14/03/2013

Comércio de proximidade


Por João Barreta, in Jornal Arquiteturas:


Pensar a regeneração urbana do centro das urbes sem pensar o comércio de proximidade aí instalado poderá constituir-se como um exercício contraproducente. Para além do risco de existir quem enverede pela discussão de conceitos, seja ao nível das políticas urbanas, seja das definições daquilo que se relaciona com a atividade económica – comércio, a tendência para se discutir a forma e descurar conteúdos deve ser evitada.

O estudo “O Comércio de Proximidade”, elaborado no âmbito da iniciativa “Fazer Acontecer a Regeneração Urbana”, promovida pela CIP, visa, também, despertar consciências, promover decisão política, construir medidas, desburocratizar processos, despoletar ação, desencadear intervenção, solucionar problemas, quase arriscaria … regenerar mentalidades.

Que o comércio faz parte da razão de ser das cidades, que estas falam a linguagem do comércio ou que este se constitui como o embrião da vida urbana, já poucas dúvidas suscitará, pelo que este projeto, mais do que uma oportunidade para contribuir para a regeneração do centro das urbes, a modernização, dinamização e animação do comércio de proximidade, constituir-se-á, antes de mais, como o reconhecimento, a valorização e a otimização de uma vocação que lhes está inerente, desde que há memória.

O comércio como setor de atividade económica justificará que os poderes e/ou parceiros públicos acompanhem a dinâmica evidenciada por atores privados, facilitando a instalação, regulando o funcionamento, acompanhando a atividade, incentivando o empreendedorismo, fomentando a inovação, promovendo a criatividade, enfim, reconhecendo-lhe importância e o seu papel estratégico na economia local, regional e nacional.

É sabido que ao comércio instalado no centro das urbes são, geralmente, associados constrangimentos de diversa ordem e magnitude.

Do lado dos constrangimentos endógenos deparamo-nos com realidades como a pequena dimensão das empresas, o predomínio de estabelecimentos de reduzida dimensão, o forte peso dos métodos (de venda) tradicionais, a gestão familiar com pouco recurso às “ferramentas” de marketing, publicidade, merchandising, etc…, a escassa utilização das potencialidades oferecidas pelas novas tecnologias (softwares informáticos de gestão, bases de dados, Internet, etc…), a desadequação dos horários de funcionamento, o fraco grau de participação/adesão a formas de associativismo, etc…

No caso dos exógenos, apontam-se, entre outros, constrangimentos como a ausência de política pública para o “setor” do comércio de proximidade, a inexistência de programas integrados de regeneração urbana que contemplem igualmente as atividades de comércio e serviços, o estacionamento público deficitário, a concorrência intensa e acrescida por parte de outros formatos com novas “valências comerciais” – centros comerciais/grandes superfícies, a emergência dos formatos discount e/ou as disfunções do mercado de arrendamento.

A inexistência de uma política pública para o setor, fosse ela emanada da administração central ou local, contribuiu de forma definitiva para uma crescente desertificação dos respetivos espaços comerciais, com o encerramento das pequenas empresas de comércio, instalados no centro das urbes, causa e/ou consequência, também, do esvaziamento populacional dos centros urbanos que por razões diversas se deslocaram para zonas residenciais na periferia das cidades.

Neste âmbito os erros do passado constituem-se como uma das principais fontes de aprendizagem para que se contemple a vertente da atividade económica - comércio e serviços, no planeamento e ordenamento das cidades, reconhecido que é o papel do setor e do comércio de proximidade na definição de políticas públicas para a cidade e para os seus centros históricos.

João Barreta é o autor do estudo "O Comércio de Proximidade". O autor escreve, por opção, ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Releiam o post:
http://cidadanialx.blogspot.pt/2013/02/very-typical.html

É para acabar com isto, ou não?