13/03/2013

Imagens de Marca - Lisboa/Portugal (conclusão)

Ao longo desta minha série de artigos subordinada ao tema Imagens de Marca, programa da SIC Notícias que inspirou precisamente estes artigos, defendi que a nossa imagem de marca é, por excelência, a que resulta de uma impreparação flagrante dos políticos e técnicos em lidar com o património de acordo com o que é o melhor entendimento e prática internacional sobre o tema, a que resulta das opções dos governantes - que dão primazia aos interesses particulares, muito acima da necessidade de preservar criteriosamente o património material e imaterial de todos - e, claro, do fato do estilo dominante ser o Estilo Abarracado.
Deixo aqui mais alguns exemplos, sublinhando que todas as imagens que trouxe aqui, para vossa fruição, são meramente indicativas e não refletem cabalmente a situação real que é... muito pior ao retratado!


O lixo e a forma como as pessoas lidam com ele é um dos piores panoramas e que mais afetam a imagem que projetamos de cidadania e a boa fruição da cidade como cidadãos. Agora, mesmo com a separação dos lixos, continua-se a fazer das ruas lixeiras. À esquerda, no Martim Moniz - que em si já é mais um arraial abarracado do que um projeto dignificante - escreve-se à mão um letreiro manhoso e pronto... já está!
Enquanto isso, ali ao lado no início da  Rua da Palma, temos este espetáculo. Não são as traseiras de um prédio! É praticamente um catálogo, tem tudo o que é possível: grafitti, grades de bom gosto, compressores de ar-condicionado na fachada, janelas de alumínio, estendal de roupa e buracos na parede. Que delícia para os turistas.
Estes são o mobiliário urbano mais presentes nas nossas ruas. Estas caixas da EDP são um convite à publicidade ilegal. Já como peças de mobiliário deixam tudo a desejar. E ainda há modelos antigos, em metal, que se fossem adotados como padrão dariam um charme às nossas ruas; esses são simpaticos e têm formato orgânico, como aliás era tudo antes da febre do pseudo-design infetar as mentes da nossa gente.
Quando os serviços públicos intervêm no espaço público o resultado é, geralmente mau. Mas quando os particulares tomam nas suas mãos a resolução dos problemas, talvez por inação dos anteriores, o resultado ainda é pior. Nestes exemplos passa-se cimento e já está, tal qual numa favela.
Neste país o cimento é como água-benta: passa-se sobre tudo para resolver os problemas. Aqui um buraco na calçada é enchido com cimento. A casca de laranja é para dar um toque humano e natural...
Perto da Sé. Prédio bonito. Janelas Originais. Parabólica na varanda.

Não há limites! Já denunciado aqui e à CML, veja-se que tipo de resguardo de varandas se colocaram neste prédio pombalino. Fantástico o contraste.
Face a tudo o que vim aqui expressar, e ao fim de 9 artigos com o título Imagens de Marca Lisboa/Portugal, não posso tirar outra conclusão que Lisboa e Portugal não têm um bom produto para vender aos turistas (apesar do enorme potencial) e isso reflete-se no número reduzido de turistas que recebemos se nos compararmos com cidades como Madrid ou Barcelona, Paris ou Berlim. Podíamos fazer diferente, e muito mais.
E se a tentação de culpar os políticos é muita, porque afinal eles têm uma quota muito grande na presente situação, a verdade é que os políticos refletem aquilo que somos como sociedade. A maior parte das malfeitorias feitas a esta cidade é feita por você, que está a ler estas palavras, e pelo seu vizinho, e pelo seu amigo ou familiar. É sua que prefere deixar o seu carro em cima do passeio ou passadeira porque não há estacionamento gratuito ou barato na sua rua; que deixa o carro em segunda fila porque são só cinco minutinhos, não demora muito; que muda a janela porque fica mais barato PVC ou alumínio, ainda que os seus vizinhos e o seu condominio não tenham sido tidos ou achados, e também não protestam porque há-de chegar a vez deles de querer fazer algo ilegal do género; que fecha a sua varanda porque assim não tem humidade em casa e fica com mais espaço para pôr tralha; que não tem rigor quando faz obras porque preservação do património é muito bonito mas na casa dos outros. A culpa é sua que anda pelas ruas e não vê: não vê que estores de correr em edifícios antigos são um horror, até porque edifícios antigos têm portadas por dentro; não vê que a maioria dos letreiros das lojas são abusivos, são mau gosto e são poluição visual e que a cidade está com excesso de publicidade. A culpa é sua que trata o que é público de maneira como não trata o que é seu. A culpa é sua que vota em pessoas que só querem trampolins para voos mais altos. Basicamente é culpado por não saber, e por se calar quando sabe.
Lido com estrangeiros todos os dias. Sei o que pensam realmente de nós. Não tenho ilusões nem me deixo iludir.
Nós temos, claro, oferta turística da mais alta qualidade, mas são sempre pontuais, como ilhas, não fazem parte de um todo coeso e atrativo e é isso o que nos difere de outros: não temos ambição de sermos alguém. É mais fácil assim!

5 comentários:

Anónimo disse...

As caixas da EDP têm sido "limpas" às três pancadas da papelada que lhes colaram para serem pintadas por "artistas" que as têm tornado ainda mais pavorosas, não sei se deram por isso.

Anónimo disse...

qual dos resguardos das varandas permite a um miúdo uma escalada mais fácil?

A.M.C. disse...

Caro anónimo das 6:20,

pois é exatamente isso, há sempre uma desculpa para fazer algo assim. Ou são as crianças, ou é a humidade, ou é o barulho, ou é... a vida.
Não tenho números mas não me parece que as dezenas de gerações que viveram antes com varandas como as antigas tenham visto crianças a cair dos prédios a uma taxa preocupante. E depois há soluções para isso, sem desvirtuar nada. Sempre há...

Anónimo disse...

Há sempre uma desculpa para a ignorância! Crianças... deve estar a brincar. Se tem crianças tome conta delas, existem bloqueadores de porta que aliás deve usar mesmo com os resguardos horríveis da imagem.

Xico205 disse...

Eu fiz um comentario antes da aprovação do das 9:59.