31/10/2006

Mar da Língua nasce no Museu de Arte Popular


In Diário de Notícias (31/10/2006)
Leonor Figueiredo (texto)
Nuno Fox (foto)

À entrada do Museu de Arte Popular, a ministra da Cultura recebeu ontem das mãos de Rui Santos a lista com mais de 700 nomes do abaixo-assinado que classificou como "bárbara" a decisão de acabar com aquela instituição junto ao Tejo.

Isabel Pires de Lima recebeu, discretamente, das mãos de um dos promotores do documento o envelope e, em seguida, percorreu com os jornalistas o espaço poeirento, ora vazio ou recheado de caixotes, que ocupa os três mil metros quadrados do Museu de Arte Popular.

A responsável pela Cultura quis assumir, com a visita "informal", a sua opção em tirar dali o espólio do museu - angariado por etnólogos ao longo dos anos, e onde estão incluídos objectos da autoria de Rosa Ramalho, Mistério e Júlia Cota, ao lado de inúmeros artesãos anónimos - para ali instalar futuramente o Museu Mar da Língua Portuguesa, que funcionará como Centro Interpretativo das Descobertas.

"Assumo esta opção", frisou Isabel Pires de Lima, considerando que "os museus nascem e morrem", e nessa perspectiva "não devemos ficar presos a atitudes conservadoras". O espaço do único pavilhão que resta da Exposição do Mundo Português dos anos 40, será "mais útil se tiver um outro destino", observou a ministra para quem o novo projecto museológico "poderá ser um dos mais visitados de Lisboa".

Tecnologia de ponta

O futuro Museu Mar da Língua quer realçar o facto de o português ser a quinta língua mais falada do Mundo, com cerca de 200 milhões de falantes, o "resultado permanente mais visível" da expansão lusa nos séculos XV e XVI.

O projecto prevê o uso de meios tecnológicos e de comunicação interactiva de ponta no museu, cujo estudo e concepção deverá ficar terminado no final do ano, assim como o concurso, prevendo-se para 2007 a execução e implementação do museu, que não terá acervo físico e será aberto ao público em 2008.

"Há um grupo de trabalho a laborar este conceito com especialistas da área da História da Navegação, da História da Língua e da electrónica e robótica", especificou Isabel Pires de Lima, que também vê com bons olhos a colaboração deste futuro museu com o Museu da Língua de São Paulo, Brasil, por terem uma "filosofia comum".

Estrutura efémera, o pavilhão que resta de 1940 tem sofrido obras ao longo dos anos, mas mais recentemente a derrocada do telhado obrigou a uma maior intervenção. A ministra da Cultura referiu que foram gastos 3,5 milhões de euros (metade provenientes de fundos comunitários) para as obras que ainda decorrem e que são necessários mais 2,5 milhões de euros para a instalação do Mar da Língua, 50% dos quais provenientes do Programa Operacional da Cultura. "Os investimentos não serão perdidos", sublinhou.

Arte Popular em Etnologia

Os 23 mil objectos do Museu de Arte Popular serão transferidos em 2007 para o Museu de Etnologia, revelou o director do Instituto Português de Museus, Manuel Bairrão Oleiro, também presente.

"Não haverá perda de visibilidade para este acervo", assegurou o responsável, acrescentando que o Museu de Etnologia contou com uma ampliação na área das reservas e "tem condições para receber as colecções de arte popular". Bairrão Oleiro referiu ainda que certas colecções poderão ser integradas em museus dependentes do Estado.

Só não transitam para Etnologia os frescos encomendados para as dimensões do pavilhão dos anos 40 e assinados por artistas conhecidos. "Serão restaurados, mas não visíveis no Museu Mar da Língua. Ficarão acessíveis temporariamente, só para especialistas." Belém verá assim um museu moribundo desaparecer em 2007 para dar lugar a um outro, a inaugurar em 2008.
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NR: A petição jjá tem mais de 800 assinaturas, e às pessoas cujos nomes lá estão, era bom que não as tratassem como mentecaptas.

PF

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