro e escultor , são os heróis deste processo glorioso ... em baixo vários exemplo de antes e depois ...











Várias pessoas, entretanto famosas, como a escritora Jeanete Winterson, optaram por viver nesta área e participarem, depois do Restauro das suas casas, na vida quotidiana da Comunidade e do Bairro , com diversas iniciativas ... neste caso um estabelecimento “green” de mercearia fina e “delicatesses”gastronómicas, apropriadamente chamado “Verde”...







12 comentários:

Anónimo disse...

Uau, você gosta mesmo de si, para ocupar a página inteira com um post destes...

J A disse...

Enquanto não existir um Centro Informativo de Recuperação de Imóveis, de preferência num edifício exemplarmente recuperado, com interiores visitáveis, exposição de processos de reabilitação, apoio directo a interessados, etc....o rumo deste tópico continuará a ser como o dos salpicos da pedrada no charco.

Quanto a esse documento "Plano de Salvaguarda da Baixa Pombalina", vai servir ainda para piorar o estado das coisas.

Anónimo disse...

por muito interessante que seja o exemplo "lá de fora" não creio que possa ser tido em conta nesse simples regime de comparação. os portugueses não tem os hábitos nem de consumo nem de habitação do espaço público que têm, por exemplo, os ingleses...muito se reclama (e ainda bem) neste blog a recuperação de património mas creio que os problemas de Lisboa passam, mas não acabam aí. de uma forma muito simples, só uma cidade com pessoas permitirá a sustentabilidade de tais intervenções...às vezes esquecemo-nos disso...

Anónimo disse...

no post havia imensos monos velhos

Xico205 disse...

Grande e com tanta imagem do estrangeiro num blog que deveria ser sobre LISBOA, a maioria como eu, nem se dá ao trabalho de ler.

Isto é para falar de Lisboa não é para falar do estrangeiro, eles lá sabem o rumo deles, nós sabemos o nosso.

Filipe Melo Sousa disse...

falta de paciência para este saudosismo reaccionário

Anónimo disse...

é pá ó xico este blogue é sobre cidadania ou não sabes ler pá?

Anónimo disse...

Mas como é que eu não fico surpreendido por saber que o Xico não lê este tipo de posts! Eu ficaria surpreendido é se ele os lesse!
Pois se o Xico e "a maioria como você" lessem este tipo de posts não teríamos uma comunidade buçal, desinteressada, amante do abarracamento e do desenrasca tão grande como Lisboa e Portugal têm.
Dou-lhe, em todo o caso, louvores pela sinceridade em admitir a sua aliteracia e desinteresse em aprender o que está certo.Mas tal não o desculpa das incursões vergonhosas e atrevidas que vem aqui fazer!

Anónimo disse...

O Post das 12:59 também se aplica ao costumeiro participante deste Blog Filipe Melo Sousa que acha saudosismo reacionário a defesa do património de forma escrupulosa e organizada.
Eu bem sei que tem grande paixão por Colombos, grandes superfícies, cidade cheia de carros e estacionamento à porta de casa, publicidade a piscar por todo o lado, o fartote do consumo desenfreado, enfim, aquelas coisas que os jovens, e os menos jovens elegeram como sinais de progresso e felicidade.
Mas pasme-se porque este modelo já foi posto em causa, e há muito tempo, o que faz de vós os verdadeiros reacionários.
Os senhores façam um estágio em alguma capital europeia e verão que este farrobodó só é permitido ainda aqui neste país de mentalidades e cabeças iludidas pelo "ouro dos tolos".
Explique-me, Filipe ou os demais, como é que é possível que um país de 900 anos, que se quer candidatar a ser um dos principais destinos turísticos, destrói o seu património? É que turistas não vêm para ver Colombos, mamarrachos e carros em cima do passeio!

Xico205 disse...

Pois, os turistas vêm para ver o Castelo De S. Jorge, Alfama, os Jerónimos, comerem pasteis de Belem, andarem na Baixa, e irem à Torre de Belem. Que eu saiba nada disso está para ir abaixo.

Ah, e eu sempre que vou ao Colombo e Vasco da Gama vejo lá turistas por acaso. É o que dá não ser cegueta.

Filipe Melo Sousa disse...

O Colombo é património português. Os meus amigos estrangeiros visitam-no frequentemente, e eu sou o primeiro a mostrar-lhes o lugar. Obtive óptimo feedback.

Anónimo disse...

excelente reportagem
manchada por algum excesso e pelas cavalidades do costume dos comentaristas do costume