03/09/2013

António Costa e o Ruído Nocturno


Chegado por e-mail:


«"(...) não creia que eu deva julgar-me feliz por me achar longe da infecção do Chiado." Eça de Queiroz, Carta a Ramalho Ortigão, 1873


Desenganem-se do ar bonacheirão. António Costa foi eleito em 2009 com um programa focado na reabilitação urbana e na promoção da habitação no centro de Lisboa. Ao invés, no final de 2011, António Costa e Sá Fernandes encerraram ao trânsito automóvel a Rua Nova do Carvalho, no Cais do Sodré, a pedido da indústria do divertimento nocturno, sem que alguma vez tenham sido escutados os residentes, dando origem ao maior movimento migratório nocturno de que há memória em Lisboa. Foi assim criado, em pleno centro histórico da cidade, um ambiente inóspito e hostil a moradores e turistas que elegem a hotelaria local e um gravíssimo problema de saúde pública.

Agora terminam a obra a dias das eleições, pintando a rua simbolicamente de cor-de-rosa, de mãos dadas com bares e discotecas, numa iniciativa financiada pela vodka Absolut.

O encerramento da Rua Nova do Carvalho atraiu milhares de novos frequentadores para um local subitamente transformado em discoteca a céu aberto. A Câmara promoveu activamente este novo destino de massas, permitindo que ali se organizassem festas temáticas ao ar livre e criando a ideia de que o divertimento nocturno e o ruído associado poderiam ali florescer sem quaisquer limites. Seguiram-se a abertura descontrolada de novos espaços de venda de bebidas alcoólicas, a reconversão do comércio diurno em nocturno e graves questões de insalubridade, insegurança ou estacionamento. Foi assim criada uma mancha de problemas que alastrou ao Chiado, ao Largo do Corpo Santo e a Santos, afastando moradores e o comércio e serviços diurnos (vejam, por exemplo, a Rua do Ferragial, que hoje lembra Beirute durante a guerra civil).

Refira-se também que nos últimos cinco anos foram investidos na zona dezenas de milhões de euros na hotelaria de qualidade, a qual agora se ressente, com queixas de hóspedes sobre ruído. Promotores imobiliários com interesse no restauro para habitação e comércio diurno hesitam em ali investir com receio de que seja irreversível a sua transformação em zona exclusivamente nocturna.

Isto apesar de se tratar de uma parte de Lisboa de beleza incomparável, com hotéis e restaurantes de qualidade, onde Eça se alojava quando, já cônsul, se demorava pela capital (não consta que com queixas pelo ruído).

Mais grave que tudo isto, porém, é o facto de o ruído nocturno ser cada vez mais incessante e omnipresente ao longo da semana. Apesar disso, desde o encerramento da rua, nem uma medição ao ruído nocturno indiferenciado foi feita pela CML na zona do Cais do Sodré. Fizeram-na os residentes, no passado mês de Maio, através de empresa certificada, a qual revelou níveis intoleráveis de ruído (70 dB, entre a 01h00 e as 04h00, quando o máximo permitido são 45 dB).

Esta agressão aos residentes é incompreensível vinda de uma Câmara a quem compete, antes de tudo, proteger a saúde dos seus munícipes.

Desenganem-se do ar bonacheirão. É mesmo desinteresse ou a sensação de que se pode tudo fazer com o respaldo de uma maioria.

Não deixaremos.


Nós Lisboetas»

28 comentários:

Anónimo disse...

Regenerar, Reabilitar, Revitalizar, (...) ou o que lhe queiram chamar !!!!!! Avaliar o problema, comparar o antes e o depois e projetar futuro(s), envolvendo sempre as partes e, acima de tudo, dar nova vida à cidade para que as pessoas (residentes, mas não só) a possam viver, pode constituir-se como possível linha de raciocínio a seguir.
O que está mal, muda-se, ou faz-se por isso, desde que seja para melhor!!!!

Anónimo disse...

nao sejam ridiculos.
aquele sitio era um anto de drogados, prostitutas e bares de alterne.

podem queixar-se de muito, mas nao de que antes era melhor.

Anónimo disse...

Não tarda nada e aparece aqui um a declarar que assim se criam postos de trabalho... É só esperar... Um que gostaria obviamente de ter aquilo à porta da casa onde mora...

Anónimo disse...

desagrada-me a adjectivação em relação ao senhor... soa-me a campanha eleitoral.
Quanto ao assunto em questão não acho correcto o ruído fora de horas, mas acho que a alteração de "clientela" é uma mais-valia para a zona, é uma questão de regular, impor e multar...

Anónimo disse...

Qual a capital europeia (arriscaria mesmo, cidade europeia)que não tem uma zona, chamemos-lhe de "vida noturna", com este tipo de problemas ? Haverá sempre duas vias a considerar - concentra-se o "problema" numa zona delimitada e assim é bem mais controlável sob todos os pontos de vista ou deixa-se proliferar estas problemáticas por toda a cidade, correndo-se o risco de "perder a mão"! Há que discutir estas questões com total seriedade - afinal quantas pessoas residem naquela zona da cidade?
Parece que o número de moradores vai variando consoante o(s) interesse(s) de quem debate os problemas!!!

Joao Maria disse...

Ao Anónimo da 1:21 -
Continua a ser um antro de putas, drogados e bares de alterne, só que agora tem musica ao vivo e na rua...

Anónimo disse...

A comparação da noite do Cais-do-Sodre com a guerra civil Libanesa de 1976 a 1990, é uma infantilidade de muito mau gosto. Esse conflito fratricida custou a vida a cerca de 120.000 a maioria deles em Beirute.

Por favor tenham noção dos limites e não façam comparações tão absurdas.

Anónimo disse...

Àqueles que ainda não perceberam que não é a vida noturna que está mal, mas este tipo de vida noturna onde tudo é possível em nome da folia:
querem isto à porta de vossa casa? gostariam de serem expulsos de vossa casa porque já não se aguenta a falta de civismo de quem pensa que divertir-se é estragar, mijar, e todas as demais coisas acabadas em ar?
Como é que se vai recuperar este zona e o edificado se depois ninguém lhe pega porque tiveram receio de estar a entrar no inferno - como eu que não comprei um apartamento lindíssimo porque não estou para viver no meio daquilo que ninguém quer à porta?
Como é que se acaba com a má fama (e proveito) desta zona se tira-se um mal para pôr outro!
Que egoísmo! Que falta de civismo! Que tacanhez!
Quanto às outras cidades, nomeie uma que não seja estância de férias para turistas desesperados por fazer o que não faz em casa, ou seja, beber na rua (proibido na maioria dos países) fazer disturbios, sujar e vandalizar propriedade pública. Nem Berlim nos anos 80 e sei bem do que falo...

Anónimo disse...

Que velhos do restelo!

Joao Barreta disse...

As cidades são os cidadãos que as fazem. O mesmo se aplica à cidadania e ao civismo.
Se estamos à espera que sejam os políticos a resolver todos os problemas das cidades, então estamos mal. A causa dos problemas no Cais do Sodré não é a Câmara, nem os seus Serviços, nem os seus projectos, mas sim de uma boa parte de "utilizadores" daquela zona cujo civismo é nulo, o respeito pelo próximo é zero e a falta de integridade moral é ... 100%.

Anónimo disse...

É a Câmara quem tinha de proteger mas ao invés agrediu os moradores ao fechar a rua ao trânsito e fomentar assim a movida naquela parte da cidade. A policia, que deve por lei mandar dispersar gente barulhenta durante a noite, receia fazê-lo por impreparação. A policia municipal acha que só pode intervir dentro dos bares e nada faz quanto ao ruído de frequentadores à porta dos bares. E toda uma demissão dos poderes públicos que deveriam proteger os residentes e não o fazer. A liberdade, que é muito positiva, também tem de ter limites.

Anónimo disse...

Caro João Barreta,

depois de constatar o óbvio faltou-lhe dar-nos uma tentativa de solução. Que há falta de civismo já se referiu mil vezes mas como lutar contra ele? Quem pensa que deve intervir? Como vê o problema é político, envolve a CML, os seus serviços e as autoridades.

mgm_lx disse...

Seria possível disponibilizar-me um endereço de contacto da Associação nós Lisboetas e informar-me qual o seu numero de associados?
Grato

João Barreta disse...

Caro Anónimo,

Não tenho a pretensão de solucionar o problema, mas tento fazer a minha "parte" o melhor possível. Por mim não necessito que seja a CML, os Serviços e/ou as Autoridades a incutir-me padrões de comportamento que julgo dignos e respeitadores, tanto das leis, como pelo próximo.Pretender-se-á que a CML coloque faixas e cartazes pela cidade a dizer "PORTEM-SE BEM" ou "CUMPRAM AS LEIS" ??? Julgo que não. Sacudir o problema para cima da política é fácil, mas como já pudemos constatar, pura e simplesmente, não resulta!

LG disse...

Lisboa atrai muitos turistas pela sua localização, beleza e é considerado um óptimo sítio para se sair à noite a preços baixos. Todas as cidades, nomeadamente capitais, têm uma zona nocturna. Por isso muito provavelmente o que temos de pensar é como solucionar isso. Onde seria um bom sitio em Lisboa, central e perto de transportes e hoteis para começar a explorar com esse fim sem que haja tantas pessoas a morar? O centro não está a ficar vazio? farto-me de ver artigos sobre isso! É por aí que devemos pensar ou não?

Anónimo disse...

Uma zona vermelha em Lisboa era coisa para criar muitos postos de trabalho, atrair turistas em massa e resolver o problema da desertificação do centro.

Se não for lá, que seja à porta dos moradores nisso interessados.

Anónimo disse...

Caro João Barreta,

continuo a perguntar como agir em relação àqueles que não demonstram ter os princípios que você se diz ter. É que de cartazes e campanhas de sensibilização está a cidade e o inferno cheio.
Atira-se a culpa à política porque ela a tem, na má governação dos eleitos, na inação, no desinteresse...
Se não houver fiscalização e repressão não se imprime esses princípios de civilidade que, infelizmente, muita gente não recebe do berço.
Caro LG,
mas porque é que uma área de diversão noturna tem de estar desabitada? Porquê? Não seria antes mais racional ter regras efetivamente aplicadas- ser proibido beber bebidas alcoólicas na rua, ser proibido fazer ruido excessivo a partir de determinada hora, multar bares que não controlam as multidões à sua porta porque estas não têm de estar à porta; ou entram ou vão para outro lado onde tenham lugar.
Fiscalizar e autuar fortemente: os desacatos, as destruições de bens públicos, os excessos de adrenalina adolescente, as bravatas que mais parecem danças de acasalamento do macho.
Volto a escrever: animação e folia não é um vale tudo, as regras, as leis e o bom comportamento social não ficam suspensos porque é meia-noite e a bebida rola solta...

LG disse...

Precisamente porque o conceito de beber na rua, conversar à porta de bares e a noite como a conhecemos é que define a nossa noite Lisboeta.

Trabalhei numa associação internacional e é precisamente isso que todos os estrangeiros da faixa etária que estamos a falar comentavam...que o estilo da noite lisboeta não existe em lado nenhum, e isso fá-los voltar cá!

Não se vê isto em mais lado nenhum com este misto de boémia em bairros tradicionais...acabar com isso é perder a mistica que nos é tão própria.

Digo isto, moro num dos bairros em questão e aprendi a viver com isso porque a vida da minha cidade e o que ela simboliza é maior do que eu.

João Barreta disse...

Caro Anónimo,
A ingenuidade não chega ao ponto de pensar que a cidadania e o exercício cívico permanente são práticas assimiladas por todos da mesma forma e a minha alusão, de resto irónica, sobre os cartazes visava isso mesmo.
A questão como todos sabemos é bem mais profunda e sobre a qual poucos (políticos e não só) não querem (ou não sabem ou não ... podem) atuar.
A CML, por exemplo, tem um conjunto de regulamentos que a serem devidamente aplicados evitariam mais de 90% dos problemas em causa, no entanto, isso conduz-nos a um outro problema ... a Justiça e a justiça em Portugal, ou a falta de ambas. Uma e outra são demoradas e desprezadas. É claro que há fiscalização, é claro que há política, é claro que há cidadania (...) a questão é que estão mal "doseadas"!!!! Por vezes as competências da política não se coadunam com as politicas da incompetência.
NOTA: Não sou político (...) mas não tenho da política uma imagem assim tão má. Refiro-me, obviamente, à Politica (ciência)e não à política "politiqueira".

Anónimo disse...

Que barbaridades para aqui um sujeito debita. Gaba-se de ter trabalhado num organização internacional e nem sequer conhece a terra de nuestros hermanos...

mgm_lx disse...

seria mais uma vez possível solicitar informação sobre a referida associação nós lisboetas? Quantos associados tem? Está registada? Não encontro nenhum dado sobre a referida associação e para perceber o grau de incomodo que pelos vistos a rua cortada ao transito provoca nos moradores seria bom saber naquela rua quantas pessoas efectivamente vivem.
grato

Anónimo disse...

LG,

acabou de confirmar o que eu escrevi: os estrangeiros vêm cá fazer aquilo que não podem fazer nos seus países. E até lhe digo mais: fazem aqui aquilo que não querem fazer nos seus países.
A lógica é simples e eu percebo-a muito bem porque lido com eles a uma base diária e sei bem o que eles pensam verdadeiramente de nós, e não pensam nada de abonatório apesar daquilo que nos dizem na cara por simpatia... ou pena.
Você adaptou-se a este estilo de vida?! Adaptou-se a sair de manhã a pisar cacos de garrafas e vómito e urina?! Trabalha à noite com certeza porque se dormisse a horas normais saberia o que faz o constante barulho à vida e nervos de uma pessoa. E grafittis, também se habituou, suponho? E à destruição continuada e constante de propriedade publica onde nem monumentos escapam à euforia embriagada adolescente fora de idade? Deixe-me salientar que há gente que se habitua a tudo! Em todo o caso outros não têm que se habituar e quanto a tal ser exemplificativo da nossa cidade, somente se continuarmos a ter uma classe de políticos desqualificados e de povo ignorante, egoísta e micha.

mgm_lx disse...

Acho incrível a não resposta... publicam um texto desta Associação mas não informam sobre quem são...
tb vou criar uma associação sozinho e dizer que falo em nome dos portugueses.

Anónimo disse...

Onde viu o termo associação? Pelo menos o texto comentado nada diz. Nos Lisboetas e um movimento de cidadãos mas se quer uma associação para investigar que defende esta causa tente a AMBA. Sugiro-lhe que se recentre no tema. Pode uma Camara promover o ruído protegendo como faz o divertimento nocturno ao mais alto nível pois e de António Costa e do Zé que falamos. A resposta e não pode pois a constituição e a lei protegem os residentes que precisam de dormir. E um comportamento ilícito da maior gravidade. Tudo o mais e conversa.

mgm_lx disse...

Caro Anónimo,

A questão mantêm-se mesmo tratando-se de um movimento. Quais e quantos os seus subscritores?
E quais e quantos residem naquela arteria concreta? tudo o mais é conversa...

Anónimo disse...

Sao varias famílias que moram na parte não encerrada ao transito da rua nova do Carvalho, largo de s. Paulo e rua de s. Paulo, rua do alecrim (com dois hotéis e um hotel, massacrados com queixas de clientes), rua das flores, beco dos apóstolos e largo dos stephens, rua da ribeira nova (onde acontece um verdadeiro massacre dos moradores), largo barão de quintela, largo do corpo santo. Isto e toda a zona em torno daquele foco de ruido que e a rua rosa. Poucas pessoas moram nesta rua, compreensivelmente. Mas e para ela que se dirigem milhares de pessoas de quinta a domingo, o que tb começa a suceder a Terça e quarta. E um flagelo que atinge os moradores de todos estes locais. Isto e suficiente para uma intervenção célere da câmara para nos proteger. O nosso direito ao descanso prevalece sobre qq direitos dos bares e seus frequentadores. E assim num estado de direito. Se querem grande confusão nas ruas e um ambiente ruidoso então os bares tem de se mudar para zonas sem residentes!

mgm_lx disse...

Continuo a achar extraordinário que sejam várias famílias e um movimento que não se identifique nem dê a cara... e por curiosidade há quanto tempo residem nessas casas? Porque pelo menos desde o inicio de século que aquela artéria tem bares e prostitutas. Portanto duvido que quem compra um imóvel naquela zona não tivesse isso em conta. Resumindo aquela artéria sempre foi recreativa e pelos vistos mesmo não tendo moradores os senhores querem torna-la residencial e alterar a função de uma artéria secular com base no vosso gosto, costume e moral... ora isso tem um nome...

JJ disse...

E voltam à carga. O Cais do Sodré era um sítio nojento e perigoso. Talvez os senhores deste movimento (que até agora não sei quantas pessoas tem ao todo) queiram acabar com o que é nojento e manter o vazio. Eu prefiro gente na rua e não o deserto mal iluminado que são algumas zonas da cidade à noite.