25/03/2013

Lisboa fica hoje mais perto do Tejo com a abertura da Ribeira das Naus


In Público (23/3/2013)
Por Inês Boaventura

«A primeira fase da requalificação da Ribeira das Naus, que incluiu a construção de uma nova avenida paralela ao rio e o surgimento de uma rampa de pedra que desce até ao Tejo, é hoje inaugurada. Mas grande parte da obra, que a oposição na Câmara de Lisboa classifi cou como “megalómana”, só deverá estar pronta em 2014, muito depois do Centenário da República para a qual tinha sido pensada.

A cerimónia de inauguração está marcada para as 11h30 e contará com a presença do presidente da autarquia. Os trabalhos já concluídos englobam, segundo informações divulgadas pela Câmara de Lisboa, a “requalifi cação de infra-estruturas”, a “construção da nova Avenida Ribeira das Naus” e o “avanço de margem, constituído pela escadaria ribeirinha, o espaço público de ligação da Praça do Comércio ao Largo do Corpo Santo e o Pontão das Agências”, junto ao Cais do Sodré.

Por fazer, no âmbito de uma outra empreitada cuja adjudicação foi aprovada em reunião camarária em Dezembro, ficam a “reposição da antiga Doca da Caldeirinha”, a “recuperação da Doca Seca existente” e a criação de uma área ajardinada, “que recria as rampas de varadouro, assinala a antiga linha de costa e permite a estadia, o repouso e a fruição de vistas sobre o rio”. Diz a autarquia, num folheto sobre a Ribeira das Naus, que essa é uma obra “a iniciar brevemente”.

João Gomes da Silva, que desenvolveu o projecto em co-autoria com João Nunes, explica que no essencial aquilo que se fez até agora foi uma obra marítima, de construção de margem, um trabalho “muito pesado e invisível”. Mas há já ganhos para a população, sublinha o arquitecto paisagista: a nova avenida que se desenvolve “em continuidade com a via que atravessa o Terreiro do Paço” e a rampa, com “uns degraus muito baixinhos”, que desagua no Tejo.

“Estou convencido de que essa rampa, com 300 metros por 16, vai ser intensamente utilizada. Será muito apetecível”, diz João Gomes da Silva. “Todos os espaços que se têm vindo a libertar na frente ribeirinha, e que nos últimos seis ou sete anos têm sido muitos, ganharam uma vida absolutamente incrível. As pessoas apropriaram-se deles mesmo nos casos em que não houve trabalhos de recuperação”, lembra o arquitecto paisagista, apontando o Terreiro do Paço como um caso de sucesso.

Quanto à segunda fase da requalificação da Ribeira das Naus, a expectativa de João Gomes da Silva é que leve cerca de um ano a concretizar. Para tal, explica, contribui a “delicadeza” da obra, que envolve escavações arqueológicas para colocar a descoberto a Doca Seca (construída em 1790) e a Doca da Caldeirinha (que remonta a 1500).

A Ribeira das Naus, diz por sua vez João Nunes, será “um espaço público muito importante para a cidade e um gigantesco sucesso de utilização”. “Era um espaço esquecido, muito marginalizado, com ocupações muito duvidosas. Felizmente foi resgatado da sua condição de abandono e será um espaço público de primeiríssima ordem”, afirma o arquitecto paisagista.

A requalificação da Ribeira das Naus era uma das empreitadas que a Frente Tejo, criada durante o Governo de José Sócrates para realizar um conjunto de operações de reabilitação na frente ribeirinha de Lisboa, tinha a seu cargo mas que deixou por fazer. Com a extinção desta sociedade no fim de 2011, o projecto transitou para a Câmara de Lisboa. De acordo com os últimos números divulgados, está em causa um encargo de cerca de dez milhões de euros, dos quais 6,5 milhões serão provenientes de fundos comunitários.

No passado, os vereadores do PSD e do CDS criticaram o projecto para a área entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, classificando-o como “megalómano”. “É um investimento muito pouco razoável face à actual situação do país”, disse o centrista António Carlos Monteiro. Já Mafalda Magalhães de Barros, do PSD, apelou a uma aposta na “conservação” em vez de construção nova.

Mas não foram só os opositores políticos do executivo liderado por António Costa a criticar os seus planos para a Ribeira das Naus: a ideia de construir um silo automóvel de três pisos perto do vizinho Largo do Corpo Santo gerou contestação, tendo sido criada uma petição na Internet contra o estacionamento em altura, que recolheu mais de 2100 assinaturas. A polémica construção acabou por ser chumbada pelo antigo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, por ter um “impacto arquitectónico negativo”.»

1 comentário:

Paulo Ferrero disse...

Sejamos claros: 1. Aquilo como estava era imundície, como tal, qq coisinha que lá façam será SEMPRE melhor. 2. A intervenção ora inaugurada é típica de intervenções do programa POLIS, como tal, pouco mais que básica, sendo que o grosso da intervenção é o que falta fazer, sobretudo o lago, o passadiço, a doca seca, as 'rampas para bronzeador' (estou curioso, serão ainda de 8m de altura?) e, claro, o abate de toda a fileira de plátanos em frente ao Arsenal. Pergunta: será que o dinheiro já gasto e a gastar vale isto? Valerá votos, talvez. A ver vamos lá para... Out.