29/01/2009

Lisboa recua na demolição de piscinas de valor arquitectónico

In Público (29/1/2009)
Ana Henriques

«Actividades de bem-estar, como spa e massagens, podem passar a fazer parte das futuras atribuições. Preservação não contempla Areeiro

A Câmara de Lisboa quer salvar do camartelo as piscinas dos Olivais e do Campo Grande, obras de reconhecido valor arquitectónico que o anterior executivo tinha condenado por se terem tornado, no seu entender, equipamentos desportivos obsoletos. A piscina do Areeiro é a única que continua com sentença de morte marcada.

Os planos de reabilitação das três piscinas, que estão encerradas por falta de condições, foram ontem apresentados na reunião de câmara. Sem dinheiro para levar as obras por diante, a autarquia tenciona concessionar à mesma empresa ou entidade privada os três equipamentos desportivos por um período de 40 anos, ficando esta obrigada a pagar as obras e a manter as actuais funções sociais a preços reduzidos - como é o caso da natação para crianças e para idosos. Poderá, no entanto, alargar o leque de actividades praticadas. Spa, massagens, ginásios e restaurantes a preços de mercado são algumas das novas valências previstas para que o concessionário recupere os 30 milhões de euros que a câmara calcula que sejam necessários para as empreitadas. Seja como for, os frequentadores destas piscinas não deverão poder voltar a utilizá-las antes de 2011, uma vez que ainda não foi lançado o concurso público internacional para a construção e para a exploração que marcará o arranque do processo. O júri que avaliará as propostas terá representantes quer da área desportiva quer da área da arquitectura, assegurou o vice-presidente da câmara, Marcos Perestrello.
Foram vários os protestos que se levantaram quando, em 2006, o executivo camarário liderado por Carmona Rodrigues anunciou a demolição dos três equipamentos dos anos 60. A então presidente da Ordem dos Arquitectos e hoje vereadora, Helena Roseta, escreveu ao presidente da câmara chamando a atenção para a importância destas peças arquitectónicas. A piscina do Campo Grande foi desenhada por uma das grande figuras da arquitectura portuguesa, Keil do Amaral. Projectados por nomes menos sonantes - Alberto José Pessoa, no caso do Areeiro, e Aníbal Barros da Fonseca e Eduardo Paiva Lopes, no dos Olivais -, os outros dois equipamentos nem por isso deixam de suscitar admiração entre os arquitectos que defendem a preservação do património do séc. XX.
Já como vereadora, Roseta defendeu no Verão passado que a sua reabilitação respeitasse os projectos originais e ficasse pronta até ao final deste mandato. A sua proposta nunca seria discutida na reunião de câmara, uma vez que o executivo camarário tinha já um grupo de trabalho a estudar o assunto.
O actual executivo camarário não explicou ontem por que razão mantém a intenção de demolir a piscina do Areeiro, por sinal a única das três, segundo Helena Roseta, a constar do inventário municipal do património.A autarca quer que as outras duas sejam unidades igualmente integradas na lista.
Segundo o director do departamento do desporto, Mário Guimarães, será no Campo Grande que os cuidados com a preservação do património serão maiores: apenas está prevista a demolição de um chapinheiro, um tanque de pequenas dimensões.
Já nos Olivais as demolições serão apenas de interiores, mantendo-se os edifícios existentes. Não será permitida a construção de novos imóveis no recinto desportivo, assegurou este responsável. Do seu programa funcional mínimo faz parte a requalificação da piscina de 50 metros e do tanque de saltos, que poderão vir a ser cobertos por uma estrutura fixa ou telescópica. A recuperação da piscina infantil também está prevista. Quanto ao novo edifício planeado para o Areeiro, não parecerá, à vista desarmada, maior do que o existente, mas será parcialmente enterrado.

30 milhões de euros é quanto a CML estima como valor das empreitadas para a recuperação das três piscinas»

Nesta coisa das piscinas é preciso estar atento, não vá alguém enfiar uma amona a alguém. Demolir a piscina do Areeiro? Vamos à guerra.

2 comentários:

Filipe G. Ramos disse...

Devo dizer que a piscina do Areeiro, quando ainda funcionava, era um equipamento público lastimável.
Falta de condições, um espaço tanto que medíocre.
Demolir? Talvez não seja bom; muita população se servia daquele espaço. Mas certamente não é pelo valor arquitectónico que merece apreço; é um autêntico mamarracho, feio todos os dias, não há pintura possível que o consiga embelezar.
Conceder a licença a privados parece ser, neste país, a única solução para edifícios ao abandono.
É por isso que cada vez mais desejo daqui sair.

Anónimo disse...

Pois, Helena Roseta neste caso defende a salvaguarda das piscinas, certamente não classificáveis Património Mundial ... Mas na Baixa Pombalina, a primeiro plano iluminista de uma cidade na Europa, Roseta abandonou o movimento para a classificação junto da UNESCO, votou a favor da suspensão do PDM e aprovou uma série de projectos de adulteração de interiores (desde quando os interiores não não arquitectura?), coberturas (como os telhados de zinco e chaminés de Siza) e até fachadas, promovidas pelos especuladores imobiliários e seus arquitectos, que irão descaracterizar ainda mais a Zona Histórica. Ainda se lembram dos Talibans que destruíam estátuas de Buda ?