Manuel Salgado não diz
se os proprietários do imóvel estão a desrespeitar as condições postas pelo
município para autorizar um hotel no edifício
Por José António Cerejo, Público de 21 Fev 2014
O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado,
confirmou à Lusa que o projecto aprovado para o edifício da Ginjinha Sem Rival
não contempla qualquer obra no espaço em que o icónico estabelecimento funciona
há 120 anos.
A
realização de “obras profundas”, que implicam a desocupação daquele pequeno espaço das Rua das Portas de Santo
Antão, foi, porém, o motivo usado pelos proprietários do imóvel para
denunciar o contrato de arrendamento e exigir o fecho da loja até 1 de Julho.
O que Manuel Salgado não esclareceu foi a questão que o PÚBLICO
lhe pôs por escrito na quarta-feira e que, até agora, não teve qualquer
resposta. E a questão é a seguinte: tendo a criação de um hotel de apartamentos
nos andares superiores do imóvel sido autorizada com a condição de ser mantida
“a ocupação e função” da licoraria Sem Rival, a câmara revogará essa
autorização, caso os donos do prédio imponham o fecho da Ginginha através da
denúncia do contrato de arrendamento?
O vereador nada disse, pelo que se mantém a dúvida sobre se a
câmara consentirá o encerramento da casa, apesar de Salgado ter manifestado a
Nuno Gonçalves, gerente da loja e bisneto do fundador, a sua “preocupação” face
à denúncia do contrato.
Nuno Gonçalves admite que a estratégia dos proprietários possa
passar pelo despejo da Sem Rival e pela abertura de um bar que venda bebidas
semelhantes, mas garante que, se for despejado “não ficará nem um parafuso de
uma casa que é património de uma família e representa o seu investimento do
longo de quatro gerações”.
O empresário diz, contudo, que vai contestar judicialmente o
despejo, uma vez que, não tendo a câmara autorizado obras nos 10 m2 da loja,
não existe qualquer fundamento legal para a denúncia do contrato. Além disso
vai lançar uma petição na internet e promover outras iniciativas destinadas a
garantir a continuidade do estabelecimento no mesmo local.
Nuno Gonçalves entende que a actual lei do arrendamento tem de
ser revista porque “está a pôr em causa muitas outras lojas icónicas e
emblemáticas de toda a cidade”. Para contrariar esta situação, diz que vai
criar um movimento em defesa do comércio tradicional da Baixa. “Lisboa precisa
de manter esta pluralidade de comércio, porque senão é uma cidade morta”,
afirma.
Em Novembro do ano passado, os vereadores PCP na Câmara de
Lisboa apresentaram uma proposta de recomendação ao executivo municipal no
sentido de que a apreciação dos projectos de obras que pudessem servir de
pretexto ao despejo dos inquilinos tivesse em conta a situação destes. A
proposta teve os votos favoráveis do PCP, PSD e CDS e a abstenção de dois vereadores
independentes, mas foi chumbada pelo PS.
3 comentários:
"criar um movimento em defesa do comércio tradicional da Baixa."
Uma prioridade para a cidade !
boa sorte com o movimento! o comércio chamado tradicional não precisa de movimentos mas sim de clientes.
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