In Diário de Notícias (17/5/2007)
A PROCISSÃO DE LISBOA
Pedro Lomba
jurista
pedro_lomba@netcabo.pt
«Portugal é Lisboa ou tornou-se definitivamente Lisboa, imagino que com certa intriga e estupefacção do resto do País. As eleições intercalares para a câmara municipal são agora o grande acontecimento da política portuguesa. Tudo o mais passou para plano secundário. Talvez seja o nosso gosto pela insídia porque, se não me engano, se houver mesmo Helena Roseta contra o PS e Carmona Rodrigues contra o PSD, estas eleições em Lisboa prometem algum fervor e espectáculo. Podemos já sentar-nos, tirar as meias e assistir à procissão que se avizinha.
É verdade que as eleições intercalares em Lisboa vão ser um teste importante para os partidos. O alvoroço com que todos se puseram em busca de candidatos compreende-se. Ninguém pode falhar. A começar o próprio Governo e José Sócrates. Depois de três derrotas seguidas, Sócrates sabe que precisa de vencer em Lisboa. Não é que, desde que começou a agonia da câmara, o cenário de eleições antecipadas entusiasmasse muito o PS, mais interessado em evitar qualquer punição desnecessária do Governo. Mas, face à fatalidade das eleições, Sócrates ficou sem outro caminho que não fosse vestir o fato de secretário-geral. O zelo que ele empenhou nestas eleições fê-lo escolher António Costa, não hesitando em prescindir de um nome essencial do Governo para conquistar a câmara (para substituir Costa, Sócrates resolve recrutar Rui Pereira no Tribunal Constitucional e, diga-se, isto de passar do Constitucional para o Governo não me parece bem). O maior problema de Sócrates é, evidentemente, a pré- -candidatura de Helena Roseta. Como se viu nas eleições presidenciais com Alegre, há muito voto anti-sistema e antipartidos para amealhar. Lisboa está cansada dos partidos. E a esquerda anda dispersa, dividida entre o Bloco, o PCP e o PS, entre o idealismo dos seus valores tradicionais e o pragmatismo do poder e, sobretudo, incapaz de se agrupar à volta de um objecto político não identificado como José Sócrates. Agora que deu o primeiro passo, Helena Roseta está obrigada a avançar. O PS, que já começou a pedir a sua desistência, vai ter de lhe oferecer uma coligação.
No PSD, Marques Mendes tinha o óbvio problema da escolha do candidato. Mas no PSD de hoje só existem não-candidatos, gente que não está disponível, que não quer maçadas ou que espera a sua altura. Fernando Negrão é visivelmente uma escolha secundária e um sinal do crescente isolamento de Marques Mendes. Perante isto, Marques Mendes podia ter arriscado e decidido ele próprio candidatar-se. Seria um suicídio? Talvez. Mas não se faz política sem impulsos suicidas. Ganhar tudo é poder perder tudo. E Mendes precisa de adquirir autoridade em confronto directo com José Sócrates. Mas já há muito se percebeu que a política de Marques Mendes é esperar que a economia derrape em 2009 para enfrentar um PS e um primeiro-ministro enfraquecidos.| »
17/05/2007
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