25/10/2006

Achados não travam obras nos Inglesinhos

In Público (25/10/2006)
Diana Ralha

"Parecer do IPA autoriza continuação dos trabalhos.
Escavações no antigo jardim do convento lisboeta revelam estruturas pré-pombalinas do século XVI


As escavações na área do antigo jardim do Convento dos Inglesinhos, no Bairro Alto, onde a empresa Highgrove, do grupo Mello, está a construir um condomínio privado de luxo, deixaram a descoberto um vasto espólio de vestígios arqueológicos pré-pombalinos, mas as obras não vão parar.
Um parecer do Instituto Português de Arqueologia (IPA), datado de segunda-feira, sustenta que as estruturas reveladas pelas escavações do empreiteiro não têm características patrimoniais e científicas que justifiquem a sua preservação, pelo que podem ser destruídas pelo promotor imobiliário, após a sua inventariação e registo por parte da equipa de arqueólogos - um processo que é chamado de "preservação por registo".
De acordo com a arqueóloga do IPA Jacinta Bugalhão, existem aparentemente na zona vestígios do primeiro jardim do convento, que data do século XVI e que foi arrasado parcialmente pelo terramoto de 1755. "São estruturas pré-pombalinas que revelam, provavelmente, a primeira ocupação do espaço urbano naquela zona, assente em níveis geológicos", disse ao PÚBLICO. A norte destes achados recentes encontra-se também uma estrutura de arqueologia religiosa de cronologia ainda indeterminada.
Para Jacinta Bugalhão, as estruturas encontradas no jardim do Convento dos Inglesinhos "são relevantes e importantes para a história de Lisboa e do Bairro Alto, mas não justificam a sua preservação in situ, apenas a preservação por registo".
Uma vez que o conjunto urbanístico do Bairro Alto está em vias de classificação como imóvel de interesse público, foi solicitado também um parecer ao Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), que deverá estar hoje finalizado. Tudo aponta para que este parecer vá requerer ao dono da obra um estudo mais pormenorizado dos locais onde apareceram os vestígios.

O convento da discórdia
O Convento dos Inglesinhos foi adquirido à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pelo grupo Amorim, com vista à criação de um projecto de habitação e de prestação de cuidados de saúde para maiores de 55 anos. Este projecto, porém, nunca se concretizou, tendo em sua vez avançado a construção de três dezenas de apartamentos de luxo em condomínio fechado, o que motivou a contestação do advogado José Sá Fernandes e de vários grupos cívicos lisboetas. O Ippar aprovou em 2001 - e reconfirmou em 2002 e 2004, quando foram feitas alterações ao empreendimento - o projecto de licenciamento do condomínio, por considerar que o projecto de arquitectura iria promover a requalificação de edifícios existentes e a construção de novos.
José Sá Fernandes, quando ainda não era vereador na Câmara de Lisboa, interpôs uma providência cautelar para travar a transformação do convento num complexo habitacional, um projecto que acabou por arrancar a 22 de Setembro de 2004 com a demolição de um dos muros do imóvel do século XVII. De acordo com Sá Fernandes, a obra "viola vários artigos do Plano Director Municipal" de Lisboa
."

O que se tem passado nos Inglesinhos é o maior escândalo urbanístico da última década, só comparável à destruição do Eden, e à do Monumental, em 1982. E todos temos culpas: Patriarcado, Santa Misericórdia de Lisboa, CML, Ippar, MC e cidadãos!!

PF

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