07/11/2011

Construção em crise, mais empregos sob forte ameaça



"Este responsável admite que o sector já começou a "entrar em colapso", alertando que, "se não arrancarem, a sério, com as obras de reabilitação urbana, serão mais 140 mil postos de trabalho que se vão perder. O desemprego vai chegar aos 20%"."
"E lamenta que o sector da construção tenha, continuamente, uma má imagem junto da opinião pública. "Como se fossem todos corruptos ou os grandes responsáveis pelas PPP, como se fosse só um lobby a pedinchar obras e não um sector a zelar pelo desenvolvimento do país", argumenta. Para ilustrar a má vontade com que a opinião pública encara o sector da construção, Agria vai buscar o exemplo de um outro sector, o do turismo. "O sector do turismo organizou-se, conseguiu parcerias com o Estado, tem planos, que mantém e está a cumprir e ninguém contesta."
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Este Sector está ( tal como em Espanha ) portanto sujeito a uma “correcção” determinada pelas verdadeiras e reais necessidades do Mercado, depois de anos de excessos destruidores do carácter das cidades, más extensões periféricas e alienadores do ordenamento do território …
Vêm agora como ‘última esperança’ … a Reabilitação Urbana … e apresentam como exemplo de ‘boa imagem’ … o sector do Turismo…
Pois … mas este sector do Turismo ja percebeu ( um pouco mais ) que as intervenções no edificado para terem sucesso terão que garantir autenticidade em estilo e materiais , respeitar e confirmar a Imagem Histórica, reforçando a Identidade , o Carácter , a Cultura e as Características Locais !
Vamos ter, no meio desta urgência, necessidade e desespero … uma Reabilitação Urbana, que constitua um verdadeiro Investimento na qualidade de Vida dos Portugueses e Preservação das Caracteristicas e Valores Patrimoniais … ou uma operação massificada e a “martelo”?
Quem vai orientar e desenvolver a necessária Pedagogia ?
António Sérgio Rosa de Carvalho
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Construção em crise, mais empregos sob forte ameaça
Por Luísa Pinto in Público

O sector chegou a pesar 20% do PIB, agora ameaça levar o desemprego nacional aos 20%, avisam as empresas de construção

A funcionária dos serviços jurídicos da associação de construção e obras públicas pergunta com clareza ao sócio gerente da construtora: "Mas nos últimos três anos já fez eliminação de postos de trabalho com recurso às quotas? É que, se já fez, agora terá de fazer um despedimento colectivo." Ouve-se o silêncio do empresário. E nova argumentação da jurista: "Não se preocupe, que isso não quer dizer que tem de fechar a empresa. Mas as condições económicas para justificar o despedimento colectivo nem precisam de ser explicadas..." A voz do sócio gerente nem se ouve, por detrás das paredes finas que o isolam no open space em que estão os serviços da associação. É fácil perceber o que aquele sócio gerente está ali a fazer. Quer saber como despedir trabalhadores, ou, no limite, como sobreviver.

No ultimo relatório de conjuntura divulgado pela Federação da Construção (Fepicop), os empresários do sector estão mais pessimistas que nunca. Desde 2002 que o sector da construção tem estado a apresentar degradação contínua nos seus indicadores: as quebras de produção acumuladas já ultrapassam os 40%, e o número de postos de trabalhos que perdeu nos últimos nove anos já atingiu os 236 mil. Agora, as encomendas em carteira só duram, em média, mais oito meses.

O presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), Reis Campos, contabiliza "uma média de cinco empresas por dia a apresentarem-se à insolvência e 160 trabalhadores a perderem emprego, diariamente". Este responsável admite que o sector já começou a "entrar em colapso", alertando que, "se não arrancarem, a sério, com as obras de reabilitação urbana, serão mais 140 mil postos de trabalho que se vão perder. O desemprego vai chegar aos 20%".

De uma forma geral, todas as empresas estão a tentar fazer "alguma coisa" para evitar o colapso definitivo, diz o presidente da Fepicop, Ricardo Gomes. "Não deve haver uma única empresa no sector que não esteja a olhar para a sua estrutura, para perceber como pode emagrecer, cortar custos." Esta premissa é válida tanto para as 24 mil empresas que têm alvará de construção, como para as outras 38 mil que têm títulos de registo aceites no Instituto nacional da Construção e do Imobiliário.

É verdade tanto para as maiores empresas do sector em Portugal, que facturam cerca de mil milhões de euros, como a Mota-Engil (que não anunciou reestruturação, nem despedimentos, mas continua a pagar salários a uma bolsa de trabalhadores inactivos), ou a Soares da Costa (que pediu autorização para avançar com uma reestruturação que, no limite, pode reduzir 900 postos de trabalho ao seu número de colaboradores), como é válido para empresas de menor dimensão - é o caso da MonteAdriano, que em 2009 facturou 340 milhões de euros, e cujas últimas notícias apontam para a dificuldade em pagar salários dentro do prazo. "Há empresas que têm volumes de negócios de 70 e 80 milhões de euros por ano que não estão a aguentar, por causa da falta de trabalho e da falta de tesouraria. Se ao menos o Estado pagasse as dívidas...", diz Ricardo Gomes. São 1400 milhões de euros, dos quais 900 das autarquias e o restantes de empresas públicas.

Muitas construtoras abriram as portas a consultoras como a Roland Berger para perceberem como podem melhorar, ou sobreviver. A receita é quase sempre a mesma, confirma o director-geral da consultora, António Bernardo: "Esgotar a capacidade, internacionalizar selectivamente, reestruturar a dívida e adequar os modelos de gestão."

Como se chegou até aqui?

Não foi por falta de aviso, que a crónica desta crise estava há muito alinhavada. Se nas últimas três décadas o investimento no sector da habitação esteve muito concentrado na construção de novos edifícios, impulsionado pelo acesso ao crédito fácil, tal começou a ser menos verdade com o fim do crédito bonificado, em 2002. O ajustamento na construção de edifícios, que absorve 60% da mão-de- obra, começou a verificar-se, sendo licenciados cada vez menos fogos novos, sem que essas obras fossem transferidas para o segmento da reabilitação, que sempre pesou pouco em Portugal. Entre 2001 e 2009 a quebra acumulada na produção do sector da construção atingiu os 49,5%. Nos últimos dois anos, o travão foi ainda mais brusco: o ano de 2010 foi o ano em que menos casas se venderam e 2011 há-de ser o ano em que menos casas se construíram desde há muito: nos primeiros nove meses do ano, a quebra, em termos homólogos, já vai em 30%.

No segmento de engenharia e obras públicas, a mesma coisa. O Governo Sócrates apresentou um plano de investimentos que chegava aos 17 mil milhões de euros, em que semeava o país de aeroportos, linhas de TGV, e auto-estradas, reabilitava escolas e hospitais, construía novas prisões e barragens. Muitas dessas obras ficaram pelo caminho. Avançaram as auto-estradas e as obras de reabilitação do Parque Escolar foram, durante dois anos, um verdadeiro balão de oxigénio para o sector. O balão esvaziou-se. Para além do anúncio de que não serão lançadas obras novas, também há notícia de que vão ser diminuídos e cancelados investimentos que já estão em curso - tanto nas subconcessões da Estradas de Portugal, como nas obras do Parque Escolar, apurou o PÚBLICO.

O PÚBLICO falou com administradores de várias empresas, e estes continuam a preferir não ser citados e a remeter declarações públicas para as associações que os representam. Manuel Agria foi durante muitos anos o principal responsável pela ANEOP, uma associação que entretanto desapareceu, fundindo-se com a AECOPS. E lamenta que o sector da construção tenha, continuamente, uma má imagem junto da opinião pública. "Como se fossem todos corruptos ou os grandes responsáveis pelas PPP, como se fosse só um lobby a pedinchar obras e não um sector a zelar pelo desenvolvimento do país", argumenta. Para ilustrar a má vontade com que a opinião pública encara o sector da construção, Agria vai buscar o exemplo de um outro sector, o do turismo. "O sector do turismo organizou-se, conseguiu parcerias com o Estado, tem planos, que mantém e está a cumprir e ninguém contesta."

Se juntarmos às construtoras toda a componente dos materiais de construção e do imobiliário, vamos encontrar a fileira que (ainda) é a principal empregadora em Portugal, com 770 mil postos de trabalho - tem, inclusive, mais funcionários que o próprio Estado. "Podem dizer nos corredores que é para deixar cair o sector da construção. Uma certeza tenho: o país não consegue voltar a ver o seu PIB crescer e estancar o desemprego com o sector da construção assim. Se o sector ruir de vez, com ele cai a banca e o emprego", alerta Reis Campos.

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