Como em qualquer cidade, Lisboa também tem as suas Referências. Fazem parte tanto da cidade como dos seus habitantes ou daqueles que apenas gostam dela. Podemos mencionar o Parque Mayer, o Cinema São Jorge, a Feira Popular, a Baixa, entre outros. Estas referências ajudam a criar um sentimento de pertença, a criar expressões “nossas” como “ir à Baixa”, ou “ir à Feira”. Geração após geração, estas referências passam a ser de todos. Quero destacar o exemplo da Feira Popular.
Praticamente não há Lisboeta que não fosse pelo menos uma vez por ano “à Feira”. Fosse para os filhos brincarem nos Carroseis, fosse apenas para comer uma fartura e beber um “Kappe”, o “ir à Feira” estava institucionalizado na nossa mente. E é destas referências que a cidade vive e se mantém viva, para além de criar um elo com os seus cidadãos. Há pouco tempo, os políticos decidiram acabar com a Feira. Acabar neste local e fazer num outro. No local actual é mais útil construir uns prédios com habitação, comércio e escritórios, coisa de que a cidade carece segundo os entendidos (???). Acabou-se com a Feira, estão a resolver umas chatices criadas por alguns cidadãos e políticos da oposição, mas mais tarde ou mais cedo lá estarão os tais edifícios que muito fazem falta à nossa cidade debilitada de tais equipamentos. Basta ver os relatórios das Consultoras (???) Internacionais.
A nova Feira que irá ser construída algures, fica para depois. Como vivemos numa sociedade que não reclama, não há pressão para resolver o assunto. O que mais me impressiona são os comerciantes que tinham os seus negócios na Feira, calados, como se não tivessem investido o seu dinheiro num negócio que já não existe. Acho também preocupante vivermos numa democracia “da cruz” Como muito bem disse a Ministra da Cultura, somos uns analfabetos, pois tal como as pessoas que não sabem escrever assinam com uma cruz, também os portugueses exercem a sua democracia colocando uma cruz num papel de 4 em 4 anos. Como é possível um Presidente de Câmara ter a “lata” de acabar com uma das referências da cidade, sem consultar os cidadãos. Estava em algum programa eleitoral? Julgo que não. Os actuais políticos, aproveitam a “democracia da cruz” como forma de legitimar tudo. Não cumprem programas eleitorais, fazem o que lhes apetece sem questionar os cidadãos, acabam com referências da cidade apenas porque foram eleitos, entre outros. Com isto vamos perdendo as nossas referências sem que outras surjam É uma forma de ir “matando” a cidade.
Carlos Leite de Sousa
21/05/2007
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4 comentários:
Hoje, os escritórios da grande Lisboa deslocam-se para áreas bem servidas de transportes, acessos, e envolventes capazes de suportar crescimento das empresas, como sejam o Parque das Nações ou o corredor Oeste (Oeiras/Cascais).
Assistimos ultimamente à transformação de edifícios de escritórios em habitação, nas avenidas novas, o que demonstra a decadência do local para a instalação de empresas.
Numa altura em que Lisboa é excedentária em escritórios e que estes se eslocam para a periferia, irá entregar-se o quarteirão da feira porpular a....escritórios... quando o que na zona faz falta é habitação e espaços verdes.
Agora, só espero que a feira porpular não seja instalada num espaço verde da capital.
Tendo em conta a falta dos mesmos em Lisboa e que, ainda assim, eles sejam retalhados com construção ou esmagados por acontecimentos festivos periódicos (Bela Vista ou Monsanto), já nada me surpreende.
Quem manda no país é, definitivamente, o lobby da construção.
Neste momento não há escassez nem de escritórios nem de habitação. E em qualquer zona da cidade se pode comprovar facilmente isso. O que há é falta de escritórios adequados às necessidades do tecido empresarial português, mas isso deve-se ao facto de os promotores terem seguido os conselhos de quem não conhece a realidade portuguesa. A conclusão é a cidade ter em excesso espaços para escritório com áreas enormes, quando a maioria procura espaços pequenos.
Mais grave é o projecto urbano proposto.
Estou convicto de que as cidades devem ser densas. As áreas verdes são parques e jardins e não resticios de um desenho urbano formal e esclusivamente rendido aos fluxos de trafego.
A cidade não pode segregar a sua população, e provocar uma divisão de classes como se tem vindo a fazer, deve ser proporcinado a habitação para todas as bolsas, o comercio deve ser à superfície ao longo do passeio por questões ambientais e por motivos de segurança, (neste caso em particular a zona comercial não se compreende porque esta enterrada de forma a viabilizar os corredores de metro e estação de entrecampos).
Deve ser promovida o desenvolvimento da malha urbana de Ressano Garcia, e tal como em Barcelona (com a malha de Cerdá) reequacionar o interior dos seus quarteirões. Valorizar as exposições solares e desenvolver jardins nas zonas voltadas a norte.
A marginalidade da Feira Popular obrigava a uma reestruturação da zona, a Feira Popular é uma equipamento importante das cidades, deveria e poderia ficar localizado em zonas como por exemplo, na frente rio em Xabregas/Beato pois poderá servir como catalizador da zona, intermédia entre a cidade histórica e o parque das nações, e desta forma enquadrar o impacto da necessária 3ª Travessia do Tejo.
A Ordem dos Arquitectos promoveu uma trienal, vamos ter a oportunidade de verificar se as ideias para os vazios urbanos são preenchidos com ideias sustentáveis para a Cidade de Lisboa ou se reflectem mais experiências formais desnecessárias como no passado.
Concordo completamente com CLS e complemento: Foi pena o PS e o BE terem-se abstido na Assembleia Municipal. Poderiam ter travado a permuta de terrenos com a Bragaparques que acabou definitivamente com a Feira Popular, até porque o PSD não tinha, nesse órgão, maioria absoluta.
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