10/05/2007

Ex-deputada desvinculou-se do PS e são quase nulas as possibilidades de uma coligação que também integre o PCP e o BE em Lisboa

In Público (10/5/2007)

«A presidente da Ordem dos Arquitectos, Helena Roseta, declarou ontem a sua disponibilidade para ser candidata independente à presidência da Câmara Municipal de Lisboa se, entretanto, nenhuma candidatura de esquerda que una o PS, o PCP e o BE surgir. O que é, neste momento, o cenário mais provável.
Face à situação de "impasse" e de "emergência", e perante o "cenário de degradação" que considera estar criado em Lisboa, Helena Roseta, que presidiu à Câmara de Cascais no início dos anos 80, deixou ontem de ser militante do PS, entregando o cartão na sede nacional dos socialistas, para se disponibilizar como eventual candidata da área de esquerda.
Esta decisão, segundo Helena Roseta explicou ao PÚBLICO, surge depois de, a 16 de Fevereiro, ter escrito ao primeiro-ministro e secretário-geral do PS, José Sócrates, a alertá-lo para o que considerava ser a gravidade da situação em Lisboa e a manifestar-lhe que aceitaria ser candidata pelo PS. Uma vez que até ontem não recebeu qualquer tipo de resposta, decidiu anunciar que poderá encabeçar um movimento abrangente, que denominou "Movimento de Cidadãos por Lisboa". "Estou disponível para ir à frente de uma lista de cidadãos. Irei constituir um movimento de cidadãos por Lisboa, aberto a múltiplas causas, e vamos começar a preparar-nos para ir a eleições", declarou Helena Roseta à Lusa, explicando: "Eu estou pronta para avançar, mas isso também vai depender do comportamento dos outros."
Para ela, uma candidatura independente mostraria que "os cidadãos têm uma palavra a dizer e estão fartos destes tacticismos partidários", faltando-lhe saber se conta ou não com os apoios de que precisa. "Sem resolver esta questão [da militância no PS] é que não podia pedir ajuda a ninguém, pois não seria sério e nestas coisas sou muito rigorosa", explicou. Contudo, para poder avançar como candidata independente, Roseta terá de recolher quatro mil assinaturas de lisboetas num prazo que não ultrapassa os 18 dias a partir do dia da convocação das eleições.
Recorde-se que a actual presidente da Ordem dos Arquitectos tem já uma experiência autárquica, pois era presidente da Câmara de Cascais quando o concelho foi devastado por cheias que destruíram boa parte das suas infra-estruturas. Como autarca, Roseta garantiu então que estas fossem reconstruídas em moldes modernos.
Ferro e Seguro de fora
O porta-voz do PS, Vitalino Canas, recusou-se a comentar o que entende ser uma "decisão pessoal" de Roseta e desvalorizou a sua candidatura. "O PS não faz qualquer comentário a essa demissão do partido", disse à agência Lusa ao mesmo tempo que defendia que o seu partido "é o mais pluralista de todos", havendo "ampla liberdade de opinião e candidaturas livres a todos os órgãos do partido".
Mas, ao que o PÚBLICO apurou, o PS debate-se nesta altura com a dificuldade de encontrar um nome forte para Lisboa. António José Seguro, um dos nomes sobre que mais se especulou, mostra-se indisponível, mas a maior contrariedade enfrentada por José Sócrates terá sido a recusa de Ferro Rodrigues, a figura em que mais apostava para reconquistar a câmara da capital (ver caixa).
Sem Ferro, cuja personalidade poderia catalisar uma convergência à esquerda, e com João Soares de visita à Arménia, o líder socialista não pode contar com ninguém que, com alguma facilidade e rapidez, seja o candidato capaz de impedir o avanço de Helena Roseta. De resto, seria sempre muito difícil conseguir, neste momento, uma convergência à esquerda.
O sentimento dominante no PCP, que seria sempre um esteio da coligação e preside a várias freguesias em Lisboa, é que uma coligação com o PS em Lisboa dificilmente seria compatível com a estratégia de crescendo de contestação às políticas do Governo. Com a pré-campanha já em marcha, lembraram ao PÚBLICO dirigentes do PCP, os mesmos protagonistas estariam um dia ao lado do partido do Governo e no outro dia a organizar a greve geral marcada para 30 de Maio. Para além disso, o PCP tem muito más relações com as estruturas locais de Lisboa do PS.
Atrair o Bloco a uma mesma lista afigura-se igualmente difícil depois de José Sá Fernandes, um independente, se ter posicionado com a força que é publicamente reconhecida. Uma lista própria de um BE alternativa a uma coligação PS-PCP também seria um cenário inaceitável por este último partido

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma politica, com ou sem cartão, os amigos mantêm-se, o passado mantêm-se e não é de politicos que a cidade precisa.