Rui Pedro Lérias, botânico e guia da visita, segura no projecto da CML
Guillaume Pazat/Kameraphoto 1/1 + fotogalería
por Alexandre Soares
In "i" Online (1/2/2010)
«Obras no jardim começaram sem pareceres. Árvores abatidas substituídas por espécies ilegais
Meia centena de árvores desapareceu no jardim do Príncipe Real. Assim, de repente, em apenas três dias de Novembro. Sabe-se depois que a obra começou sem aprovação escrita do IGESPAR e da Autoridade Florestal Nacional. O projecto prevê o abate de mais 13 árvores e a plantação de uma espécie proibida. Os moradores estão cansados. Ontem, o grupo Amigos do Príncipe Real reuniu mais de 60 pessoas para uma visita. Todas repetiam a intriga palaciana e um nome: José Sá Fernandes, vereador dos Espaços Verdes da CML.
No meio da pequena multidão, está Rui Pedro Lérias. Um céu de chumbo carrega a paisagem. O botânico começa a falar e estamos de repente ao século XVII: um milionário excêntrico quer construir um palácio, vai à falência e o espaço torna-se a lixeira do Bairro Alto. A terra treme em 1755 e instala-se ali um aquartelamento militar. Começa então o projecto da Tesouraria Central do Reino, mas, à falta de dinheiro, opta-se por uma basílica (há até uma missa da Patriarcal). Um incêndio destrói tudo. Só a construção do enorme reservatório de água - de que o lago é só o respiradouro - desfaz a maldição.
Em 1869 começa a nascer o jardim. Chegam espécies de todo o mundo. "O cedro do Buçaco mente duas vezes: é um cipreste e vem do México", ironiza o botânico sobre o nome de uma das árvores classificadas. "Estiveram todas em perigo quando uma máquina gigantesca, um monstro de várias toneladas, arrancou o pavimento", conta. Uma palmeira foi transplantada e morreu. O local foi logo calcetado. Nenhum vestígio. "São árvores muito grandes, ficam fracas dos joelhos, têm artrites, acabam por morrer e precisam de ser substituídas." Mas a espécie que o projecto prevê está proibida. "Que árvores classificadas teremos daqui a 50 anos?", questiona o botânico.
Os moradores dizem que "o jardim está transparente". "Está a transformar-se num terreiro, como o miradouro de S. Pedro de Alcântara." Rui Pedro explica que "as novas árvores vão precisar de pelo menos 20 anos para cumprir a função de protecção que as anteriores tinham". "Esta obra podia estar embargada", lembra Tiago Taron. "Podíamos ter interposto uma providência cautelar. Não o fizemos porque recebemos garantias do vereador José Sá Fernandes - nenhuma foi cumprida."
Rui Cordeiro, deputado do PSD na Assembleia Municipal, diz que o partido está do lado dos moradores. "Não vale a pena parar a obra quando as árvores já estão cortadas." Mas os preceitos legais terão de ser cumpridos e o desejo dos moradores de manter as restantes 13 árvores tem de ser respeitado. Caso contrário, ameaçam embargar a obra.
O grupo cresceu, são já mais de 60 pessoas. "Que podemos fazer?", perguntam. "Podem juntar-se ao Facebook, onde já somos 4519 membros", informa Taron. São também sugeridas queixas no IGESPAR, na autoridade florestal ou na Câmara. Garcia Pereira, ex-candidato presidencial, dá mais ideias. Uma folha circula, para recolher nomes e endereços de email que permitam combinar novas formas de luta. Todos assinam. É Lisboa a ganhar raízes numa folha de papel.»
8 comentários:
Sá Fernandes já o disse publicamente, gosta de jardins onde a luz possa entrar, talvez á moda de Paris. Esquece-se talvez que estamos em Lisboa e que no verão faz muito calor , que a sombra faz falta.A maioria dos jardins tem folha caduca o que já permite ter luz no Inverno mas que também permite ter a desejada sombra no Verão. Não tenho dúvida que no final o jardim vai ficar arranjadinho mas não era necessário tanta destruição.Mas muito, muito mais grave é o que se passsou e continua a passar no parque florestal de Monsanto. Perante tanta asneira o vereador devia demitir-se ou pelo menos demitir alguem. Era o mínimo.
muito romantico. mesmo apropriado ao espaço...
mas porque não embargar mesmo a obra para ficarmos sem jardim durante uns anos?
onde estava este grupo quando havia árvores proibidas no jardim? agora que uma árvora proibida vai ser substituida por outra igual é que levantam as armas?
Só uma pequena correcção: este artigo é do ionline, não do Público. Obrigado.
"Ontem, o grupo Amigos do Príncipe Real reuniu mais de 60 pessoas para uma visita. Todas repetiam a intriga palaciana e um nome: José Sá Fernandes, vereador dos Espaços Verdes da CML."
(...)
"Rui Cordeiro, deputado do PSD na Assembleia Municipal, diz que o partido está do lado dos moradores."
Bom, 75% de tanta agitação está explicada. "Intriga", "José Sá Fernandes" e... "PSD".
Vamos agora tratar de perceber o que se passará, mas para isso as visitas guiadas têm que ter gente especializada em projectos e obras e não apenas curiosos...
Bigalface, já se esperava tanta precipitação...a pedir a cabeça de alguém.
Peça a do Governo, foram eles que tomaram a decisão de suspender o PDM...
"O jardim está a tornar-se transparente", diz o biólogo Lérias. Na opinião do Professor botânico Fernando Catarino, ex-director do Jardim Botânico, o jardim precisa de mais luz, não deveria ter choupos. Acredito mais na sabedoria do Professor.
Mas afinal a intervenção fazia ou não fazia falta?
às tantas parece apenas algo pessoal contra o Zé...
Caro anónimo das 11,56,
foi o Governo sempre com o apoio do executivo da CML. Actuação essa que não permitiu que a própria CML pudesse colocar uma providencia cautelar para parar o processo, para que pelo menos , pudesse ser reavaliado.Este executivo tem enormes responsabilidades no que está a acontecer e não adianta agora, que como previsto,as coisas correm mal "sacudir a água do capote". Pedir a demissão é um exagero mas devem, sem duvida , ser exigidas responsabilidades.
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