06/09/2007

As casas centenárias que deixam o Rossio

In Diário de Notícias (6/9/2007)
KÁTIA CATULO

«Termina hoje o prazo para o Grémio Lisbonense deixar as instalações que ocupa há 165 anos na Praça D. Pedro IV, em Lisboa. O tribunal emitiu uma ordem de despejo, mas os sócios ainda alimentam a esperança de não serem expulsos da associação fundada em 1842. "Contamos com o apoio da câmara municipal para considerar a nossa casa como uma instituição de utilidade pública e impedir a acção judicial", explicou Natário Pedro, vice- -presidente da colectividade mais antiga do País.

O Grémio Lisbonense não é a única casa centenária a deixar o Rossio. A Loja das Meias esteve de portas abertas durante 112 anos, mas vai fechá-las definitivamente amanhã. "A Baixa está desertificada e os nossos clientes já não são os que frequentam esta zona da cidade", justificou Pedro António Costa, neto do fundador da casa de artigos de luxo.

Calcular quantas lojas terão encerrado na principal praça de Lisboa é um exercício que só poderá ser feito pelos lisboetas mais velhos. Mas, nem Orlando Marques consegue lembrar-se, por exemplo, dos Armazéns do Rossio. A casa, fundada em 1870, ocupou o número 78 da Praça D. Pedro IV até ao início da década de 70, mas foi substituída pela loja de pronto-a-vestir Shop One. E se o pensionista de 72 anos já não se recorda do estabelecimento que durante um século vendeu atoalhados, cortinados e tecidos é porque a memória deste espaço perdeu-se no tempo: "Uma casa ou uma pessoa só morre quando é esquecida por todos", alerta o sapateiro reformado.

Há no entanto outras recordações que ficaram. Basta entrar na Tabacaria Mónaco para iniciar uma viagem no tempo. A casa está a funcionar desde 1870 no Rossio e ainda guarda vestígios dessa época. Escondida entre papéis, esferográficas e maços de cigarros está a bica que jorrou água vinda de Sintra, Caneças e Moura até à década de 40 do século passado. "A água era servida aos nossos clientes à caneca e foi muito útil enquanto não existiram canalizações", conta Tomé Repas, funcionário da tabacaria desde 1960. (...)»

A propósito da ordem de despejo ao Grémio Lisbonense, curioso é ler a posição do novo Presidente da CML: «acate-se as decisões dos tribunais» (sic). Mas que tem uma coisa a ver com a outra? A CML existe para quê?

A CML - não esta, mas a anterior - devia ter acompanhado todo este processo. Andou (andaram) a falar da «Baixa-Chiado» durane meses a fio e medidas concretas, ZERO.

Não se pode estar a falar de vitalização, repovoação da Baixa, etc. e, depois, à primeira oportunidade que têm de intervir em concreto, preservando uma instituição crucial na fixação da população residente na Baixa, a CML não faz nada. A CMl devia ter mediado este caso desde o início. Aliás, nem devia ter dado autorização às tais obras que desvirtuaram o edifício e que permitiram a interposição da acção de despejo.

E agora? Agora, a CML ainda pode mediar. Sejam quais forem as decisões dos tribunais. O Grémio é necessário, e pode ser um factor dinamizador da zona, se devidamente acarinhado, incentivado e protegido. Têm que fazer muitos melhoramentos e chegar a mais gente, inclusive.

Alinhar no plano do proprietário em fazer dali mais um daqueles hotéis mixurucas da zona, não!, obrigado. A CML deve agir. Vamos a ver, estou curioso.

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