30/10/2006

"Zonas 30" avançam em 2007

In Público (30/10/2006)
Ana Henriques

"Acima desta velocidade não vai ser possível circular nalguns bairros de Lisboa

Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados teme que tudo não passe de uma medida simbólica, por causa da falta de dinheiro

Alguns bairros residenciais de Lisboa vão ver limitada a um máximo de 30 quilómetros por hora a velocidade de circulação automóvel.
Aplicada em várias cidades europeias, a medida destina-se a reduzir os atropelamentos e a fomentar a vida de bairro, ao mesmo tempo que melhora a qualidade ambiental, quer do ponto de vista da poluição do ar, quer da poluição sonora.
Em Lisboa, a redução da velocidade dos 50 para 30 quilómetros horários não deverá ir para a frente antes do ano que vem, não tendo a autarquia divulgado ainda em que bairros pretende iniciar a experiência. Campo de Ourique poderá ser um deles, o Bairro de S. Miguel, em Alvalade, outro. Os moradores do Bairro Azul há já algum tempo que pediram que a circulação fosse ali limitada aos 30 quilómetros horários.
O presidente da Junta de Freguesia do Santo Condestável, o social-democrata Luís Filipe Graça Gonçalves, não vê utilidade na aplicação da medida em Campo de Ourique: "Ninguém consegue andar aqui a mais de 30 quilómetros por hora, graças aos cruzamentos", explica. "Temos uma taxa de atropelamentos muito baixa. Mesmo na principal artéria do bairro, a Rua Ferreira Borges, a circulação automóvel é controlada pelos semáforos."
O presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), Manuel João Ramos, mostra-se moderadamente optimista, por temer que tudo não passe de uma "medida simbólica", perdendo-se assim a oportunidade de levar por diante algo que considera essencial quer para a redução da sinistralidade rodoviária, quer para o repovoamento da cidade, por via da melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Há que levar em linha de conta as vantagens para o comércio tradicional, faz notar, uma vez que se torna mais aprazível passear nas zonas condicionadas - o que pode conduzir a uma revitalização dos próprios bairros.
"A redução da velocidade potencia o uso da bicicleta e da motorizada", refere Manuel João Ramos, ao mesmo tempo que defende que a medida seja estendida a vários bairros da cidade onde a função comercial tem um papel importante - as Avenidas Novas, por exemplo - e ao casco antigo.
"Portugal é provavelmente o único país da Europa onde ainda não há zonas 30", observa, numa referência à designação por que são conhecidas as áreas condicionadas. "54 por cento das vezes os atropelamentos a 50 km/hora resultam na morte do peão."
O presidente da ACA-M explica que não basta pôr sinalização vertical à entrada dos bairros escolhidos para conseguir que os automobilistas baixem a velocidade. "Se puserem lá só o sinal é o mesmo que nada. Há que introduzir medidas de acalmia do tráfego, como elevar o pavimento à entrada da zona condicionada. Mas com a falta de dinheiro para obras que há na Câmara de Lisboa e a cultura que prevalece no departamento de tráfego da autarquia...".

Uma ideia holandesa


Foi no início dos anos 70 que os holandeses criaram as woonerf, zonas de convivência entre veículos e peões onde os primeiros não podiam ultrapassar os 20 km/hora. O conceito vingou e hoje existem "zonas 30" espalhadas um pouco por toda a Europa, muitas delas ao abrigo das Agendas 21 locais - planos de acção destinados a assegurar a sustentabilidade ambiental ao nível local, no seguimento do acordo firmado em 1992 entre 179 países, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. O município de Barcelona está neste momento a experimentar o modelo no bairro de Sant Andreu, em cujas entradas colocou pavimento rugoso e colorido, para que os automobilistas se apercebam facilmente da mudança. Nalguns casos, nos países onde o sistema já funciona, as principais críticas relacionam-se com o surgimento de engarrafamentos e com a dificuldade que os veículos de emergência têm para atravessar estas zonas, nas quais os peões se habituaram a andar à vontade. Dados divulgados pelo município de Barcelona este Verão dão conta de que as "zonas 30" permitiram a redução da sinistralidade em 87 por cento em Chambery, França, enquanto em Bona essa taxa se ficou pelos 37 por cento. Segundo a mesma fonte de informação, em Graz, na Áustria, conseguiu-se uma diminuição das emissões de dióxido de carbono da ordem dos 24 por cento, e Cornaredo, em Itália, viu baixar o trânsito de atravessamento em 30 por cento. A.H
."

Parece-me uma boa medida, se acompanhada de outras, claro. O Bairro de São Miguel é um problema, tal qual todas as paralelas e perpendiculares do Bairro de Alvalade.

PF

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