24/10/2006

Plano para a zona do Ateneu prevê caminhos pedonais e um hotel

In Público (24/10/2006)
Inês Boaventura

"Documento é discutido amanhã pela autarquia
Câmara de Lisboa considera "urgente" intervir para travar "degradação crescente e risco de alteração irreversível no património edificado"

A Câmara Municipal de Lisboa discute amanhã a elaboração de um plano de pormenor para a zona do Ateneu Comercial, cujos termos de referência prevêem a criação de percursos pedonais, a melhoria das acessibilidades, a recuperação dos edifícios existentes e a criação de equipamentos sociais, lúdicos ou culturais e a eventual instalação de um estabelecimento hoteleiro.
O plano de pormenor do Ateneu abrange uma área de 15.573 metros quadrados, nas freguesias de São José e Pena que, como constata a autarquia, "apresenta uma tendência para o abandono e degradação, em paralelo com o envelhecimento da população residente e do património edificado". A elaboração do documento fundamenta-se na necessidade de promover uma intervenção "urgente" nesta área, "face ao estado de degradação crescente e ao risco de alteração irreversível nos valores culturais do património edificado e/ou do património social associado".
A vereadora do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Gabriela Seara, adiantou ao PÚBLICO que a requalificação paisagística de todo o espaço, a criação de percursos pedonais para ligar a Rua das Portas de Santo Antão às encostas da Avenida da Liberdade, a melhoria dos acessos aos arruamentos circundantes e a eventual construção de equipamentos de apoio à fruição do espaço verde, como esplanadas e miradouros, são os principais conteúdos determinados para o plano.
Quanto aos edifícios existentes, a autarca explicou que está prevista a sua recuperação e a instalação de equipamentos sociais, lúdicos ou culturais a definir pela autarquia. A vereadora explicitou que os dois palácios com frente para a Rua das Portas de Santo Antão, o Palácio Rio Maior e aquele em que está instalado o Ateneu Comercial de Lisboa, deverão ser "recuperados integralmente; serão permitidas eventuais alterações nos seus usos, mas não nas suas características.
Uma das possibilidades em estudo no sentido de promover "a animação urbana local" é, adiantou Gabriela Seara, a instalação de um estabelecimento hoteleiro na zona abrangida por este plano de pormenor. Sublinhando que se trata apenas de "uma hipótese", a vereadora do Urbanismo justifica a opção pelo facto de este equipamento poder funcionar como "âncora" no "esforço financeiro" subjacente à implantação do plano de pormenor do Ateneu.
O plano, conforme consta dos termos de referência que amanhã vão ser discutidos na reunião camarária, integra "uma área verde parcialmente arborizada e com pouca ocupação, situada a meio da encosta nascente da Avenida de Liberdade", bem como "dois interessantes edifícios oitocentistas com frente para a Rua das Portas de Santo Antão, a necessitar de reabilitação". O documento refere-se à zona identificada como Subunidade Operativa de Planeamento e Gestão 7 no Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente.
No documento refere-se ainda que o Ateneu Comercial de Lisboa, fundado em 1880, atravessa "dificuldades, particularmente no que diz respeito à capacidade de conservação do seu património edificado e adaptação às necessidades da actividade associativa e desenvolvimento das potencialidades de desempenho da zona da cidade em que se insere".

Vereadora diz que projecto "é uma loucura"

A vereadora do Urbanismo da Câmara de Lisboa afirmou que o projecto do Ateneu Comercial que visava transformar o espaço numa "colina d"arte", e que previa que atrás do edifício existente surgisse uma figura do Adamastor com o braço estendido com uma caravela, "é uma loucura". "Não se enquadra minimamente na estratégia preconizada no Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente para o desenvolvimento daquela área", defendeu Gabriela Seara, explicando que o plano a ser desenvolvido no local "não pode passar minimamente por aí". O projecto do Ateneu Comercial de Lisboa, que foi apresentado no final de 2004 pelo arquitecto Rogério Brito, previa a criação de um restaurante panorâmico, uma área de espectáculos e um health club, bem como a transformação das ruas dos Condes e das Portas de Santo Antão numa galeria comercial coberta. A vereadora rejeita este projecto, mas garante que "é óbvio" que à autarquia "interessa a participação do Ateneu", estando marcada para hoje uma reunião com aquela entidade. I.
B."

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