17/05/2007

De que precisa Lisboa

In Público (17/5/2007)
Rui Tavares

«Um debate nacional - Só há uma forma de todos os portugueses aturarem tanta conversa sobre Lisboa. É fazer, a propósito de Lisboa, um debate sobre cidades, qualidade de vida e democracia que interessa ao resto do país.

Pensar local - Modelos há muitos, de Barcelona a São Francisco e de Curitiba a Edimburgo.Um debate nacional - Só há uma forma de todos os portugueses aturarem tanta conversa sobre Lisboa. É fazer, a propósito de Lisboa, um debate sobre cidades, qualidade de vida e democracia que interessa ao resto do país.

Pensar local - Modelos há muitos, de Barcelona a São Francisco e de Curitiba a Edimburgo. Mas Lisboa deve abandonar o vício da imitação e pensar, desde logo, na sua relação com Almada, Cascais, Sintra.

Agir global - No raio de 600 quilómetros fala-se três línguas (português, castelhano, árabe) que juntas perfazem mais de 800 milhões de falantes. Com o inglês global e algum francês que resta, é tudo o que precisamos para lidar com três continentes. Junte-se a imigração, a emigração, a história e a geografia. Faça-se tudo o que isto permite.

Uma esquerda consequente - Ana Sara Brito, braço-direito de António Costa no PS, disse ontem defender "o diálogo à esquerda". O PCP já disse estar aberto a coligações e já disse que propô-las é "demagógico". Sá Fernandes disponibilizou-se para a "convergência de esforços". Helena Roseta foi a primeira a pedir união na esquerda. Durante anos, os partidos têm-nos maravilhado com as desculpas que inventam para que nada disto aconteça. Serão os independentes mais criativos?

Menos quartéis - Há por todo o lado quartéis inúteis e quase vazios. Alguns são monumentos nacionais, como o da Graça, uma velha bandeira de Sá Fernandes. Em geral, têm uma parada e edifícios amplos. Na parada faz-se um parque de estacionamento num mês, ou, melhor ainda, um parque de estacionamento subterrâneo e um jardim público num ano. Os edifícios servem para colmeia de empresas tecnológicas, centros de dia, ateliers, espaço para colectividades.

Estacionamento disciplinado - O estacionamento deve ser disciplinado em zonas onde há parques e estão vazios. Mas há bairros que não têm alternativas realistas de estacionamento legal. Para esses deve haver um investimento razoável em parques e silos. Quem paga? Eu, que ando de carro.

Domar o transporte privado - Eu poluo, eu engarrafo, eu incomodo os outros. Estou disposto a pagar caro, de uma vez só, todos os anos, por ter um carro no centro de Lisboa. E para onde deve ir esse dinheiro?

Mais eléctricos - É absurdo: Lisboa não manda nos seus transportes públicos. Há cem anos, era uma cidade inventiva: só elevadores e funiculares fizeram-se pelo menos cinco em poucos anos (sobram três). Os eléctricos sobrevivem, e não é por acaso. O eléctrico é de novo o transporte do futuro; cidades como Nantes reinventaram-se em torno dele. Com a topografia de Lisboa, chega mais barato onde o metro ainda não chegou.

Mercados na rua - Megalópoles como São Paulo ou Nova Iorque têm mercados semanais ao ar livre - são práticos, agradáveis e higiénicos. Lisboa não tem. São um elemento de ligação com o campo e um pólo de vida comunitária. Acima de tudo, dão jeito (ideia de Fernanda Câncio em http://5dias.net/).

Uma universidade municipal - Modesta. Onde se estuda transportes, habitação, migrações - aplicados à cidade. À qual se pede que resolva problemas, faça concursos de ideias, conduza estudos. Onde há um curso de olisipografia, isto é, a disciplina dedicada ao estudo de Lisboa. Onde há cursos de língua, arte e divulgação científica, a preços módicos, para a população em geral.

Uma solução para a Praça do Comércio - Que fica reservada para um texto maior.

Mais ideias? Comente em
http://ruitavares.weblog.com.pt

2 comentários:

Anónimo disse...

Embora seja algo pequeno, o mercado de produtos biológicos no Principe Real, ao Sábado, tem bastante afluência. É um exemplo que podia ser copiado para outros bairros, nomeadamente Graça, Alvalade, Campo Ourique.

Anónimo disse...

Caríssimo Rui Tavares

Quem fala assim não é gago!
Subscrevo na íntegra.