14/03/2013

Estudo de Mega Ferreira está pronto mas Câmara de Lisboa não o divulga


In Público (14/3/2013)
Por Inês Boaventura

«O escritor, cuja contratação por 19 mil euros gerou polémica, concluiu a sua proposta para os museus em Outubro de 2012. A vereadora da Cultura diz que se está a trabalhar na versão fi nal do documento


O estudo elaborado por António Mega Ferreira sobre os museus da capital foi concluído e entregue à Câmara Municipal de Lisboa em Outubro de 2012, mas a vereadora da Cultura recusa-se a divulgar o seu conteúdo, com o argumento de que se trata de “um instrumento de trabalho e de apoio à decisão”.

A contratação do escritor e expresidente do Centro Cultural de Belém, por cerca de 19 mil euros, foi aprovada pelo executivo camarário em Junho de 2012, com a abstenção dos vereadores dos Cidadãos por Lisboa (eleitos pelo PS) e do PCP e com os votos contra do PSD e CDS. Na altura a oposição contestou essencialmente o carácter “despesista” desta medida e o facto de não se ter recorrido a técnicos do município para fazer o estudo.

Já a vereadora da Cultura negou estar a “desvalorizar” os técnicos da Câmara de Lisboa, alegando que “uma visão exterior” poderia ser “vantajosa”. “Mega Ferreira conhece muito bem a cidade e é um gestor cultural de grande competência”, que possui uma “visão estratégica para Lisboa e para os seus museus”, afirmou então Catarina Vaz Pinto.

A encomenda ao escritor tinha um prazo de execução de quatro meses, mas desde Junho que nada se sabe sobre os resultados do trabalho contratado. Numa última reunião pública da autarquia, realizada no fim de Fevereiro, o social-democrata Victor Gonçalves e o centrista António Carlos Monteiro pediram esclarecimentos sobre o assunto. A resposta de Catarina Vaz Pinto foi lacónica: “Temos estado em diálogo permanente com Mega Ferreira. Estamos a ultimar a versão final, para discussão dentro do executivo”.

Esta resposta não satisfaz o vereador do CDS, que adianta que já dirigiu vários pedidos de informação à vereadora da Cultura, a quem solicitou também uma cópia do estudo elaborado por Mega Ferreira. “Porque é que não nos facultam o estudo e estão a escondê-lo? É incompreensível, porque o contrato de prestação de serviços já terminou”, diz António Carlos Monteiro, que promete insistir no assunto até que o documento lhe seja fornecido.

O PÚBLICO perguntou a Catarina Vaz Pinto quando é que o escritor terminou o seu trabalho, quais foram as suas principais conclusões e quando é que se prevê que a chamada “versão fi nal” do documento esteja pronta e possa ser posta em prática. “O estudo da autoria de António Mega Ferreira é um instrumento de trabalho e de apoio à decisão, que visa ajudar a defi nir uma estratégia para os museus da cidade e, em particular, para o Museu da Cidade de Lisboa. O documento tem as suas conclusões praticamente finalizadas, pelo que oportunamente serão divulgados os seus contributos”, limitou-se a responder anteontem a vereadora da Cultura.

Já António Mega Ferreira disse ao PÚBLICO que entregou a 30 de Outubro de 2012, “tal como estava no contrato”, o estudo que lhe tinha sido encomendado pela Câmara de Lisboa. O escritor garante que de lá para cá houve “algumas reuniões para debater a proposta”.

Mega Ferreira também não quer revelar quais foram as suas sugestões para os museus da capital, por considerar que essa divulgação cabe à autarquia, mas adianta que “globalmente foram aceites”.

“Temos estado a trabalhar no seu aperfeiçoamento, na adequação às condições que existem”, acrescenta. “O resto são decisões que a câmara tem de tomar e nas quais não tenho de interferir”, conclui o escritor.

Ontem, na reunião da Câmara de Lisboa, que se realizou à porta fechada e no fim da qual não foram feitas declarações aos jornalistas, Catarina Vaz Pinto fez uma apresentação da política cultural de Lisboa, mas o trabalho de Mega Ferreira não terá sido abordado.»

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