09/05/2008

Autarquia vai tentar reeducar hábitos de 1800 funcionários

In Público (9/5/2008)
Ana Henriques

«Reduzir consumos, na água e na electricidade, viajar à boleia ou trabalhar mais perto de casa fazem parte da nova estratégia de Lisboa

A entrada da Câmara de Lisboa na batalha pela poupança de energia vai começar dentro da própria autarquia. E se os 1800 funcionários que trabalham no edifício municipal do Campo Grande partilhassem boleias entre casa e o emprego? E se não almoçassem todos à mesma hora, de modo a reduzir as exigências térmicas do restaurante do edifício?
Os responsáveis do município assinaram ontem um protocolo com várias entidades que visa desenvolver em Lisboa projectos-piloto inovadores na área da eficiência energética e da poupança de recursos. A Cisco Systems, multinacional pioneira nas novas tecnologias, é o parceiro de luxo deste projecto, que também está a ser desenvolvido em várias outras cidades do mundo (ver caixa). Um "desastre" em termos de poupança de energia, nas palavras do especialista Delgado Domingos, o edifício municipal do Campo Grande vai ser o palco principal da experiência, que passa também por alterações na frota municipal - quer nos veículos pesados, quer nos ligeiros -, na iluminação pública e nos semáforos que regulam o trânsito da cidade.
Responsável pela agência municipal de energia e ambiente que vai coordenar todo o trabalho (E-Nova), Delgado Domingos explicou que o consumo de água per capita na cidade de Lisboa é 70 por cento superior à média do país e 34 por cento superior à média europeia. E que a utilização de água reciclada (proveniente das estações de tratamento de águas residuais) nas regas de espaços verdes, por exemplo, ainda quase não existe. Para dar o exemplo, a câmara poderá instalar redutores de fluxo nos autoclismos e torneiras do edifício do Campo Grande. "Os autoclismos são dos sítios em que mais água se gasta", observa o especialista, garantindo que a medida não se destina a reduzir os níveis de higiene.
Delgado Domingos admite que se trata de levar a cabo uma mudança de mentalidades que as pessoas se podem recusar simplesmente a fazer. "Mas vão ter a oportunidade de participar numa experiência única, e vão poder dar sugestões de poupança energética", realça. Antes que algo mude ainda vai ser preciso estudar o comportamento do prédio do Campo Grande ao nível de parâmetros como a temperatura ou a humidade do ar. através de um modelo matemático. Depois disso será altura de agir. Para reduzir ao máximo a utilização do ar condicionado pode ser necessário abrir janelas que estavam fechadas ou derrubar paredes. Mas também usar as previsões meteorológicas para programar antecipadamente o sistema de ventilação.
Pôr Lisboa em Sintra
E se de repente surgisse em Sintra um pólo da Câmara de Lisboa? É mais uma vez o presidente da E-Nova quem põe a hipótese, aparentemente absurda, em cima da mesa. "Imaginemos que 500 dos 1800 funcionários moram ali. Em vez de se deslocarem pode ser criado em Sintra uma sala que reproduza fielmente o seu local de trabalho". É aqui que entra em cena a Cisco Systems, que pode desenvolver um sistema de videoconferência entre o pólo e os serviços centrais - com uma videowall capaz de enganar os mais distraídos. No caso da partilha de boleias entre casa e o emprego, o truque pode passar por um sistema tipo Messenger especialmente concebido para este fim.
A nível global, a meta da estratégia energético-ambiental para Lisboa é atingir uma poupança da ordem dos 6,4 por cento em 2013 - dos quais 3.8 por cento passam pela redução de energia nos transportes, 1,7 no sector residencial e 0,9 nos serviços. O presidente da EDP, que também é parceira do projecto, mostrou-se confiante nos seus resultados. "Vamos ficar na linha da frente a nível mundial", declarou António Mexia.
6,4%
é esta a meta, até 2013, para a poupança ambicionada pela estratégia ambiental da Câmara de Lisboa
6,4%
é esta a meta, até 2013, para a poupança ambicionada pela estratégia ambiental da Câmara de Lisboa»

6 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Eu que pensava que a "linha da frente" se media pelo crescimento, e não pela escassez e contenção.

Rapar frio no inverno é que é progresso. Se ser amigo do ambiente é isso, prefiro não ter amigos.

Anónimo disse...

Isto cheira a esturo...uma espreitadela no site da Cisco Systems, e...nada, fazem tudo e não fazem nada...quem estará por detrás disto?

Anónimo disse...

"prefiro não ter amigos."
Dadas as tuas iluminadas ideias parece-me que já tens o que queres...Em criança ao dormires devem te têr colocado uns auscultadores nos ouvidos com cassetes das teorias de Friedman...A escassez existe e é real, só os seres vivos com 4 patas é que não se apercebem disso!!!Deves esconder as outras duas bem escondidas :)

Filipe Melo Sousa disse...

A escassez existe e é real

não estou interessado, obrigado, pode ficar para si :)

Anónimo disse...

Sou funcionario da camara, quando vou mijar procuro sempre fazer sentado. Pois do ponto de vista da economia, sempre descanso um pouco, e como sou dado á leitura, sempre lei a Bola ou o Recorde, nao fazendo portanto nas horas de espediente. Interrogo-me agora se serei preguiçoso? E se por acaso nao deveria faze-lo de pé. Como vejo mal, acabo por fazer fora da pia, e portanto acabo por prejudicar as limpezas tal a acidez, pois têm que esfregar com mais força.
Pensei, e de tanto pensar, realmente verifico que se enviar o fax e mijar na camâra economiso na minha factura da agua da minha residensia, descanso na hora do expediente, e não preciso de me preocupar com os cheiros.
Voltei para casa contente o programa do governo de reeducar este zeloso funcionario funciona.
Poupei na agua, poupei no papel (porque sou muito aciado necessito de umas belas resmas de papel), e ainda descansei. A bom da verdade também pagam mal não é.

Anónimo disse...

Delgado Domingos é um dos nossos maiores especialistas,mas não lhe queria estar na pele,pois quanto a mudar mentalidades,a resposta está aqui neste último comentário...


10-5-08 Lobo Villa